Ensino básico presencial: importância do espaço escolar para a construção das oportunidades
*Antonio Rios
A importância da educação para o
desenvolvimento socioeconômico de um país é matéria de amplo conhecimento da
sociedade. O recém publicado estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI)
deixa isso ainda mais claro ao concluir que, ao longo das próximas décadas, os
brasileiros terão uma das maiores perdas de renda entre as grandes economias
globais em razão do fechamento das escolas na pandemia. Se nada for feito para
recuperar a falta de aprendizado completo, principalmente da população mais
vulnerável, a renda média dessa população afetada pode sofrer uma redução de
9,1% ao longo da vida.
O fechamento das escolas, com a
transferência do ensino para o sistema remoto, foi uma medida que o país
precisou enfrentar para não sofrer danos sanitários maiores em decorrência da
pandemia. Porém, principalmente para o ensino fundamental das populações mais
pobres, houve deficiência na oferta da modalidade remota, ocasionada por
diversos fatores, agravada pelo longo tempo em que as crianças se viram
privadas de frequentar suas escolas, com profundos reflexos na aprendizagem
desse estrato da população.
O espaço escolar é um ambiente
privilegiado para o desenvolvimento dos estudantes, pois permite a interação
aluno-professor, a convivência entre os colegas, a oportunidade de debate de
ideias e tudo o que propicia a construção do sujeito, em sua perspectiva
intelectual, e suas relações afetivas, sociais, emocionais e éticas. Parte
dessa riqueza se perde no ambiente virtual, sem falar na grande parcela das
famílias que não possui a necessária estrutura tecnológica - equipamentos e
rede digital - para que seus filhos possam acompanhar as aulas e atividades.
Não é novidade que a inovação
tecnológica deu um salto durante o período de aulas remotas, com instrumentos
que auxiliam no processo educativo, mas as novas plataformas, apesar de
continuarem relevantes em um cenário pós-pandêmico, devem ser consideradas
complementares. Nada substitui a riqueza da convivência, principalmente no
ensino fundamental, quando a escola é o elo da criança com a formação
comunitária e suas relações interpessoais.
Precisamos ter consciência de que a
educação básica vai muito além da função técnica, de repasse de conteúdo. Ela é
rica pelo processo de aprendizagem não apenas das disciplinas curriculares, mas
pela construção da cidadania, pelo compartilhamento de valores. A escola é um
ambiente vivo e pulsa com as interações que o ensino presencial proporciona.
No caso das famílias mais vulneráveis, a
escola tem mais um papel, que é o protetivo. Diante de uma realidade na qual
persiste o abandono escolar, a violência doméstica e tantas outras situações de
risco, a escola é um dos atores de uma rede de apoio que precisa existir e
produzir relações de confiança que permitam o monitoramento desses casos. O
contato e a atenção de cada um que vivencia o ambiente escolar pode quebrar
correntes de violações aos direitos das crianças e adolescentes.
Assim, a retomada do ensino presencial
deve ser encarada com um desafio maior, fortalecendo a qualidade da educação
infantil e fundamental, recuperando o gap de aprendizagem resultante de um
processo educativo deficiente nesse período, principalmente para as comunidades
mais empobrecidas pela situação de pandemia. O quadro mostrado pelo FMI é de
longo prazo e, por isso, pode ser revertido. Está claro que a educação permite
perspectiva de aumento de renda, de futuro para essas famílias que sofrem, não
somente pelo risco à saúde, mas pela segurança alimentar e outras condições
mínimas de proteção social. E, para essa base, não apenas o poder público, como
as instituições filantrópicas, terão papel relevante, dando oportunidade para
que essas crianças se desenvolvam com qualidade. É a esperança delas que deve
ser construída agora.
*Antonio Rios é Superintendente do Grupo Marista
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