Crise entre China e Taiwan: como o conflito pode afetar a economia brasileira?
Especialista comenta a forte dependência das
indústrias brasileiras de produtos advindos da região asiática
São Paulo, agosto de 2022 – Os conflitos entre os vizinhos Rússia
e Ucrânia tem se intensificado desde o início das invasões russas em fevereiro
deste ano. As hostilidades entre os dois países trouxeram grandes impactos para
o mercado brasileiro, resultando em crise no valor de combustíveis e impactos
para o setor agrícola – além de causar a falta de alimentos em algumas partes
do mundo e trazer riscos de uma crise energética na Europa.
No entanto, outro conflito de proporções
econômicas potencialmente ainda mais catastróficas pode estar em vias de dar
seus primeiros passos. A recente visita a Taiwan da presidente da Câmara de
Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, no dia 02 de agosto, levantou
a ira do governo chinês, que entende o encontro como uma afronta à soberania do
país na região. Como resultado, mísseis foram lançados sobre a ilha autônoma, e
uma rigorosa sanção econômica foi imposta – com a suspensão de importação de
itens como frutas e produtos de pesca.
“Um conflito armado entre as duas nações
asiáticas pode causar uma crise econômica sem proporções desde a Segunda Guerra
Mundial”, explica Helmuth Hofstatter, CEO e founder
da Logcomex, empresa de soluções para Comércio Exterior. “A indústria chinesa
tem forte presença na economia mundial, e as rotas marítimas entre a China e
Taiwan é uma das mais movimentadas do mundo”.
Para o Brasil, os impactos seriam de
grandes proporções dada a forte dependência da indústria brasileira de produtos
importados dessa região, principalmente semicondutores. No primeiro semestre de
2022, o país importou mais de 1 bilhão de dólares, cerca de 5 bilhões de reais
de Taiwan - um crescimento de 5% em comparação ao mesmo período do ano
anterior. “Os produtos mais importados dessa região são os semicondutores,
chips e processadores, que somam 30% de toda a chegada desse tipo de produto no
país. Das importações de Taiwan, 50% foram semicondutores, processadores e
componentes eletrônicos”, pontua o executivo da LogComex.
As mercadorias são em larga escala
encaminhadas para empresas do ramo automotivo, eletroeletrônicos,
eletrodomésticos e informática. “Havendo uma interrupção no suprimento desses
processadores e controladores, essas indústrias brasileiras precisarão buscar
novos países para realizar o abastecimento de estoque. Nesse trâmite, a quebra
da cadeia de suprimentos afetará diretamente a oferta destes produtos, podendo
ocasionar uma alta nos preços de bens duráveis”, completa.
Quais regiões seriam as mais afetadas no
Brasil?
A partir de uma análise de dados de
importação fornecidos pela LogComex, observa-se que o estado de São Paulo é
responsável por cerca de 37% de todas as importações brasileiras vindas de
Taiwan, sendo a localidade mais afetada economicamente por uma eventual
variação de preços.
O estado do Amazonas - por abrigar as
principais indústrias de eletroeletrônica do Brasil, está em segundo lugar, com
30% das importações brasileiras advindas da ilha asiática; e Santa Catarina
ocupa o terceiro lugar, sendo responsável por 13% desses negócios.
“Se avaliarmos os 779 mil embarques
realizados no primeiro semestre do ano, 45% passaram por rotas que seriam
diretamente afetadas caso uma guerra entre China e Taiwan se iniciasse”,
finaliza Hofstatter. “Avaliando as atividades militares dos últimos dez dias,
existem grandes chances de os portos da região serem fechados e toda a cadeia
de suprimento mundial ser diretamente impactada”.
Sobre a Logcomex
Fundada em 2016, pelos empreendedores Helmuth Hofstatter Filho e Carlos Souza, a Logcomex é uma startup que se propõe a organizar as informações do comércio global para transformar a maneira que as empresas fazem negócios, oferecendo soluções de visibilidade e data analytics para todos os elos do comércio exterior.
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