O uso de big data na saúde no Brasil: como selecionar os dados?
*Jorge Carvalho é Head de Health na Semantix
Sabemos que o big data e a inteligência
artificial podem transformar a maneira que o sistema de saúde privado funciona,
mas antes precisamos entender como usar esses dados.
Na obra de Machado de Assis, o
Alienista, o protagonista desenvolve uma obsessão por internar as pessoas que
viviam em um manicômio desenvolvido por ele. A princípio, as internações eram
justificadas e aceitas pela sociedade. Em certo momento, Dr. Bacamarte passou a
enxergar enfermidades em todos, e a internar pessoas que lhe causavam espanto,
deixando o local cada vez mais cheio. Quando a cidade encontrava-se com 75% da
população internada, o alienista, percebendo que sua teoria estava errada,
resolve libertar todos os internos e refazer sua hipótese.
Usando o conto de Machado de Assis para
embasar a discussão, continuo com o questionamento: como o uso de dados pode
auxiliar a decifrar a necessidade de infraestrutura médica hospitalar e
hoteleira? Como a tecnologia pode reduzir a quantidade de exames mensais e
semestrais, e prescrevê-los com mais assertividade?
Vieram a público alguns casos em que
médicos, clínicas, hospitais e outros serviços médicos especializados geraram a
própria demanda, utilizada para oferecer soluções próprias. Por isso, antes de
usar os dados que esses estabelecimentos possuem, precisamos nos questionar:
essas informações são realmente utilizáveis? Como saber a veracidade dos dados
para implantar em plataformas de ingestão, engenharia, ciência e visualização
de dados para assim gerar novas práticas para o segmento? Nas soluções baseadas
em dados na saúde, precisamos nos preocupar com o enviesamento que pode
prejudicar o diagnóstico e tratamento de outros pacientes. Aqui vale a
conhecida frase do “pai da medicina ocidental” Hipócrates, “Primeiro, não
prejudicar”.
O setor de saúde é retardatário em
relação à digitalização, é o 8º depois de mídia, varejo, telecom, financeiro,
produtos embalados e logística. Por isso, surgiram diversas health techs nos
últimos anos. Segundo a Distrito, de 2018 a 2021 o número de startups focadas
no segmento de saúde praticamente triplicou, de 248 a 945 em setembro de 2021.
Que a saúde é um setor robusto e poderoso, ninguém tem dúvidas, mas quando falamos de big data e inteligência artificial é preciso ter cuidado. Checar, verificar, apurar, entender e interpretar são os verbos ideais para atuar nesse campo, e dessa forma ter dados de qualidade para assim gerar as melhores soluções.
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