Startups e investimentos em tempos turbulentos
Sergio Saraiva Pontes (*)
A diminuição da liquidez no mercado, em
decorrência do aumento das taxas de juros em todo o mundo, tem suscitado
discussões com relação a qual a postura mais adequada a ser adotada por
startups diante da exigência de investidores de retornos mais rápidos do que os
esperados inicialmente.
Na minha avaliação, as empresas precisam
em primeiro lugar reforçar a premissa básica de entender, a fundo, quais são as
necessidades de seus clientes e as oportunidades que se abrem a partir daí.
Esse conhecimento se mostra fundamental
no processo de definição de qual o custo de aquisição do cliente (CAC) mais
saudável e adequado às demandas do consumidor e de cada startup.
Com a mudança do cenário macroeconômico,
algumas empresas precisam achar um novo equilíbrio na proporção entre o valor
médio que um cliente gasta com seus produtos ou serviços durante todo o seu
relacionamento com ele – indicador conhecido como lifetime value (LTV) – e o
CAC.
Diante do menor volume de capital
disponível, investidores estão menos pacientes em relação ao momento do
breakeven das empresas em que apostaram no potencial de inovação. É natural o
consumo de caixa, nos primeiros anos de vida das startups, mas há menos
tolerância com o desembolso de recursos sem critérios claros.
Na prática, investidores deixaram de
aceitar o crescimento a qualquer custo, que tinha se tornado comum no mundo das
startups. Cada vez mais, o ganho de market share precisa estar atrelado a ter
um CAC adequado, senão fica muito difícil vislumbrar quando os aportes se
reverterão em lucro.
No mercado imobiliário, empresas
tradicionais já mostraram, em alguns momentos, como após a primeira onda de
IPOs, que crescer, desordenadamente, pode significar ter de lidar com as
consequências por anos, devido ao ciclo longo do setor. É importante que
startups aprendam com erros cometidos por quem está na estrada há muito mais
tempo.
Em um cenário de invasão da Ucrânia pela
Rússia, “lockdowns” na China, inflação crescente e juros em alta, empresas com
expectativa de payback muito longo tendem a enfrentar mais dificuldade em novas
captações daqui para frente. As cobranças com relação a ciclos de investimento
mais curtos e adequados a cada negócio, além de uma boa gestão de caixa só
aumentam.
Retomo aqui a defesa de que as
necessidades e dores dos clientes sejam levadas em conta na tomada de todas as
decisões pelas startups.
Antes de tudo, defina bem o recorte do
nicho de clientes buscados – no setor imobiliário, estabelecer a atuação
conforme os serviços oferecidos, a tipologia das unidades, a faixa de renda dos
consumidores e as regiões de abrangência são pontos fundamentais.
É preciso um mínimo de experiência, no
mercado imobiliário, para estar à frente de startups em um setor tão
competitivo e ter condições de passar a segurança necessária para quem pretende
alugar um imóvel ou assumir uma dívida de longo prazo para fazer a compra mais
cara da vida.
(*) Sergio Saraiva Pontes é membro do conselho da UBlink, startup de locação, compra e venda de imóveis
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