Tudo o que você precisa saber sobre trombose e como preveni-la e cuidá-la
Por Joyce M. Annichino-Bizzacchi*
Você sabe o que é a trombose venosa
profunda (TVP)? Apesar de ser uma doença grave, você pode fazer a diferença
tendo informações sobre ela. E, em muitos casos, o conhecimento pode,
inclusive, ajudar a preveni-la.
Para chegar ao coração, o sangue venoso
circula contrário à força de gravidade. As válvulas venosas e os músculos das
pernas impulsionam esse sangue. Para uma circulação adequada, o sangue deve ser
líquido, não pode ficar estagnado, seus componentes devem estar em equilíbrio e
a parede das veias precisa estar íntegra. Uma forma simples de pensarmos sobre
o que leva uma pessoa a ter TVP é lembrar das situações que alterem esse
sistema com ativação da coagulação sanguínea.
Para isso, costumo recorrer à comparação
com um copo, com ou sem água. Todos nós, ao nascermos, seríamos considerados um
copo, cada um diferente do outro, e a TVP seria a situação em que esse copo
fica repleto de água, que transborda. Quem tem uma herança genética para TVP já
nasce com água dentro do copo, que pode ser pouca (baixo risco) ou muita (alto
risco). Muitos imaginam que um único fator já explicaria a ocorrência da TVP,
mas ela é uma condição multifatorial. A somatória de vários fatores pode fazer
a água transbordar. Fatores genéticos são menos frequentes e geralmente
aumentam pouco o risco de trombose.
Durante a trajetória de vida desse
“indivíduo-copo”, a exposição aos fatores de risco adquiridos é o mais
relevante para TVP. Cirurgia, hospitalização, uso de contraceptivos hormonais
(principalmente com estrogênio), gestação e pós-parto, terapia de reposição
hormonal, hormônios em altas doses para fertilização in vitro, imobilização,
viagem aérea com duração superior a 6 horas, trauma, câncer e alguns de seus
tipos de tratamento, idade superior a 50 anos, algumas doenças renais,
reumatológicas, hepáticas, hematológicas, varizes, tabagismo, obesidade,
presença de anticorpos antifosfolipídios, entre outros, são fatores de risco
para TVP.
A prevenção à TVP inclui o conhecimento
dos fatores que podem levar à doença e, se possível, preveni-los por meio de um
estilo de vida mais saudável, como controle de peso, prática de exercícios e,
também, uma conversa com seu médico para orientações quanto ao uso de meias
elásticas e anticoagulantes profiláticos em situações de risco. Afinal, apesar
de ser quase impossível evitar que alguma água vá sendo colocada no copo, ter conhecimento
de que essa água está entrando e cuidar para que não derrame, faz toda a
diferença.
Conhecer os sintomas da TVP também é
importante para que se possa procurar um serviço para o diagnóstico e
tratamento corretos. Dependendo principalmente da localização e do tamanho do
trombo, os sintomas são dor, inchaço quase sempre em uma das pernas, alteração
da cor da pele para arroxeado e rigidez da musculatura da “barriga” da perna, a
panturrilha.
O tratamento da TVP é feito com
anticoagulantes e deve ser instituído o mais rápido possível, evitando a
embolia pulmonar e a morte. A orientação médica quanto ao tipo e dose de
medicamento, tempo de tratamento e a adesão do paciente são determinantes para
o sucesso. Em 13 de outubro, lembramos o Dia Mundial da Trombose, que tem como
objetivo aumentar a consciência sobre esta doença entre profissionais da saúde,
pacientes e entidades do governo e do terceiro setor. No entanto, devemos estar
em alerta para essa afecção todos os dias. Apesar de ser uma doença grave e com
risco de vida, a mobilização da sociedade, o conhecimento dos fatores de risco,
a orientação médica e a sua participação podem mudar esse cenário.
(*) Joyce M Annichino-Bizzacchi é médica hematologista, professora e coordenadora da área clínica e laboratorial de Doenças Tromboembólicas do Hemocentro da Faculdade de Medicina da Universidade de Campinas (Unicamp), responsável pelo Centro de Doenças Tromboembólicas do Hemocentro da Unicamp, apoiado pela FAPESP e em parceria com a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH), vice-presidente da SBTH e uma das especialistas porta-vozes do Dia Mundial de Trombose, no Brasil
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