Mais de 78% dos brasileiros discordam de educação domiciliar: 62,5% totalmente, e 16% em parte
Entre debates sobre homeschooling, podcast de
pesquisadora sobre parentalidade amplia a discussão de maneira imparcial, assim
como propõe tratar de outros temas ligados à educação dos filhos.
Julho de 2022 - Cerca de 78,5% dos brasileiros
discordam de os pais terem o direito de tirar os filhos da escola para
ensiná-los em casa - 62,5% totalmente, e 16% em parte. É o que revela uma
recente pesquisa realizada pelo Cesop-Unicamp sob a coordenação do Cenpec, que
ouviu 2.090 pessoas a partir de 16 anos em 130 municípios brasileiros.
Por outro lado, segundo o Ministério da
Educação (MEC), 35 mil famílias praticam a modalidade de ensino domiciliar,
conhecida como homeschooling, no Brasil. Ainda considerado ilegal no país por
não haver uma legislação que o regule, o ensino domiciliar é o principal
projeto para a área da educação encabeçado pelo governo, que quer
regulamentá-lo o quanto antes, tornando-o uma opção respaldada por lei.
O novo texto proposto pelo MEC para o
projeto de lei que autoriza a modalidade no país foi aprovado pela Câmara e
está em discussão no Senado. Ele sugere regras mais rígidas que a proposta
anterior do próprio governo, mas ainda consideradas insuficientes por
especialistas. Alunos que estudam em casa precisariam estar matriculados na
escola e seriam submetidos a avaliações trimestrais. Além disso, os pais teriam
que "assegurar a convivência comunitária" das crianças, mas não fica
claro como isso seria fiscalizado.
Críticos defendem que oficializar a
opção fere o direito de frequentar a escola, considerada por eles crucial para
a educação integral e para a socialização. Defensores argumentam que
regularizar o ensino atende ao direito das famílias de decidirem como educar os
filhos e que milhares de adeptos vivem sob insegurança jurídica.
Para a jornalista Priscilla Lima,
pesquisadora sobre o assunto, os motivos para os pais adotarem o ensino
domiciliar são inúmeros. “Crianças com dificuldades de aprendizagem ou que
sofrem com bullying ou violência. Pais que se mudaram para locais distantes de
grandes centros, onde o acesso a escolas é mais difícil ou mesmo que consideram
que há defasagens estruturais no modelo de ensino ou que não concordam com a
ideologia ensinada em sala de aula”, reflete
a jornalista brasileira radicada na Califórnia, criadora do Podcast Mãe! Me Ajuda?, que amplia a
discussão sobre homeschooling de maneira imparcial, assim como propõe tratar de
outros temas ligados à parentalidade e educação dos filhos.
De acordo com a pesquisadora científica
do conhecimento e PHD em psicanálise, Carla Dendasck, entrevistada no podcast,
o mundo está passando por uma fase social complicada em que está cada vez mais
difícil o respeito às diferenças de realidades das famílias e que isso é
necessário para se discutir o homeschooling sem ideologias pré concebidas,
achismo, questões condicionadas políticas ou religiosas. Caso contrário, o país
não chegará em soluções para o tema.
“Muitos pais alegam que o sistema
escolar atual está longe de valorizar as aptidões individuais de cada criança e
se questionam como ajudá-las a desenvolver o máximo potencial. Se um jovem tem
notadamente habilidades artísticas, que não estão relacionadas ao conteúdo
curricular de matemática, ou se uma criança é um matemático e não tem interesse
por literatura, eles deveriam aproveitar o tempo aprimorando o dom que já
possuem em vez de aprender disciplinas para as quais não tem aptidão. Sem
contar a baixa qualidade das escolas e a falta de preparo de muitos
professores”, pondera Dendasck.
A especialista reforça que pais,
governos, entidades da área da educação, precisam considerar que o mundo vive
outra realidade de produção de conhecimento e de aprendizagem. “Hoje se aprende
fórmula de Bhaskara no aplicativo, jovens fazem projetos de engenharia com
todos os cálculos no computador, sem fazer faculdade de engenharia. E ainda
temos que levantar as questões das profissões do futuro. Congressos no mundo
inteiro já debatem que as tecnologias estão revolucionando as profissões, e
áreas como a do direito, engenharia, medicina não são mais praticadas como há
10 anos e serão ainda mais diferentes no futuro”.
Também é importante considerar que hoje
muitas faculdades já não exigem mais o conteúdo de vestibular antigo, inclusive
valorizam outras habilidades como a capacidade de redigir uma boa redação ou
selecionam candidatos que tiveram boas notas no Enem, por exemplo. “Contudo, as
universidades federais ainda praticam o vestibular antigo, de nível superior
restrito. Então, se o objetivo é que o jovem faça uma universidade federal, aí
ele terá um vestibular mais tradicional e os pais tem que pensar nisso”,
ressalta Carla Dendasck.
Sobre a diferença entre homeschooling e
Ensino à Distancia (EAD), a especialista explica que o EAD é ministrado por
professores e cabe aos pais o acompanhamento para verificar se o filho está
estudando ou não. Já no homeschooling, os pais podem usar plataformas e até
mesmo escolas que oferecem Ensino à Distância (EAD), mas não é uma exigência e,
sim, podem escolher quais metodologias vão usar para o ensino dos filhos, claro
que dentro dos parâmetros exigidos da educação. Por exemplo, eles podem
escolher se vão ensinar filosofia durante uma partida de xadrez ou se vão
ensinar biologia presencialmente na fazenda.
Da teoria à prática
Aos pais que gostam da ideia do ensino
domiciliar, mas tem dúvidas se o método pode dar certo na prática, Dendasck
sugere que uma alternativa é testar em um momento de férias escolares. “É
interessante entrar em uma plataforma, procurar opções, testar dicas e técnicas
de outros pais de homeschoolers, tanto para ver se a criança teria condições de
aprender quanto se os próprios pais dariam conta de fazer esse acompanhamento.
Porque educar é complicado. Então é muito importante verificar os prós e
contras de cada realidade familiar”, diz.
Lima comenta que assim como a temática
do homeschooling ganhou evidência na pandemia, outras questões sobre educação
dos filhos e desafios da parentalidade vieram à tona.
Um estudo da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP), de junho de 2020 a junho de 2021, com 7 mil
crianças e adolescentes de todo o país mostrou que um em cada quatro apresentou
ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos. E, segundo os
especialistas, uma relação familiar saudável ajuda a proteger contra o
desenvolvimento desses transtornos.
Foi esse cenário que despertou na
jornalista brasileira, radicada nos EUA há mais de 6 anos, mãe de uma menina de
8 anos, a vontade de produzir conteúdos com opinião de especialistas como
psicólogos, psiquiatras, especialistas em programação neurolinguística, que
promovem reflexões e ajudam pais a enxergar esses temas do relacionamento
familiar de uma forma mais leve.
“Até nos tornarmos mães e pais não
falamos muito sobre os desafios de educar um ser humano. Fala-se pouco sobre
dificuldades e dúvidas e a falta de informação gera inverdades e mais
preconceito. A melhor forma de lidar é discutindo o assunto, de forma ética e
profissional, com informações baseadas em evidências científicas”, diz
Priscilla Lima.
Os temas dos episódios são diversos: birra, educação não violenta, autismo,
excesso de exposição a eletrônicos, alimentação e suas dificuldades, conexão
materna, educação sexual, entre outros.
Para ouvir os episódios basta acessar, de forma gratuita, as plataformas Spotify, Apple Podcast, ou Google Podcast.
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