Podemos terceirizar o cuidado, mas nunca o afeto
*Lucia Palma
“Busco cumprir minha missão, não só como
filha, mas como filha de um mundo que pode ser mais AMÁVEL, mais ACOLHEDOR e
mais
AMIGÁVEL”
Há 13 anos atrás, logo após a morte do
meu pai, minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer. Ela morava em Santos, e nós
os filhos em São Paulo. Perdemos o chão.
Ficamos sem rumo, sem saber o que fazer.
Como amparar minha mãe e oferecer o melhor apoio possível? A primeira ideia que
veio à nossa mente foi colocá-la num ambiente agradável onde tivesse cuidados
específicos para o seu bem-estar.
Começou então nossa busca (eu e meus
irmãos) por Instituições de Longa Permanência para Idosos. A cada visita, uma
decepção, uma sensação de que não deveríamos abandonar nossa mãe. Para nós
todos os espaços pareciam frios, hostis e pouco amigáveis. Nada parecia bom o
suficiente. Infelizmente não fomos preparados para este momento de “cuidar dos
pais”. Essa inversão de papéis é assustadora e causa muita angústia aos
familiares. É difícil aceitar que nossos pais, que eram nossos provedores,
conselheiros, apoiadores, agora, dependem de nós.
Fizemos então a escolha de deixá-la na
sua própria casa com o apoio necessário para ela não se afastar das coisas que
amava, até o dia em que isso se tornasse impossível. Foram nove anos muito
difíceis para nós familiares, em vários aspectos: adaptação à nova realidade,
gestão de recursos humanos e financeiros, distância familiar, entre outros.
Contudo, sentíamos que havia algo mais
que podíamos e devíamos fazer para o nosso bem comum: conhecer mais sobre a
doença, seus aspectos e o que fazer para um convívio mais saudável. Passamos a
buscar mais informação. Fizemos contato com profissionais da geriatria e
gerontologia que nos esclareceram e orientaram sobre o assunto. Esse foi um dos
melhores investimentos que fizemos e eu aconselho a todo familiar de idoso que
se encontra nessa situação. Uma orientação profissional pode ser a chave para
uma convivência saudável. Esse conhecimento ajuda a minimizar os impactos da
doença na convivência familiar. Torna a convivência muito mais leve e fluida.
Atualmente, depois de nos apropriarmos
do assunto e de muita experiência cuidando de nossa mãe, conseguimos entender
que todas essas aflições e sensação de abandono vividas naquela época, ao
pensarmos em hospedar nossa mãe em uma instituição para idosos, estavam
totalmente associadas ao sentimento de culpa que carregamos durante anos devido
ao estigma ligado ao conceito de “asilamento”, locais sem muitos recursos onde
idosos eram deixados pela família, sem nenhum tipo de apoio ou afeto.
Também observamos neste tempo em que a
mamãe ficou sob os cuidados de cuidadoras, que apesar de ela estar bem cuidada,
ela ficava mais isolada, solitária, sem poder prover adequadamente de
exercícios, lazer, alimentação adequada e socialização já que não tínhamos como
manter financeiramente uma estrutura de cuidados multidisciplinares.
Visto tudo isso, começamos a olhar as
instituições de longa permanência para idosos com outros olhos. Esses espaços
vêm sendo adequados e desenhados para atender a essas necessidades. O fato de
que todos os cuidados dispensados e a oferta de rotinas e atividades que
reforçam a independência dessas pessoas podem ser mais bem planejadas e
vivenciadas nesses espaços e são parte fundamental para a promoção da qualidade
de vida da mamãe e consequentemente da nossa.
Há cinco anos chegamos à conclusão de
que o melhor caminho era levá-la para uma Instituição de Moradia para Idosos.
Lá ela teria os cuidados que ela tanto merece. Então, eu e meus irmãos fomos
muito cuidadosos ao escolher uma instituição para a nossa mãe. Alguns itens
foram fundamentais para a nossa tomada de decisão. O primeiro filtro foi
encontrar um lugar que fosse próximo da nossa residência para que pudéssemos
visitá-la com frequência e com uma mensalidade que coubesse no nosso bolso.
Selecionamos algumas instituições e visitamos para conhecê-las de perto.
Na visita, coletamos as seguintes
informações: a estrutura está conservada e possui ambientes claros e
arejados e com aspecto de lar? A casa está adaptada para receber um idoso? Tem
um jardim ou um local gostoso para que o idoso possa tomar um sol, ficar em
local aberto? Qual o número de idosos residentes? Há cuidadores suficientes
para a demanda? Os profissionais da instituição são gentis e atenciosos com os
idosos? Existe um acompanhamento nutricional? A gente viveria neste
ambiente?
Um item que consideramos muito
importante é se existe um profissional dedicado ao acolhimento, ambientação e a
socialização do idoso a partir da chegada na instituição até que ele se sinta
adaptado? A documentação exigida por lei está registrada e aprovada pelos
órgãos competentes?
Minha dica para quem está começando a
busca por uma instituição, é criar uma lista de coisas que a família entende
como importante, lembrando de que a vontade e o bem-estar do idoso devem ser
levados em consideração. Tenha em mente que suas crenças e costumes estão cada
vez mais evidentes e precisam ser respeitados. Classifique os itens como muito
importante, importante e menos importante. Depois com essa lista em mãos é mais
fácil encontrar um lugar com o seu perfil e ajuda muito caso a família tenha
que abrir mão de algum item não tão importante.
Bom, levou um tempo até que
encontrássemos um lugar que acolhesse a mamãe com o carinho, a atenção e a
dignidade que ela merece. Hoje ela está em uma Instituição pequena onde
percebemos que ela se sente em um Lar.
Atualmente minha família está adaptada à
nova realidade. Aceitação, informação e afeto são as chaves para uma
convivência mais amorosa e serena.
*Lucia Palma, 56 anos, profissional de marketing e fundadora do Portal Casas de Repouso. Vive a angústia e o prazer de conviver com a minha mãe que está hoje com 91 anos e tem doença de Alzheimer.
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