Em crise econômica: como fazer escolhas quando as opções são escassas
Na visão de Uranio Bonoldi, cenários de
retração exigem avaliação cuidadosa na tomada de decisões
Ainda que, de acordo com o IBGE, o nível
de desemprego esteja caindo, tendo fechado em maio deste ano no nível mais
baixo desde 2015, as dificuldades ainda são sentidas pelo trabalhador. Segundo
levantamento do Sebrae, 67% dos novos Microempreendedores Individuais (MEIs)
tinham emprego fixo antes de 2020. Em função da crise instalada pela pandemia,
muitos optaram por trabalhar como autônomos, tendo sido registrados mais de 6
milhões de novos MEIs. O período de crise aguda mostrou que diante do menor
poder de compra e sem terem outras alternativas, as pessoas foram levadas a
empreender para garantir o sustento de suas famílias.
O cenário econômico, portanto, revelou
ser um fator de peso no processo de tomada de decisões, uma vez que períodos de
crise reduzem as oportunidades e impedem que as pessoas escolham com maior
liberdade o que farão na carreira e nos negócios. Isso é o que aponta Uranio
Bonoldi, escritor e especialista em tomada de decisão. “Quando a economia está
bem, uma pessoa pode, por exemplo, preferir um emprego que traga mais
satisfação pessoal mesmo que o salário seja menor. Mas numa crise, não dá para
escolher. Ela opta pelo trabalho que vai pagar as contas, mesmo que isso lhe
custe seu bem-estar, o que não seria o ideal”, diz.
O tema é abordado pelo autor no livro
“Decisões de alto impacto: como decidir com mais segurança e consciência na
carreira e nos negócios”, no qual ele apresenta um método próprio para tomada
de decisões. Na obra também é apresentada a diferença entre as escolhas,
classificadas como “fáceis” ou difíceis” segundo os seguintes critérios:
- FÁCEIS: têm pouca liberdade de
escolha, consequências são a curto prazo e têm baixo impacto no agente
decisor e em terceiros;
- DIFÍCEIS: têm ampla liberdade
de escolha, consequência normalmente se dão a longo prazo e têm alto
impacto no agente decisor e em terceiros.
Porém, quando se fala em crise,
coloca-se um elemento no hall das
decisões fáceis que pode causar alto impacto, criando um paradoxo difícil de
encarar. “Em circunstâncias de alta tensão, as escolhas se enquadram no campo
das decisões fáceis, pois têm pouca liberdade de escolha e consequências a
curto prazo. Porém os impactos são altos, pois podem afetar a renda e até mesmo
a sobrevivência do agente decisor e de terceiros”, diz Bonoldi.
Para ilustrar a questão, o autor
menciona o navegador Amyr Klink, que foi entrevistado para o livro. “Ele
acredita que tomar decisões em alto mar é muito mais fácil que escolher
investimentos sentado à uma escrivaninha. ‘É viver ou morrer’, ele diz.
Portanto, é uma decisão fácil, mas de alto impacto”. Segundo o autor, em
momentos de crise e alta tensão, as decisões devem ser tomadas com maior frieza
(isolando o medo) e racionalidade. “É necessário escolher de forma rápida e no
sentido de preservar a nossa vida e daqueles que nos rodeiam”, aponta o
escritor.
Muitas vezes as alternativas que se
apresentam em momentos de crise não são as mais desejáveis. No cenário em que
uma pessoa está em um ambiente de trabalho tóxico e o mercado está em retração,
por exemplo, ela poderá se ver dividida entre pedir demissão impetuosamente,
correndo risco de passar necessidade, ou ser paciente e suportar o trabalho
para buscar uma melhor alternativa em momento mais favorável. “Acontece de não
estarmos confortáveis com a decisão que vamos tomar, porém, se parecer ser o
caminho que causará o menor dano a nós e ao nosso entorno, teremos que seguir
por ele”, aponta Bonoldi.
As decisões não devem ser
necessariamente feitas de forma rápida, caso não represente risco de vida. “Mas
incondicionalmente, devem ser refletidas e feitas com consciência”, opina. Em
situações de crise, o ponto focal das decisões deve ser a ponderação de qual
alternativa vai garantir a subsistência de si e de terceiros, ainda que sejam
decisões temporárias. “Quando o cenário econômico muda e novas possibilidades
se abrem, aí sim a pessoa terá maior liberdade para trilhar o caminho que
realmente gostaria”, pontua o escritor.
Sobre o autor:
Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão, é professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre "Poder e Tomada de Decisão". Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO.
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