Ser mãe é padecer... de cansaço?
Por Paula Dione, Psiquiatra na Holiste Psiquiatria
Há um ditado que afirma
que “ser mãe é padecer no paraíso”, remetendo às contraditórias emoções que
seriam desencadeadas pelas vivências cotidianas da maternidade. Muito se falou
e se fala sobre os mitos e fantasias ligados a essa experiência, e atualmente
percebe-se um certo enfoque sobre algumas queixas frequentes entre mães, mais especificamente
o cansaço. Chega-se ao ponto de cunhar o termo “mommy burnout”, algo como
“esgotamento da mamãe”.
A queixa de cansaço
certamente não é exclusividade da parcela maternal da população; no livro A sociedade do cansaço, o
filósofo sul-coreano Byung-Chul Han argumenta que a lógica de produção e
exigência constantes estaria levando as pessoas aos adoecimentos
contemporâneos, ligados a hiperatividade e esgotamento. Em relação ao burnout
parental, a prevalência pode chegar a 20%, segundo artigo publicado este ano.
Curiosamente, um estudo verificou que mães de um único filho podem apresentar
mais sintomas de esgotamento que mães que possuem dois filhos ou mais, a
depender da sua percepção de autoeficácia, muito ligada também ao padrão de
cobranças externas.
Fato é que, depois que
os filhos nascem, estar cansada adquire outros significados. Em texto de 2019,
Monica Pessanha recorda que a noite perdida por opção em uma festa passa a ser
a noite perdida em função do choro de uma criança necessitada; a sensação de
autonomia ou falta dela que ocorrerá no processo irá influenciar
indubitavelmente nossa relação com o cansaço. Afinal, o que pode ser mais
exaustivo do que sempre colocar as necessidades de outra pessoa acima das suas?
Com as mudanças nos padrões de relacionamento interpessoal, a sociedade vem refletindo sobre os estigmas colocados sobre a mulher e a maternidade. Nesse processo, participam de maneira incontestável os profissionais da saúde mental, tanto nas terapias individuais quanto nas discussões coletivas, oferecendo escuta, suporte, oportunidade de mudança de comportamento e alívio.
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