Nota de repúdio às declarações do coronel José Vicente da Silva Filho
Muito ajuda quem não atrapalha. O dito
popular se encaixa muito bem à infeliz entrevista concedida pelo coronel
reformado da PM de São Paulo, José Vicente da Silva Filho, ao jornalista
Heródoto Barbeiro, na Rádio Nova Brasil FM, justamente no dia em que todos os
servidores do sistema prisional paulista comemoravam uma dura conquista,
perseguida durante 18 anos: a criação da Polícia Penal de São Paulo.
O ex-militar, que já foi ex-secretário
Nacional de Segurança Pública e colaborador dos governos recentes que levaram o
sistema prisional de São Paulo ao caos, demonstrou desrespeito, soberba e total
desconhecimento da realidade intramuros no sistema penitenciário, ao transmitir
informações equivocadas à audiência.
Entre outras afirmações descabidas, o
coronel desqualificou o trabalho de 34 mil servidores que fazem parte da
segunda profissão mais perigosa do mundo, de acordo com estudo da Organização
Internacional do Trabalho (OIT). No planeta inteiro, só os trabalhadores de
minas subterrâneas correm mais risco de morrer em serviço.
Nenhuma outra função da segurança pública
é mais arriscada que a dos policiais penais e agentes penitenciários.
José Vicente da Silva Filho demonstrou acreditar que nos preocupamos com a
nomemclatura do cargo, quando desmerece a importância da palavra
"agente", aparentemente desconhecendo que "agente" é aquele
a quem cabe agir, fazer, executar. Todo trabalhador, público ou privado, é um
agente.
Nossa luta pela criação da Polícia Penal
não está vinculada a títulos, nomes ou status pessoal, mas sim faz parte de um
plano de reestruturação do serviço penitenciário, para que ele possa, de fato,
reintegrar à sociedade, pessoas que, em algum momento de suas vidas,
infringiram a lei, algo imposível hoje, graças ao sucateamento desumano que
transformou o sistema prisional em uma máquina de moer pessoas. Não só
detentos, mas também os servidores responsáveis por manter o funcionameto das
179 unidades prisionais do Estado. Temos muito orgulho de termos sido, até
hoje, agentes penitenciários. Nunca nos preocupamos com o que está escrito em
nossos crachás, em sim em mudar a estrutura do sistema prisional para melhorar
o serviço prestado à sociedade paulista.
Em outro trecho da entrevista, o coronel
José Vicente afirmou que policiais penais de outros estados "andaram
fazendo bobagens na rua" depois que passaram a utilizar armas. Sem citar
exemplos específicos para justificar sua afirmação, o coronel cai numa
generalização perigosa e ofensiva a toda uma categoria profissional. Como
militar, ele seria uma fonte confiável para comentar as inúmeras notícias de
integrantes da corporação da qual ele fez parte, a PM, "fazendo bobagens
na rua" Brasil afora, em vez de opinar sobre uma instituição a qual ele
demonstrou não conhecer.
O especialista em segurança pública
errou até quando comentou a presenda da PM no sistema prisional. Afirmou que
dezenas de milhares de policiais militares são deslocados para as escoltas de
presos. O número real é amplamente conhecido. Apesar de grande, o efetivo de
PMs que atuam no sistem prisional não chega nem perto disso: são seis mil militares
cuidando de escoltas e muralhas no interior. Um erro imperdoável para um
ex-militar e especialista em segurança pública.
Mas a maior ofensa, sem dúvida, o
coronel reformado reservou aos integrantes do Grupo de Intervenções Rápidas
(GIR), equipe especializada na contenção de disturbios dentros dos presídios.
Ao dizer que são um "grupinho de meia-dúzia", ele desmerece o
trabalho de cerca de mil agentes, treinados a ferro e fogo pela própria PM em
2006, quando o Estado de São Paulo ficou sitiado por criminosos que, de dentro
dos presídios, aterrorizaram os paulistas e obrigaram as autoridades a negociar
com os criminosos.
O GIR paulista é a base da Força
Penitenciária Nacional, grupo de elite que atua na contenção de rebeliões, e
que foi fundamental para encerrar dois, dos maiores conflitos da história do
país, em 2017, nas penitenciárias de Manaus, que resultou em um massacre de 56
pessoas, além da rebelião mais sangrenta da história do Rio Grande do Norte, no
presídio de Alcaçuz, quando 26 pessoas morreram.
Talvez o coronel José Vicente
desconheça, mas a expertise dos policiais penais do GIR treina agentes de
segurança pública de todo o país, como guardas municipais e integrantes das
forças armadas, incluindo policiais do Batalhão de Ações Especiais de Polícia
(BAEP) da própria PM paulista. Em março de 2018 os militares do BAEP
aprenderam, com o GIR, técnicas de intervenção em presídios.
Na entrevista, o coronel afirma que os
integrantes do GIR servem para resolver brigas de cela ou pequenos
desentendimento, mas que precisam de apoio da PM quando a rebelião sai do
controle. Há 10 anos a PM de São Paulo não pisa em um presídio paulista para
enfrentar amotinados. Mesmo com todas as dificuldades estruturais e deficit
funcional, há 10 anos o GIR, como o próprio nome indica, intervém rapidamente e
impede que os pequenos motins cresçam e se tornem rebeliões, cumprindo com
excelência a funcção para a qual foram exaustivamente treinados.
A criação da Polícia Penal de São Paulo
é um avanço importante porque implanta uma força especializada em cuidar de
toda a estrutura penitenciária. Desde o momento em que um preso entra pelo
portão de uma unidade, passando pela fiscalização de todo o cumprimento da pena
nos regimes, fechado, semiaberto, domiciliar, aberto, saídas temporárias e
monitoramento por tornozeleiras, até o momento em que ele cumpre a pena e retorna
à socieadade. A Polícia Penal soma esforços a servidores da segurança pública
de todas as corporações, que tem como missão proteger a socieade dos
infratores.
Coronel José Vicente da Silva Filho,
essa união união não tem hierarquia, não tem melhores ou piores. São todos
servidores que sacrificam sua saúde, suas vidas e a segurança de seus
familiares para proteger o cidadão paulista contra o crime. Convidamos o senhor
para que conheça as propostas do SIFUSPESP para a regulamentação da Polícia
Penal, passo que daremos a seguir, depois que a corporaçao foi criada. Será uma
oportunidade para conhecer melhor o sistema prisional, suas demandas e
problemas, para que, em futuras entrevistas como especialista em segurança
pública, possa falar livre de preconceitos e ser mais preciso nas informações
transmitidas.
SIFUSPESP - SINDICATO DOS FUNCIONÁRIOS DO SISTEMA PRISIONAL DE SÃO PAULO
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