Recente regulamentação de cirurgias robóticas pelo CFM pode ampliar acesso a tratamentos
Resolução
Nº 2.311/2022, publicada no fim de março, estabelece normas e critérios para a
capacitação e certificação de médicos
Democratizar o
acesso do treinamento médico e levar ao maior número possível de pacientes os
benefícios da cirurgia robótica. Essa é a expectativa de profissionais da
medicina com a recente resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que
regulamenta a capacitação e uso dos procedimentos de cirurgia robótica ou
cirurgia robô-assistida. A resolução Nº 2.311/2022 estabelece normas e
critérios para a capacitação e certificação de médicos que podem realizar o
procedimento. Até então, havia apenas uma liberação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, datada de 2008, para a realização das cirurgias no País.
De acordo com a nova resolução, a cirurgia robótica só poderá ser realizada por
médico que, obrigatoriamente, seja portador de Registro de Qualificação de
Especialista (RQE) no Conselho Regional de Medicina (CRM) na área cirúrgica
relacionada ao procedimento. Conforme a resolução do CFM, os cirurgiões devem
possuir treinamento específico em cirurgia robótica durante a Residência Médica
ou capacitação específica.
O treinamento inicial básico é constituído, entre outros itens, por aulas
teóricas e práticas para cada plataforma robótica disponível; treinamento de
simulação robótica para desenvolvimento de habilidades psicomotoras; aulas
teóricas sobre o equipamento robótico e seu funcionamento dada pela empresa
fabricante; acompanhamento presencial de 10 cirurgias robóticas, sendo pelo
menos três delas na especialidade em que deseja atuar; mínimo de 20 horas em
treinamento por simulador robótico validado para esta finalidade.
Ainda segundo o CFM, após o treinamento inicial, o profissional que busca pela
certificação para cirurgias robóticas precisa, obrigatoriamente, passar pelo
treinamento avançado ao realizar o procedimento como cirurgião principal, sob a
supervisão de um cirurgião-instrutor. Essa fase deve constar de um número
mínimo de dez cirurgias e da avaliação e aprovação do cirurgião-instrutor.
Mais acesso
Cirurgião gastro, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (SOBRACIL), o
médico Adilon Cardoso Filho, o primeiro profissional em Goiás certificado para
realização de cirurgias robóticas do aparelho digestivo, explica que a
resolução do CFM irá ampliar o acesso de profissionais brasileiros ao
treinamento especializado, já que será possível criar novos centros de
capacitação para certificar mais médicos no país. “Antes, o cirurgião que
quisesse ter acesso a esse treinamento, deveria necessariamente consegui-lo
somente junto à empresa fabricante da tecnologia, sendo necessário viajar ao
exterior para tal. Hoje, já temos no Brasil três ou quatro centros
especializados nessa capacitação médica”, revela o cirurgião.
Apesar da recente regulamentação das cirurgias robóticas pelo CFM, o
procedimento já é realizado no país há mais de uma década. Para Adilon Filho,
com o aumento do número de equipamentos de cirurgia robótica que começam a
chegar no Brasil, o Conselho Federal “viu a necessidade de uma regulamentação
desse treinamento para que haja uma democratização do acesso dos médicos do
país a esse tipo de capacitação”. Adilon afirma que o país tem um bom número de
profissionais médicos capacitados para tal procedimento, mas segundo ele, ainda
insuficiente para atender as demandas.
O uso de robô nas salas de cirurgias permite a realização de procedimentos
complexos e delicados, que poderiam ser difíceis ou até impossíveis para os
humanos, pois há um controle preciso dos movimentos e uma visualização
aumentada das estruturas. A primeira cirurgia robótica realizada no Brasil
aconteceu em 2008, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Após 13
anos, o número de procedimentos vem crescendo gradativamente, impulsionados,
sobretudo, por outros diferenciais como o menor sangramento durante o
procedimento, menor tempo de internação e de recuperação.
Diferentemente do que muitos pensam, os ‘braços’ do robô não funcionam de forma
autônoma durante uma cirurgia. Eles são totalmente controlados por um
cirurgião, que fica ao lado do paciente durante todo o procedimento, manuseando
o aparelho que 'segura' os finos instrumentos. O robô interpreta os movimentos
dos dedos e punhos do médico, transformando-os em movimento cirúrgico,
permitindo um movimento mais preciso e delicado, evitando o cansaço do
profissional ao longo da cirurgia. A tecnologia é minimamente invasiva.
Crescimento de 90%
Dados da H. Strattner, única empresa que comercializa esse tipo de
equipamento no Brasil, apontam que já foram realizadas mais de 30 mil cirurgias
robóticas no país, contabilizando todas as especialidades médicas. A maioria
dos procedimentos foi feita na região Sudeste. Ainda de acordo com a empresa,
entre agosto de 2018 e fevereiro de 2020, o número de equipamentos instalados
em todas as regiões saltou de 40 para 76, o que representa um crescimento de
mais de 90%. Atualmente, cerca de 1.200 cirurgiões em mais de 14 especialidades
médicas são certificados pela empresa para a realização da cirurgia robótica.
Apesar dos bons resultados comprovados, a popularização da cirurgia robótica no
Brasil ainda tem um longo caminho pela frente para se tornar um procedimento
comum. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, cerca de 90% dos
procedimentos cirúrgicos para tratar câncer de próstata já são realizados por
meio da cirurgia robótica.
O alto custo e o baixo número de equipamentos na rede pública também configuram
empecilhos para a popularização dos robôs nos tratamentos cirúrgicos. Em Goiás,
por exemplo, há somente um equipamento de cirurgia robótica, que está
disponível na rede privada, no Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.
“A cirurgia robótica é hoje no Brasil uma técnica consolidada e seus benefícios
são amplamente conhecidos. O que falta ainda é um maior acesso das instituições
médicas, sejam elas públicas ou privadas, ao equipamento e ampliação da
capacitação de médicos para a realização desses procedimentos”, conclui o
médico Adilon Cardoso Filho.
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