CCBB BH recebe a exposição "Brasilidade Pós-Modernismo" com obras inéditas e trabalhos emblemáticos de 51 artistas brasileiros
Com curadoria de Tereza de Arruda, a exposição
‘Brasilidade Pós-Modernismo’ lança luz às conquistas e marcos que a Semana de
22 trouxe à arte contemporânea,
e reúne obras inéditas e trabalhos emblemáticos de 51
artistas brasileiros
Voluta
e Cercadura, 2013, Adriana Varejão | Foto: Jaime Acioli
Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de
1922 e lançar luz aos traços, remanescências e conquistas que o movimento
trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil e
refletir, a partir da atualidade, sobre um processo de rever e reparar este
contexto. Este é o objetivo de Brasilidade Pós-Modernismo, mostra
que já passou com sucesso por outras três capitais e fecha sua temporada, entre
29 de junho e 19 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil
Belo Horizonte. Com patrocínio do Banco do Brasil e BB DTVM,
realização por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a exposição esteve
no CCBB Brasília, CCBB Rio e CCBB SP.
Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra aborda as
diversas características da arte contemporânea brasileira cuja existência se
deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo
Modernismo. Nuances que o público poderá conferir nas obras dos 51 artistas de
diversas gerações que compõem o corpo da exposição, dentre os quais Adriana
Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie,
Ernesto Neto, Ge Viana, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.
“Esta exposição não é idealizada com o olhar
histórico, mas sim focada na atualidade, com obras produzidas a partir de
meados da década de 1960 até o dia de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já
com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”, explica Tereza de Arruda. “Não é uma mostra
elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi
a Semana de Arte Moderna de 1922, para uma discussão inovadora a atender a
demanda de nosso tempo, conscientes do percurso futuro e guiados por
protagonistas criadores”, completa a curadora.
Organizada em seis núcleos temáticos: Liberdade;
Futuro; Identidade; Natureza; Estética e Poesia, a mostra apresenta pinturas,
fotografias, desenhos, esculturas, instalações e novas mídias. Segundo Tereza
de Arruda, por meio deste conjunto plural de obras, “a Brasilidade se mostra
diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita,
folclórica e urbana".
Para aproximar ainda mais o público da Semana de 22, serão
desenvolvidas, ao longo do período expositivo, diversas atividades gratuitas no
Espaço de Convivência do Programa CCBB Educativo. Um webapp também será
disponibilizado por QR code, com um conjunto compreensivo de conteúdos da
mostra, garantindo a acessibilidade de todos, que pode ser acessado pelo link
https://qrcode.umpratodos.com.br/projetos/brasilidadeccbb/ .
LIBERDADE
Abrindo a exposição, o núcleo Liberdade reflete
sobre as inquietações e questionamentos remanescentes do colonialismo
brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequências e legado
histórico. São fatores decisivos para a formação das características do
contexto sociopolítico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrentes em
grande parcela da produção cultural brasileira.
Em 1922, os modernistas buscavam a ruptura dos padrões
eurocentristas na cultura brasileira e hoje, os contemporâneos que integram
esse núcleo – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino,
Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros – buscam a revisão da
história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizando a
diversidade, a visibilidade e inclusão.
FUTURO
Brasília tem um lugar de destaque nesse núcleo da
exposição. O grupo da vanguarda modernista brasileiro buscava o novo, o
inovador, desconhecido, de ordem construtiva e não destrutiva. E um
exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia
utópica e considerada um dos maiores êxitos do Modernismo do Brasil. "Sua
concepção, idealização e realização são uma das provas maiores da concretização
de uma ideia futurista", comenta Tereza de Arruda.
Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista,
este núcleo reúne gravuras e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa
e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier, e registros captados pelo
fotógrafo Joaquim Paiva e pelo cineasta Jorge Bodanzky.
IDENTIDADE
A busca por um perfil, uma identidade, permeia a
história da nação brasileira. É a partir desta busca que se forma o conjunto
exibido no núcleo Identidade. As obras de Alex Flemming, Berna Reale,
Camila Soato, Daniel Lie, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e
Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população
brasileira.
"Falamos aqui do ‘Brasil profundo’, enfatizado já
em obras literárias emblemáticas e pré-modernistas como o livro Os sertões, de
Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil
estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo,
das elites consequência de uma economia promissora proveniente do
desenvolvimento financeiro e intelectual, e consequentemente berço da Semana de
Arte Moderna realizada 20 anos após esta publicação, e o sertão, desconhecido,
acometido pela precariedade e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.
NATUREZA
O território brasileiro é demarcado por sua vastidão,
pluralidade de biomas e importância de caráter global. Neste núcleo, as obras
dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons,
Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam
questões de enaltação, sustentabilidade e alerta quanto à natureza e o
relacionamento do ser humano como corpo imerso no legado da “terra brasilis”.
ESTÉTICA
Reunindo trabalhos de Barrão, Beatriz Milhazes, Cildo
Meireles, Daiara Tukano, Delson Uchôa, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Francisco
de Almeida, Jaider Esbell, Judith Lauand, Luiz Hermano, Mira Schendel e Nelson
Leirner, este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o
antropofágico, ação fundamental para o entendimento da essência da Brasilidade
e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade
cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecida.
E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com
a publicação do Manifesto Antropófago publicado por Oswald de Andrade na
Revista de Antropofagia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação
direta à palavra "antropofagia", em referência aos rituais de
canibalismo nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma
pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimentos e habilidades
da pessoa devorada. “A ideia de Oswald de Andrade foi a de se alimentar de
técnicas e influências de outros países – neste caso, principalmente a Europa
colonizadora – e, a partir daí, fomentar o desenvolvimento de uma nova estética
artística brasileira. Na atualidade, como aqui vemos, não está à sombra de uma
herança e manifestações europeias, mas sim autônoma e autêntica miscigenada com
elementos que compõem a Brasilidade dominada por cores, ritmos, formas e
assimilação do díspar universo de linguagens e meios que a norteiam”, comenta
Tereza de Arruda.
POESIA
A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em
si pleitearam a independência linguística do português do Brasil do de Portugal.
Os modernistas acreditavam que o português brasileiro haveria de ser cultuado e
propagado como idioma nacional.
Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta,
poesia visual e apoderamento da arte escrita – a escrita como arte
independente, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração
sonora – dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos,
Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes
Leme.
Lista completa de artistas
Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna
Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos/Júlio
Plaza, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo
Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto, Emmanuel
Nassar, Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano,
Francisco de Almeida, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider
Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodanzky, José De Quadros, José Rufino, Judith
Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, Luiz
Hermano, Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira
Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni,
Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga.
Sobre a curadora
Tereza de Arruda é mestre em História da Arte, formada
pela Universidade Livre de Berlim. Vive desde 1989 entre São Paulo e Berlim. Em
2021 bolsista da Fundação Anna Polke em Colônia para pesquisa da obra de Sigmar
Polke. Como curadora, colabora internacionalmente com diversas instituições e
museus na realização de mostras coletivas ou monográficas, entre outras, em
2021, Art Sense Over Walls Away, Fundação Reinbeckhallen Berlin; Sergei
Tchoban Futuristic Utopia or Reality, Kunsthalle Rostock; em 2019/2021, Chiharu
Shiota linhas da vida, CCBB RJ-DF-SP; Chiharu Shiota linhas internas,
Japan House; em 2018/2019, 50 anos de realismo – do fotorrealismo à
realidade virtual, CCBB RJ-DF-SP; em 2018, Ilya e Emilia Kabakov Two
Times, Kunsthalle Rostock; em 2017, Chiharu Shiota Under The Skin,
Kunsthalle Rostock; Sigmar Polke Die Editionen, me collectors Room
Berlin; Contraponto Acervo Sergio Carvalho, Museu da República DF; em
2015, InterAktion-Brasilien, Castelo Sacrow/Potsdam; Bill Viola
na Bienal de Curitiba; Chiharu Shiota em busca do destino, SESC
Pinheiros; em 2014, A arte que permanece, Acervo Chagas Freitas, Museu
dos Correios DF-RJ; China Arte Brasil, OCA; em 2011, Sigmar Polke
realismo capitalista e outras histórias ilustradas, MASP; India lado a
lado, CCBB RJ-DF-SP e SESC; em 2010, Se não neste tempo, pintura
contemporânea alemã 1989-2010, MASP. Desde 2016 é curadora associada da
Kunsthalle Rostock. Curadora convidada e conselheira da Bienal de Havana desde
1997 e cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba desde 2009.
SERVIÇO
Mostra coletiva “Brasilidade Pós-Modernismo”
De 29 de junho a 19 de setembro
Curadoria: Tereza de Arruda
Local: Centro Cultural
Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários).
Horários
de visitação: Todos os dias, das 10h às 22h, exceto às terças.
Ingressos gratuitos, retirados pelo site bb.com.br/cultura ou
pela Eventim – www.eventim.com.br
Classificação Indicativa: Livre
Imagens em alta:
https://flic.kr/s/aHsmWgL61o
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