Gerenciamento e análise de dados de forma automatizada são fundamentais para repensar estratégias do setor varejista
*Por Wagner Guimarães
Existem dois grandes problemas que
varejistas, marcas e empresas de logística enfrentam hoje. Um deles é a pressão de custos. O
Índice de Preços de Matérias-Primas está 18% mais alto do que no ano passado,
de acordo com o Relatório de Perspectivas dos Mercados de Commodities do Banco
Mundial. Uma das causas disso é a falta de oferta de contêineres para
transporte marítimo. O preço médio para enviar um contêiner da China para os
Estados Unidos, uma das principais rotas de transporte, aumentou em 344% desde
o início de 2020.
Do outro lado da história, existe a
mudança do comportamento
do consumidor, evidenciada ao longo dos últimos anos. As
pessoas adotaram a conveniência das compras e entregas online e o comércio
eletrônico passou por um boom de incursões notáveis no mercado, com um
crescimento que chegou a 26,8% em 2021, atrás apenas do mercado indiano,
conforme dados da empresa de pesquisa de mercado eMarketer.
Com isso, uma grande mudança no setor já
se mostra em acelerado crescimento. Na configuração tradicional, os varejistas
eram os principais pontos de contato com os consumidores. Agora, o consumidor
está no meio, e marcas, fornecedores de logística, varejistas, plataformas
digitais e outros se conectam diretamente entre si e com o consumidor, em uma
rede que oferece visibilidade e inteligência para prever, preparar e gerenciar
adversidades.
Os recursos cada vez mais avançados da
tecnologia têm sido importantes alavancas para essa transformação, já que
existem soluções que permitem que as empresas acessem grande volume de dados
por meio de suas redes e os usem para uma melhor tomada de decisão. A
inteligência artificial (IA) e o machine learning (ML) podem ajudar a analisar
esses dados para fornecer recomendações em tempo real para planejamento de
cenários e contingências.
Muitas empresas estão se aventurando em
parcerias para expandir além de suas competências essenciais para responder
rapidamente ao ambiente em mudança. E à medida que o poder de determinar a
demanda e o atendimento muda para a rede, o papel das lojas de varejo também
vai mudar, levando lojas a trabalharem com vendas cruzadas de serviços e não
apenas de produtos. Um exemplo disso é o caso de uma mercearia que pode começar
a oferecer serviços de comida fresca como uma extensão de sua atuação.
Outro ponto importante da mudança do
varejo que passa por soluções de tecnologia são as compras sustentáveis que
ganharam muita atenção durante a pandemia, refletindo que os consumidores se
tornaram mais conscientes das mudanças climáticas durante a crise. As empresas
precisam passar de um modelo de pegar, fabricar e descartar para uma abordagem
de comércio circular, onde produtos, serviços e seus sistemas mais amplos
fornecem o valor do recurso por um período prolongado.
As empresas têm lutado com a ideia de
usar produtos sustentáveis, mas os consideram caros. No entanto, a equação de
custos começou a se equilibrar. Por exemplo, o aumento dos preços dos materiais
de embalagem tradicionais levou as empresas a explorar opções de embalagens
sustentáveis.
O aumento da colaboração e transparência
entre as empresas pode ajudá-las a melhorar a eficiência, economizar energia e
reduzir o desperdício. Se as empresas preverem com precisão a demanda e o tipo
de demanda usando IA nos dados da rede, elas poderão gerenciar com eficiência a
produção, distribuição e reaproveitamento.
Varejistas, marcas e empresas de
logística enfrentam uma escalada difícil no novo normal. A chave será ser ágil.
A IA pode ajudar com agilidade, mas precisa de muitos dados claros e limpos. As
redes podem fornecer esses dados e, portanto, visibilidade e inteligência.
Então, o poder vai mudar para as redes. As empresas terão que investir em
parcerias e começar a repensar seu papel no ecossistema, mesmo que isso
signifique parceria com concorrentes.
*Wagner Guimarães é head para RCL (retail, consumer products e logistics) da Infosys Brasil.
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