Dia dos avós e a importância do cuidado com a saúde mental do idoso
Psicanalista alerta que a depressão é a
desordem mais comum nesse segmento etário
O dia dos avós comemorado no mês de
julho, muitas vezes, nos remete a lembranças gostosas da infância compartilhada
com o vovô e a vovó. Cheirinho do bolo da tarde e das conversas sobre fatos e
recordações da vida.
Mas também é um momento no qual devemos aproveitar para salientar os
cuidados que devem ser aplicados em relação à saúde mental dos idosos. Já que,
o envelhecimento apresenta fatores muitos distintos que podem apontar causas
que levam a um certo desequilíbrio emocional.
A etapa da vida caracterizada como velhice é carregada de bonitas histórias,
velhas lembranças e, em muitos casos, de sofrimento e tristeza também. Nas
faixas etárias mais avançadas aumentam os relatos de transtornos depressivos e
até suicídios.
Apesar de que não se pode afirmar que existe uma causa única para o sentimento
de perda demonstrado pelo idoso, mas um complexo de valores associados que
devem ser ponderados e reparados por todos e pela sociedade. Estes sofrimentos
psíquicos e o desejo de antecipar a vida podem ser motivados por diversas
perdas específicas dentro de um processo de envelhecimento, como: perda da
saúde, autonomia, produtividade, papeis sociais, perda de cônjuges, amigos,
entre outras perdas pessoais.
Diante deste cenário, não raro encontrarmos idosos que sofrem de transtornos
depressivos em diversos níveis de intensidade. A depressão é a desordem mais
comum nesse segmento etário. Tanto que, a vulnerabilidade deles está
concentrada no isolamento social, no fato de não serem, muitas vezes, incluídos
na sociabilidade de lazer da família, na falta de diálogo e de alguém para
ouvi-los, no medo de se tornar um peso para os parentes, na dependência
constante do outro e no alto número de medicamentos que precisam ser ingeridos
todos os dias, tornando-os prisioneiros dos fármacos.
Fatores que geram um conflito interno e uma insegurança que alimentam a
angústia associada a uma tristeza profunda. Uma verdadeira enxurrada de
sintomas como: solidão, pouca disposição, pessimismo em relação ao futuro,
irritações sem motivo, autoacusação, insatisfações, além de distúrbios do sono
e do apetite que podem fomentar ideias suicidas.
A depressão ainda pode provocar fadiga persistente, mesmo sem esforço físico e
demandar maior energia na realização de atividades simples e leves. Não se
sentir mais útil é um dos maiores fantasmas do envelhecimento.
Portanto, o que precisa ser feito é diminuir a vulnerabilidade que uma pessoa
desta faixa etária carrega em seu inconsciente. Uma fragilidade alimentada por
inseguranças e conflitos internos tão cruéis, que são capazes de antecipar, de
forma drástica e definitiva, a sua partida.
Assim como uma criança, um jovem e um adulto, o idoso também precisa se sentir
vivo. Precisa, sobretudo, ter condições de expor seus medos, suas queixas, suas
dúvidas, alegrias e tristezas.
Ao externar estas emoções, o sofrimento fica mais leve e a carga menos pesada.
Não deixe para o dia seguinte, se você pode acolher, ouvir e ajudar uma pessoa
em sofrimento. Depressão na velhice é coisa séria, não ignore os sinais.
A melhor arma no combate a este mal é o apoio emocional. Acolha, demonstre
apoio e tenha empatia. Envelhecer está longe de ser um mar de calmaria, mas
pode sim, ser um mar de ondas nostálgicas que tragam velhas lembranças e velhas
histórias de uma vida inteira, recheada da individualidade e da marca pessoal
desse idoso.
Acolher é a maior prova de amor e de reconhecimento por toda uma vida de
contribuições e ensinamentos.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista
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