Consequências do bullying na infância duram até a vida adulta
Traumas não tratados permanecem no
subconsciente e podem afetar o comportamento da vítima por toda a vida
Salvador Ramos, o
atirador que matou 21 pessoas em uma escola do Texas, sofreu bullying por ser
gago. A notícia, estampada em veículos de imprensa de todo mundo, serve como
mais um alerta para um problema que atinge 23% dos estudantes brasileiros e
provoca danos até a vida adulta. “Quando
os traumas provocados pelo bullying não são tratados, ficam armazenados no
subconsciente e podem se manifestar também na fase adulta, fazendo com que a
pessoa tenha dificuldade nas relações pessoais, amorosas e na convivência em
sociedade. Tudo isso pode afetar a sua vida profissional e levar ao
desenvolvimento de vícios, além de manifestações de agressividade”,
explica a psicóloga Bárbara Generozo Capato.
Estudo da American
Academy Child & Adolescent Psychiatry dá a dimensão do problema:
adolescentes entre 12 e 15 anos que sofrem bullying na escola têm risco até
três vezes maior de tentar o suicídio. “As
vítimas podem desenvolver quadros de depressão, transtornos de ansiedade,
síndrome do pânico, transtornos alimentares, mudanças no padrão de sono,
pesadelos. Esses distúrbios psicológicos, quando não tratados, podem, sim,
levar esse jovem a ser violento contra outras pessoas ou contra si mesmo e
cometer o suicídio”, explica Bárbara.
Danos do bullying têm reflexo até na vida
adulta
A Pesquisa Nacional de
Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), mostrou que 23% dos estudantes brasileiros disseram já
ter sofrido bullying. Segundo a pesquisa, os maiores motivadores da prática são
a aparência física: aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e
cor ou raça (4,6%).
Foi justamente para
ajudar vítimas de bullying que a advogada especialista em Direito Médico e
Odontológico, Beatriz Guedes, criou uma ONG que atende vítimas de descriminação
estética. “Sempre tive um
senso de Justiça muito apurado e, quando era criança, via o sofrimento dos
colegas que sofriam bullying. Sempre quis fazer algo para mudar essa situação.
Quando passei a trabalhar diretamente com clínicas estéticas, acompanhei de
perto o sofrimento que o bullying provoca até na vida adulta. Foi então que
resolvi criar a ONG Em Boas Mãos”, comenta Beatriz.
A advogada reuniu
profissionais de várias especialidades e áreas de atuação para ajudar vítimas
de bullying que não têm condições financeiras de custear tratamentos estéticos
capazes de recuperar a autoestima e ajudar a apagar traumas do passado. “Convivi com muitos adultos que carregam
os traumas provocados pelo bullying desde a infância, por isso uma das frentes
de atuação da ONG é oferecer atendimento psicológico aos pacientes”,
completa a advogada.
Beatriz Guedes fundou ONG para ajudar
vítimas de discriminação estética
Sinais de
alerta
A
psicóloga Bárbara orienta os pais a ficarem atentos a mudanças de
comportamento, como baixa autoestima, falta de vontade de ir para a escola,
dificuldades de aprendizado, comportamento autodepreciativo e até dificuldade
pra dormir. “A família
precisa investigar as origens dessas mudanças bruscas de comportamento para
poder resolver a situação o mais rapidamente possível”,
comenta.
Circulo vicioso
Bárbara
conta que os agressores, muitas vezes, reproduzem situações que eles mesmos
vivem. São jovens com problemas psicológicos, que também sofreram bullying ou
até já foram agredidos no ambiente familiar ou na escola. “Eles tentam
transferir os seus traumas por meio da agressividade contra os outros”, explica
a psicóloga.
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