Clima: a pecuária brasileira é o vilão ou a solução?
Eduardo Lunardelli Novaes, conselheiro técnico da Associação nacional da pecuária intensiva – ASSOCON
A pecuária brasileira
de ponta é parte da solução para a diminuição da emissão de gases de efeito
estufa, seja pelo vigor do sequestro e armazenagem de carbono das pastagens
tropicais bem manejadas, seja por conta de seu consistente aumento de
produtividade, em que se produz mais quilos de carne e litros de leite com
emprego de menor volume de recursos naturais. Adicione a esses elementos a
conservação de reservas legais e APPs e ninguém conseguirá competir com a carne
brasileira do ponto de vista de pegada de carbono.
Não há mecanismo mais
barato e eficaz para se sequestrar carbono da atmosfera do que aquele chamado
"fotossíntese". É precisamente a atividade econômica pecuária que tem
a responsabilidade de garantir que esse mecanismo se manifeste em um parcela do
território brasileiro maior que as áreas da França, Espanha, Alemanha, Italia e
Holanda, somadas. Sem a presença do investimento do pecuarista no bom manejo de
pastagens, parte considerável dessa área iria se degradar, tornando-se, no
limite, deserto. Nesse caso, essas áreas perderiam sua frágil camada fértil de
solo, deixando consequentemente de propiciar condições para que carbono seja
retirado da atmosfera. O próprio processo de desertificação é, aliás e por si
só, grande emissor de gás metano. Já as Reservas Legais e APPs dessas
propriedades, que do mesmo modo contribuem para a remoção e armazenamento de
carbono, são também financiadas pela pecuária. Em outras palavras, combater o
consumo e a produção da carne brasileira é trabalhar, não só pela fome, mas
também em prol de verdadeira calamidade ambiental.
E por que isso não é
reconhecido? O esforço multilateral de regulação climática global não passa de
uma disputa distributiva entre países e indústrias. O que está em jogo é a
decisão de quem pagará a trilionária conta da redução das emissões líquidas de
gases de efeito estufa no mundo. Quem pode mais, chora menos. Mas também, de
quem se beneficiará, evidentemente. Dessa forma, existem essencialmente três
razões que levam o Brasil a ter uma imagem ruim no debate climático global, em
franco arrepio à realidade que se observa na natureza. A primeira é que, sendo
o país mais verde do planeta, não interessa a nenhuma nação rica do mundo ter o
Brasil como modelo, como benchmark. São interesses econômicos
e geopolíticos que se manifestam, acima de tudo mas não somente, através de
metodologias de contabilidade climática que pretendem desprezar vantagens
competitivas como as que temos. A segunda é o desconhecimento e preconceito da
opinião pública, em especial no próprio Brasil, em relação à realidade da
atividade agropecuária em geral. Não cabe a ninguém, a não ser ao próprio setor
rural continuar trabalhando em boa comunicação para a reversão desse quadro. E
a terceira, a falta de uma cultura arrojada de relações externas no Brasil que
privilegie prementemente os interesses nacionais à luz de nossas vantagens
comparativas e competitivas. Só assim poderemos, no futuro, seguir cumprindo
nossa missão de alimentar o mundo e conquistar, assim, protagonismo cada vez
maior.
Cabe ao pecuarista, em suma, seguir perseguindo o equilíbrio econômico-financeiro e permanente aumento de eficiência de sua atividade, sempre em respeito ao Código Florestal. Ao fazê-lo, estará automaticamente incrementado os indicadores ambientais e climáticos de sua propriedade. No entanto, como já é evidente, é primordial conseguir demonstrar as relações de causa e efeito inerentes à sua atividade de forma clara, primeiro à opinião pública brasileira, depois à mundial.
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