Economia prateada e a importância de se pensar o futuro já a partir do presente
Indicadores mostram que as pessoas estão
vivendo cada vez mais e que, por isso, há um extenso mercado de consumo para os
idosos; especialista pontua que apesar disso, empresas ainda patinam na
comunicação com os idosos e explica como esse público pode garantir a
manutenção da independência financeira
A revolução tecnológica e científica e
os avanços na medicina têm feito com que a expectativa de vida dos brasileiros
aumente durante as décadas. A título de comparação, uma pessoa nascida na
década de 1940 tinha expectativa de viver até 45 anos, número que saltou para
76 anos em 2019, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas (IBGE).
Ainda segundo o IBGE, na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2021 cerca de
14,7% dos aproximadamente 212 milhões de brasileiros eram idosos. Em números
absolutos, isso representava 31,2 milhões de pessoas acima dos 60 anos.
E a tendência é que esse número aumente
consideravelmente. Uma projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) mostra que em 2100 a população de idosos no país deve representar
incríveis 40,3%.
“O levantamento considera cenários
distintos para a realidade populacional do país dentro de um horizonte de 90
anos e, em todos eles, é evidente o processo de envelhecimento populacional, o
que indica que, independente das hipóteses adotadas, a mudança da estrutura
etária no país é inevitável”, concluíram os pesquisadores.
Márcia Sena, especialista em longevidade
ativa e fundadora e CEO da Senior Concierge, empresa que pratica um modelo de
atenção integrada para dar suporte as pessoas com mais de 60 anos, pontua que a
maior longevidade dos brasileiros e brasileiras acaba refletindo em toda a
estrutura da economia. Por causa desse público consumidor cada vez maior, há
alguns anos nasceu o conceito de “economia prateada”, que indica esse mercado
de produtos e serviços voltados a idosos.
“Aposentadoria não é mais sinônimo de
estagnação na vida. Com idosos mais saudáveis e vivendo, em média, até quase 80
anos, se aposentar aos 60 e poucos anos não significa deixar de ser uma pessoa
economicamente ativa. Muito pelo contrário. As empresas estão percebendo que
idosos têm demandas e necessidades como qualquer outra faixa etária, o que tem
feito com que seja criado todo um novo setor comercial”, afirma.
Idosos consumindo mais
Também chamado de “economia da
longevidade”, o mercado de consumo para idosos é bastante grande no Brasil. A
agência de relações públicas e marketing norte-americana FleishmanHillard
indica que os idosos movimentam cerca de R$ 1,6 trilhão por ano.
Apesar do alto valor, que corresponde a
quase 20% do consumo do país, as pessoas com mais de 60 anos enxergam vários
problemas ao fazerem compras de produtos e serviços. Na mesma pesquisa da
FleishmanHillard, 72% dos idosos entrevistados disseram que reconhecem um
despreparo nas lojas e outros 65% disseram que não acreditam na adequação de
marcas para atender às suas necessidades. Enquanto isso, 52% afirmaram ter
dificuldades para encontrar produtos que atendam suas vontades.
Márcia Sena argumenta que os
empreendimentos ainda voltam toda a comunicação e linguagem para públicos mais
jovens. Nesse caso, a publicidade é voltada principalmente para os “millenials”, que são aquelas
pessoas que nasceram entre meados de 1981 e 1995, e que tem hoje entre 41 e 27
anos.
“Como essa faixa representa a maior
fatia da população economicamente ativa do país, as empresas acabam focando
seus esforços para tentar fazer com que essas pessoas consumam seus produtos.
Isso gera um descaso muito grande com os idosos, que seguem consumindo e
representam um mercado trilionário”, salienta a especialista.
A falta de ações comerciais específicas
para quem tem mais de 60 anos resulta em uma falta de senso de pertencimento.
Um levantamento da Pipe.Social com a Hype60+, chamado de “Tsunami Prateado”,
salienta que 52% dos idosos não são fieis a nenhuma marca, por exemplo. Com o
público acima dos 75 anos esse número é ainda maior: 74% dizem não ter marca
favorita.
“Do outro lado, essa falta de
representatividade gera oportunidades. Empresas que adotarem estratégias
colocando os idosos como foco terão um adicional competitivo bastante grande, já
que esse público crescerá muito nos próximos anos e décadas”, defende Sena.
Planejamento para garantir autonomia na
velhice
Além de não ser mais sinônimo de caminho
para o fim como consumidor ativo, a aposentadoria também não indica mais que as
pessoas estão encerrando a vida profissional. Muito pelo contrário. Com a
Reforma da Previdência, por exemplo, a idade mínima para aposentadoria chegará
aos 65 anos para homens (em 2029) e 62 anos para mulheres (em 2031).
Márcia Sena lembra que um dos reflexos
do alongamento da vida das pessoas é justamente a manutenção das atividades
profissionais. Mesmo atualmente, boa parte das pessoas continuam trabalhando
mesmo após receberem o benefício do INSS. Dentre os motivos para isso está o
fato de que muitas vezes o dinheiro é insuficiente para manter um padrão de
vida desejado.
“Por isso é essencial que as pessoas
realizem um planejamento para envelhecer com antecedência. É preciso se
programar para usufruir bem do dinheiro na velhice e ter condições de ter um
suporte para manter a autonomia”, diz.
A especialista em envelhecimento
ressalta que o aumento dos anos de atividade faz com que muitas pessoas
invistam em outras profissões ou até em negócios próprios para ampliar a renda.
Nos Estados Unidos – já que o fenômeno do aumento de expectativa de vida é
praticamente global – existem profissionais específicos que realizam
consultoria financeira para quem quer chegar na terceira idade com boas
reservas.
A pesquisa How Well Do Retirees Assess The Risks They Face In
Retirement?, ou “Como os aposentados avaliam os riscos que
enfrentam na aposentadoria?”, realizada pelo Centro de Pesquisa de Aposentadoria
da Boston College, aponta questões que devem ser levadas em consideração para
quem quer ser financeiramente independente depois dos 60 anos:
- É preciso avaliar os riscos de
saúde: ou seja, se planejar para
gastos emergenciais por causa de problemas médicos;
- É preciso avaliar os custos
políticos: a mudança de governos acaba
muitas vezes alterando também a direção de benefícios sociais como a
Previdência Pública. Por causa disso, é essencial estar atento aos rumos
das políticas sociais;
- É preciso avaliar a própria
longevidade: muitas vezes, as pessoas agem
com expectativas muito baixas em relação a própria longevidade. Por isso,
o indicado é sempre realizar um planejamento esperando uma vida mais
longa;
- É preciso avaliar o mercado:
as decisões políticas, por exemplo, acabam afetando o mercado, gerando
eventos em cadeia que desvalorizam (ou valorizam) a moeda. Para quem está
pensando a longo prazo, é importante entender a volatilidade da economia
para saber quais os investimentos mais adequados, prazos, riscos e etc.
- É preciso avaliar questões
familiares: além de pensar na própria
condição, quem se planeja para ter uma aposentadoria tranquila precisa
colocar na equação o risco familiar. Saber que está exposto a questões
como morte na família, divórcios, desemprego ou doença de filhos, pais e
cônjuges pode ser um diferencial na hora de elaborar um plano.
“Ponderar todas essas coisas pode
garantir aos 60+ não apenas uma boa condição financeira, mas consequentemente
uma boa saúde e bem-estar físico e emocional”, finaliza Márcia Sena.
Márcia Sena, especialista em longevidade ativa e CEO da Sênior Concierge |
Sobre Márcia Sena
É fundadora e CEO da Senior Concierge e
especialista em qualidade de vida na terceira idade. Tem MBA em Administração
na Marquette University (EUA) e experiência em várias áreas da indústria
farmacêutica.
Criou a Senior Concierge a partir de uma
experiência pessoal de dificuldade de conciliar seu trabalho como executiva e
cuidar dos pais que estão envelhecendo. Se especializou nas necessidades e
desafios da terceira idade e desenvolveu serviços com foco na manutenção da
autonomia dos idosos no seu local de convívio, oferecendo resolução de
problemas de mobilidade, bem-estar, tarefas domésticas do dia a dia e
segurança.
Sobre a Senior Concierge
É uma empresa com um novo jeito de dar suporte aos 60+, com um modelo de atenção integrada e centrada nas reais necessidades dos adultos maiores. Uma resposta dos novos tempos para um modelo que se esgotou, que é o modelo curativo baseado nas doenças, praticado por outras empresas de home care. Com a proposta de garantir um envelhecimento prazeroso, proporcionando qualidade de vida e bem-estar aos familiares.
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