O futuro das startups com a crise de venture capital
*Fernando Senna
Nos últimos dias, o tom quando se fala
em startups é pessimista. Os destaques ficam para as demissões em massa dos
unicórnios e a queda das super valuations. Com isso, diversas notícias têm sido
replicadas com um tom negativo e pessimista sobre esse mercado.
Entretanto, para contribuir com a
discussão geral e, talvez, trazer um pouco de esperança para os futuros
empreendedores, o que podemos dizer é que nos próximos anos as startups serão
mais cobradas por eficiência e que as valuations serão ainda mais apertadas.
Mas, isso não quer dizer que a partir de agora a busca pelo crescimento
acelerado será banido, pois, certamente, isso não vai deixar de acontecer.
Também entendo que essa situação é
resultado do cenário macroeconômico, e não está restrito às startups. Ou seja,
não estamos nessa discussão porque as pessoas perceberam que os empreendedores
são ruins, ou descobriram scams,
ou bolhas, mas sim por conta de um movimento global e natural de aversão a
risco.
Muitas pessoas têm falado que a visão
agora é crescer de forma mais orgânica e que a era da queima de caixa acelerada
acabou. Eu discordo disso.
Acredito que coisas absurdas, alô Adam Neumann, como fechar contratos de 15
anos que nunca dariam ROI, ou comprar empresas de surf, realmente não vão mais
rolar. Agora, uma estratégia consciente, como o famoso "mês grátis",
que é algo facilmente alterável pode continuar acontecendo.
Isso porque eu acredito que continuar
investindo em growth, mesmo com a margem apertada, zero ou até negativa,
contanto que com uma visão clara de virar em 12–18 meses, seguirá sendo o foco.
Até porque, startups precisam disso para sobreviver, para dominar seus mercados
e evitar que grandes concorrentes, com caixa e saudáveis, tomem seus lugares.
Em especial no early-stage, que a briga tá longe de ser "justa".
A depressão de valor que está acontecendo está conectada ao macro e não aos
acontecimentos do setor. Recessão chegando (ou já até presente), juros e
inflação alta, custos nas alturas. Tudo isso gera bastante aversão à risco.
Mas, mesmo depois da descoberta de
coisas absurdas na era "WeCrashed", eu estou mencionando novamente
porque é um case muito emblemático, continuo adorando a empresa, o status quo
do mercado mudou pouco. Por exemplo: mesmo com o track record que ele tem,
Neumann conseguiu captar US$70M para sua nova startup, e isso vindo de um VC
(venture capitalist) super respeitado.
Com isso, podemos notar que o mercado é cíclico. Só de pensar que há 20 anos
rolou a bolha das ".com" com toda aquela catástrofe ou sobre a crise
de 2008. Estamos passando por um momento duro, e meio que de luto, então só se
fala e se pensa na parte triste, mas, como outras coisas tristes que passamos na
vida, depois de um tempo a gente meio que aprende a viver com aquilo, absorve o
que dá e vai pra cima novamente. Além disso, tem muito capital acumulado e,
historicamente, muita coisa boa surgiu em crises e vai demandar esse capital
para se destacar e alavancar, mesmo em um momento tenso.
E uma parte das super valuations também está ligada ao cenário geral do mundo.
Hoje, com R$1 milhão captados você não faz praticamente nada. Há 6 ou 7 anos
atrás, quando eu comecei a empreender, esse valor era ouro. Tudo isso muda a
dinâmica de valuations, em especial do early-mid stage, porque senão a conta
não fecha pra ninguém.
Tendo dito tudo isso, quero deixar claro que eu concordo que nós, como
founders, precisamos evoluir ainda mais e passar a jogar um jogo em maior
nível. Pensar numa visão de mais médio-longo prazo, saber lidar com a euforia,
respeitar os recursos e tomar decisões mais conscientes. Além disso, podemos
tirar uma série de aprendizados desse momento e a responsabilidade é nossa de
olhar para isso.
Mas, também não concordo com esse discurso pessimista que me parece algo que
vem sendo repetido e repetido sem parar. Para os críticos de plantão, existe
uma força de “acabar” com startups, como se fosse apenas oba, oba, quando se
esquece do quanto de valor as startups podem e já agregam para a
sociedade. Além disso, sem o perfil corajoso de um empreendedor, não
vamos resolver a tonelada de problemas que existe no mundo. Precisamos de
pessoas assim, que pensam fora da caixa, tomam risco e criam coisas incríveis
para o mundo.
Por fim, na minha visão, tem coisas que não vão mudar tanto assim, e tenho
certeza que vai continuar existindo capital para bons empreendedores, que
conseguem entregar margem de contribuição positiva, mesmo que por alguns
momentos, de forma consciente, a decisão seja crescer rapidamente e queimar
caixa. Daqui uns 5–10 anos a gente olha pra trás e vê o que rolou.
Fernando Senna é cofundador da Start Empreendedor, edtech criada por empreendedores para empreendedores, com o propósito de apoiar em todas as etapas da jornada de uma startup, da fase inicial a aqueles que já estão prontos para escalar o seu negócio. Faturou mais de R$ 100 milhões em menos de sete anos como empreendedor.
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