Em ano eleitoral, debate sobre segurança da urna eletrônica ganha força
Por Francisco Gomes Júnior - advogado especialista em direito digital e crimes cibernéticos
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Estamos em ano eleitoral e, novamente,
diante da polêmica quanto à segurança das urnas eletrônicas. Por isso, é
fundamental conhecer seus componentes, seu funcionamento e um pouco de sua
história.
Vale ressaltar que este texto não tem
caráter político e não pretende defender nenhum posicionamento. O objetivo é
tão somente o de informar e explicar aspectos técnicos de um aparelho
eletrônico.
A urna eletrônica foi desenvolvida em
1996 pelas empresas Unisys, Ominitech e Microbase. Foram utilizadas, pela
primeira vez, nas eleições de 1997 e de lá para cá foi alvo de questionamentos
e elogios. Em 2009, em uma reforma eleitoral, foi promulgada pela Presidência
da República a Lei nº 12.034/2009 que previa que a partir de 2014 a votação se
daria pela urna eletrônica, porém com a impressão do voto. No entanto, em 2011,
o Congresso Nacional derrubou tal lei e, desde então, não mais se aprovou
ter-se uma impressora acoplada à urna eletrônica.
Mas, afinal, o que é a urna eletrônica?
É um microcomputador DRE (direct recording eletronic) com memória flash, módulo
impressor de zerézima (boletim emitido antes da votação que compra que a urna
está vazia) e de boletim de urna (emitido após a votação). É uma forma de
votação digital que se opõe a métodos “analógicos” como o voto em papel.
No ano passado, foi apresentada e votada
uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que previa a impressão do voto em
urna apartada a partir das eleições deste ano. A proposta foi rejeitada e
arquivada, podendo ser apresentada novamente somente na próxima legislatura.
Portanto, neste ano, as eleições serão realizadas como nas últimas décadas, com
a urna eletrônica sem impressora de votos e com questionamentos quanto à sua
segurança por alguns setores da sociedade. A urna é composta de uma placa mãe
com duas memórias (uma fixa e outra removível) com um hardware de segurança que
gerencia a criptografia e as assinaturas digitais, o que garante que somente
softwares do TSE rodem nela. A memória de resultados registra os votos e
permite que sejam depositados em um pen drive, mas também há a memória flash
que garante a redundância dos dados caso a memória principal seja danificada. A
urna é segura e não há notícia até hoje de que tentativas de invasão tenham
sido bem-sucedidas.
De fato, o TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) divulgou que foi finalizado, no dia 13 de maio, o Teste Público de
Segurança do Sistema Eletrônico de Votação (TPS). Foram realizados inúmeros
ataques às urnas e não houve êxito que comprometesse a violação da integridade
ou o sigilo dos votos em uma eleição. Participaram do teste 26 investigadores
cibernéticos, todos especialistas em Tecnologia e Segurança da Informação.
O estudo da segurança das urnas é um
tema técnico e não opinativo. Opiniões são proferidas em ambiente político, mas
não se confundem com a questão técnica. Se são realizados testes de verificação
de comportamento do parâmetro de urna (criptografia), de keylogger não
intrusivo, de extração de dados e configurações de JE Connect, se segurança do
Firefox entre outros, não se pode desconsiderar os resultados.
Até hoje não há ataque bem-sucedido
contra a urnas eletrônicas. Já houve invasão ao site do TSE, o que pode ocorrer
a qualquer site conectado à internet, o que não é o caso das urnas. De qualquer
forma, como todos queremos eleições sempre transparentes e seguras, o debate
sério sempre deve ser estimulado e oportunidades de melhorias implementadas,
assim a democracia se fortalece.
Francisco Gomes Júnior - Sócio da OGF Advogados. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor do livro Justiça Sem Limites. Instagram: https://www.instagram.com/franciscogomesadv/
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