Déficit de atenção: quando uma distração pode ser considerada uma doença
Neurologista revela quais os distúrbios e os
seus sintomas
São Paulo, junho de 2022 - Você já deve ter conhecido alguém que
parece viver com a cabeça em outro planeta, sempre distraído e com dificuldade
de realizar alguma tarefa que exija muita concentração, não é mesmo? Quando se
trata de uma criança, logo pensamos em hiperatividade e, quando a situação é
com um adulto, imaginamos que seja apenas falta de paciência. Mas, quando ser
distraído deixa de ser apenas uma peculiaridade do indivíduo para se tornar uma
doença?
Segundo a médica neurologista e membro
titular da Academia Brasileira de Neurologia, Dra. Inara Taís de Almeida,
existem duas formas de manifestação de distúrbios relacionados à falta de
atenção que podem atingir tanto adultos como crianças, causando graves
consequências.
“Os quadros podem ser acompanhados de
hiperatividade como acontece no caso do Transtorno de Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH), ou sem, como é o caso do Distúrbio de Déficit de Atenção
(DDA). Em ambas as manifestações o que acontece é uma disfunção neurológica
capaz de afetar o córtex pré-frontal, área responsável pela capacidade de
manter a atenção e a organização, de controlar a impulsividade e de demonstrar
os sentimentos. Por isso, o paciente tem dificuldades em permanecer atento em
situações específicas enquanto outras pessoas não”, explica.
Esses quadros são acusados pela
deficiência de Dopamina, um importante neurotransmissor. Por isso, quanto antes
for diagnosticado, melhor será o prognóstico para o paciente. Nas crianças, por
exemplo, a doença pode prejudicar significativamente o processo de aprendizagem
e o desenvolvimento das relações interpessoais.
“As famílias precisam saber que as
pessoas com esses tipos de distúrbios nascem assim, desse modo é essencial
estarem atentas ao comportamento de suas crianças. É muito comum que nelas a
hiperatividade acompanhe o déficit de atenção, por isso a importância do
conhecimento. A escola ou os pais não devem concluir sozinhos que a criança é
apenas bagunceira ou já pode ser considerada hiperativa. Um diagnóstico correto
sempre requer consulta e/ou acompanhamento de um neurologista ou psiquiatra”,
alertou.
Já nos adultos, o transtorno não é tão
aparente porque a hiperatividade comum da fase infantil tende a diminuir ou até
desaparecer ao longo dos anos. Mesmo assim, os sintomas da doença relacionados
à dificuldade de concentração podem prejudicar em vários aspectos a vida
adulta. Isso porque, afetam os relacionamentos profissionais e pessoais,
apresentando comportamentos tais como: dificuldade em expressar sentimentos e
em ouvir os outros, dificuldade de se manter parado ou sentado por longos
períodos, impaciência para aguardar sua vez de falar ou ser chamado em uma
fila, incapacidade de concluir tarefas e cumprir prazos, além da falta de
objetivos e planos futuros.
Apesar de não existir cura, a Dra. Inara
Taís de Almeida garante que é possível ter boa qualidade de vida convivendo com
Distúrbio de Déficit de Atenção.
“O tratamento mais promissor é a união
da terapia medicamentosa, com fórmulas que irão regular as funções do córtex
pré-frontal, e da terapia psicológica, que irão trabalhar o equilíbrio das
emoções. Assim, o paciente tem a ação do remédio no organismo e uma percepção
melhor dos seus sentimentos. O resultado é uma mudança de comportamento e um
melhor convívio interpessoal”, finalizou a especialista.
Dra. Inara Taís de Almeida - Neurologista e Neuroimunologista de São Paulo, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia. Graduação em Medicina pela Faculdade de Tecnologia e Ciências e residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Fellowship clínico (especialização) em Neuroimunologia no Ambulatório de Doenças Desmielinizantes na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp.
Instagram: @inara.neuro
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