Agosto é o Mês da Visibilidade Lésbica: onde estão as lésbicas nas empresas brasileiras?
A especialista em diversidade, Liliane Rocha,
chama a atenção para a interseccionalidade, aspecto que aumenta ainda mais a
invisibilidade de lésbicas na sociedade e nas empresas
Estamos no Mês da Visibilidade Lésbica,
com duas importantes datas a celebrar. Em 19 de agosto é comemorado o Dia do
Orgulho Lésbico, data em que foi realizada a primeira grande manifestação de
mulheres lésbicas no Brasil, no ano de 1983 em São Paulo, no que ficou
conhecido como o "Stonewall brasileiro". Naquela ocasião, as
ativistas do Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf) ocuparam o Ferro's Bar para
protestar contra os abusos e preconceitos que vivenciavam no local.
Já o dia da Visibilidade Lésbica,
celebrado em 29 de agosto, foi criado em 1996, durante o 1º Seminário Nacional
de Lésbicas (SENALE), no Rio de Janeiro. Lá, foi estabelecido que a data seria
um marco no país pela busca por direitos e dignidade, pela livre expressão das
sexualidades e pela diversidade de orientação sexual e identidade de gênero.
Desde 2008, durante a Conferência
Nacional GLBT, a letra L de Lésbica passou a estar na frente da sigla LGBT+ com
o intuito de dar maior visibilidade às lésbicas. Hoje, mesmo representando
a primeira letra da sigla LGBTQPIAN+, lésbicas continuam sendo invisibilizadas,
inclusive dentro do próprio movimento.
Essas mulheres enfrentam grandes
desafios e obstáculos, já que a questão da interseccionalidade – mulheres
(gênero) e lésbicas (orientação sexual) – potencializa as dificuldades
cotidianas enfrentadas pelo acúmulo e sobreposições do enfrentamento ao
machismo, misoginia, lesbofobia e afins. “Até a revolução feminista
contemporânea ocorrida na segunda metade da década de 1960, mulheres não tinham
sequer direito a sexualidade, quem dirá a homossexualidade”, reforça Liliane
Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós - Consultoria de Sustentabilidade e
Diversidade.
Os desafios vêm de diversos setores,
como demonstram dados do Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil do Instituto
Patrícia Galvão. Divulgado em 2018, o documento mostra que 29% dos assassinatos
de mulheres lésbicas ocorrem dentro de sua residência, 89% dos lesbocídios
foram causados por homens e 35% das mortes foram cometidas por alguém com
vínculo afetivo ou familiar.
Paralelamente à violência que mulheres
lésbicas estão expostas todos os dias, apenas por serem quem são, existe outro
ponto importante de apagamento que precisamos destacar: a falta de oportunidade
para lésbicas dentro das empresas.
De acordo com os dados do estudo
inédito Representatividade,
Diversidade e Percepção - Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022,
realizado com mais de 26 mil respondentes entre 2019 e 2021, no quadro geral
das empresas, lésbicas representam apenas 1% e mulheres bissexuais 1,4%,
enquanto mulheres heterossexuais são 29,5%, frente a 64,8% de homens
heterossexuais. “Na composição da liderança, em termos de Orientação Sexual, há
uma queda de 2 pontos percentuais em relação à autodeclaração no quadro
funcional, indicando que o afunilamento na pirâmide hierárquica das empresas
segue confirmando a regra de que quanto mais marcadores identitários, menor a
presença e a representatividade nas estruturas organizacionais”, ressalta Liliane
Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós - Consultoria de Sustentabilidade e
Diversidade.
Já quando falamos de liderança, os dados
são ainda mais alarmantes. Líderes heterossexuais são 96% das autodeclarações
e, ainda, como um reflexo da baixa representatividade de mulheres nessas
estruturas, observa-se um impacto direto na relação Líderes Gays versus Líderes
Lésbicas, cujo percentual chega a ser cerca de 2 vezes maior para os homens,
cenário que também se reflete no quadro geral.
“Ainda, de acordo com o estudo da Gestão
Kairós, 33% dos casos de discriminação e preconceito relatado pelos(as)
respondentes estão relacionados à Diversidade Sexual (Orientação Sexual e
Identidade de Gênero) e, não coincidentemente, o segundo grupo mais relacionado
é Gênero com 29%, o que conversa diretamente com a baixa representatividade e a
baixa taxa de autodeclaração quando falamos da sexualidade de mulheres que
carregam esse duplo marcador identitário”, explica a executiva.
Hoje, segundo a Escala Kinsey, pelo
menos 20 milhões de brasileiros são homossexuais, então onde estão as mulheres
lésbicas dentro desta população?
“Minha percepção é de que as empresas
estão mais atentas para a inclusão e valorização da diversidade, mas boa parte
das estratégias estão focadas em ações para as outras letras da sigla
LGBTQPIAN+. É preciso aprimorar o entendimento e o debate sobre
interseccionalidade, e contemplar todas as pessoas nas estratégias
empresariais. E fazer desse objetivo uma política séria, de forma que envolva a
contratação, retenção, e o desenvolvimento de uma cultura organizacional que
olhe para as mulheres lésbicas de forma assertiva e duradoura!”, finaliza a
executiva Liliane Rocha.
Abaixo, dados do estudo da Gestão Kairós.
Dados Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022
- Quadro Funcional Geral
Gestão KairósDados Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022
- Quadro Funcional Geral
Gestão Kairós
Liliane Rocha_CEO E Fundadora da Gestão Kairós Fotógrafo Nicola Labate |
Liliane Rocha - Fundadora e CEO da Gestão Kairós
– Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade. Especialista há 17 anos em
Sustentabilidade e Diversidade em grandes empresas. Foi eleita recentemente uma
das 50 Mulheres de Impacto da América Latina pela Bloomberg Línea. É
Conselheira Consultiva de Diversidade da AmBev, da Novelis do Brasil, do CEOs’
Legacy - Iniciativa da Fundação Dom Cabral e do Conselho do Futuro do IBGC
(Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
Docente na Pós-Graduação de
Sustentabilidade e Diversidade na FIA /USP, no SENAC e na Pós-PUCPR Digital.
Mestre em Políticas Públicas e MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade pela
FGV, Especialização em Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação
Dom Cabral, e Relações Públicas pela Cásper Líbero.
Autora do livro “Como ser um líder inclusivo”, detentora oficial do conceito Diversitywashing – Lavagem da Diversidade – no Brasil, desde 2016. Colunista da Época Negócios, na coluna Diversifique-se, da VOGUE, na coluna Negócios e, mais recentemente, do InvestNews, na coluna ESG News com Liliane Rocha. Reconhecida por três anos consecutivos como uma das 101 Lideranças Globais de Diversidade e Inclusão pelo World HRD Congress.
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