Hipertensão, hipertensão resistente, hipertensão do jaleco branco: condições diferentes para uma doença que atinge mais de 38 milhões de brasileiros e leva a problemas graves de saúde
Dra.
Priscilla Gianotto Tosello
São Paulo, 26 de julho
de 2022 –
A hipertensão arterial – popularmente conhecida como pressão alta – é uma
doença que atinge, segundo dados do Ministério da Saúde, 38 milhões de
brasileiros. Só em 2019 – e apenas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foram
realizadas mais de 28 milhões de consultas na Atenção Primária e registradas 52
mil internações relacionadas à hipertensão. A doença, quando não tratada
adequadamente, leva a quadros graves de saúde, porque interfere diretamente na
condição cardiovascular e cerebrovascular e atinge os rins – só para citar as
situações mais comuns.
E o que muitas pessoas
não sabem é que, além da hipertensão arterial sistêmica comum, que é
identificada pela elevação da pressão arterial, existem outros tipos de
hipertensão arterial, como a hipertensão resistente e a hipertensão do jaleco
branco.
Entendendo
a hipertensão arterial
Segundo a Dra.
Priscilla Gianotto Tosello, cardiologista com especialização em Imagem
Cardiovascular pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a hipertensão arterial pode
ser definida como um aumento anormal da pressão, que prossegue por um longo
período. É essa pressão a responsável por fazer o sangue transitar pelas
artérias do corpo. Ao longo do dia, é comum que as pessoas tenham variações na
pressão, porque quando estão em repouso ela fica mais baixa e quando se
movimentam, ela sobe. “Mas é preciso ver durante quanto tempo ela permanece
alta”, explica a médica.
A pressão arterial é
medida em milímetros de mercúrio (mmHg) e há consenso médico sobre quanto ela
pode chegar. Quando – na maior parte do tempo – a pressão fica maior ou igual a
14 por 9, ela é considerada alta e a pessoa, hipertensa. E é a partir daí que
outros problemas podem ser desencadeados, como o infarto, o Acidente Vascular
Cerebral (AVC), a miocardiopatia hipertensiva e a arritmia.
Muitas vezes, os
sintomas aparecem porque a hipertensão já está mais avançada. Por isso, é
importante sempre estar com o os exames em dia, principalmente se há algum
fator de risco para o paciente. Entre esses sintomas, pode haver dor de cabeça,
falta de ar, visão borrada, zumbido no ouvido, tontura e dores no peito.
O principal fator de
risco para a hipertensão é a genética. Como não é possível saber de qual parte
da família vem a genética de cada pessoa, é fundamental que, tendo parentesco
com um hipertenso, cada um se mantenha em alerta, fazendo exames anualmente.
Mas existem também
outros fatores de risco, como obesidade, poluição, estresse, sono irregular,
menopausa, excesso de bebida alcoólica, tabagismo, alto consumo de sal,
sedentarismo, diabetes, doenças renais, apneia do sono e hipertireoidismo que
podem causar o problema. “Quando avaliado por um médico e diagnosticado como
hipertenso, o paciente será medicado. Mas, muitas vezes, é necessário também que
ele mude alguns hábitos de vida e comece, por exemplo, a praticar atividade
física. Além disso, ele pode precisar adotar uma dieta com menos sódio e perder
peso”, afirma Priscilla.
Outros
tipos de pressão alta interferem no tratamento adotado
E quando se fala em
tratamento, é fundamental entender todos os tipos de pressão alta que podem
acometer um paciente.
A classe de
medicamentos utilizada nos quadros de hipertensão é chamada de
anti-hipertensiva. Existem inúmeros medicamentos nesta categoria, de
laboratórios variados, e os médicos os adotam conforme o perfil dos pacientes
(se a hipertensão é mais leve ou mais severa, conforme a idade e condição
clínica, entre outros parâmetros) e de acordo com as diretrizes do Consenso
Brasileiro de Hipertensão Arterial. Assim, quando existe um caso de hipertensão
‘comum’, podem ser adotados medicamentos isolados ou combinados, dependendo de
cada caso.
Na existência de um
caso de hipertensão arterial resistente, a medicação adotada é ainda mais
adaptativa do que nos quadros de hipertensão ‘comum’. A hipertensão resistente
é definida, segundo a mais recente diretriz brasileira, quando se mantém
elevada mesmo com o uso de três classes diferentes de anti-hipertensivos. Isso
significa que, após o uso de três medicamentos diferentes, a pressão se manteve
alta.
Essa associação entre
os medicamentos inclui um bloqueador do sistema renina-angiotensina (IECA ou
BRA), um bloqueador dos canais de cálcio (BCC) de ação prolongada e um
diurético tiazídico (DT). Todos eles são de longa duração e devem ser
utilizados na dose máxima ou o quanto for tolerado pelo paciente. Tendo isso
como base, é muito importante que os fármacos sejam tomados corretamente,
exatamente da maneira que forem prescritos pelo médico. E, para obter sucesso
no controle dessa pressão arterial, os médicos muitas vezes precisam trabalhar
em cima de tentativas.
“Normalmente, o
tratamento é feito com uma complementação das diferentes classes de remédios
com doses otimizadas. O profissional inicia o tratamento com uma medicação e
percebe que a pressão não foi controlada. Então, ele associa a uma segunda
classe e, caso não tenha sucesso, com uma terceira classe – e assim
sucessivamente”, ressalta a cardiologista.
Essa associação só pode
ser considerada a partir do momento que já tenha atingido a dose máxima da
medicação ou tolerada pelo paciente e mesmo assim não obteve a pressão arterial
controlada. Além disso, as classes precisam ser distintas, não podem se
repetir, para que cada elemento atue em lugares diferentes e consigam, juntos,
controlar a pressão.
“Para que a hipertensão
arterial resistente seja diagnostica, é necessário acompanhar os níveis da
pressão enquanto o paciente está em tratamento. Mas, além disso, é fundamental
excluir outras condições que podem acarretar em um falso quadro da doença”,
esclarece Dra. Priscilla.
Uma dessas condições
pode ser a hipertensão arterial do jaleco branco, também conhecida como efeito
do avental branco. Ele se caracteriza por pessoas que ficam nervosas enquanto
estão no consultório médico. Então, por mais que a pressão arterial se mantenha
controlada em casa, o quadro muda quando a medição é feita pelo médico. Isso
pode resultar em um falso diagnóstico, dando a entender que não há controle
mesmo com o uso de remédios, quando na verdade o aumento acontece por conta do
nervosismo.
O tratamento da
hipertensão do jaleco branco não é feita com aumento dos medicamentos
anti-hipertensivos, mas com técnicas que permitam que o paciente relaxe nas
consultas, de forma que sua pressão não aumente na medição. Isso pode incluir
conversas fora do consultório ou do ambiente hospitalar, acompanhamento de
pessoas da confiança do paciente, medição da pressão em horários alternativos,
uso de técnicas de relaxamento e outras alternativas que permitam ao médico
saber o quadro de saúde real do paciente, sem que ele precise ter a dose do
medicamento aumentada.
A vida
com a pressão arterial controlada
Dra. Priscilla Gianotto
Tosello alerta que pessoas cada vez mais jovens estão desenvolvendo a
hipertensão arterial e a condição pode propiciar condições que levam até ao
óbito. “Infartos e AVC´s podem ser fulminantes e o principal fator de risco
para eles é a hipertensão arterial, uma doença silenciosa, mas que quando
controlada, permite uma vida plena, sem restrições severas de atividades”,
garante a médica.
Ela sugere que todas as
pessoas passem por um check-up cardiológico anualmente e, para quem já tem a
doença, um checku-up a cada seis meses. “Essa é a melhor forma de garantir a
saúde cardiovascular e, assim, prevenir doenças graves”, finaliza.
Sobre a
Clínica Tosello
A Clínica Tosello reúne
um corpo clínico especializado em Neurorradiologia Intervencionista,
Neurologia, Cardiologia e Reumatologia.
Conta com a experiência e o profissionalismo dos doutores Renato Tosello (Neurorradiologista Intervencionista), Priscilla Gianotto Tosello (Cardiologista), Viviane Moroni Felici (Neurologista) e Carolina Almeida P. Silva (Reumatologista), que trabalham de forma multidisciplinar no atendimento aos pacientes.
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