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Healthtechs: a expectativa e a realidade desde 2020

Por Leandro Rubio, médico Cardiologista e CEO da Starbem

As healthtechs, sem dúvida, são o futuro do que o mundo espera experimentar quando falamos sobre prestação de serviços de saúde. Devido à tecnologia e com o advento da inteligência artificial (IA), as healthtechs podem oferecer atendimento em tempo real a dezenas de milhões de pessoas, além de identificar tendências de demanda e possibilidades futuras. Se no começo de 2020 havia pouquíssimos players de telemedicina no mercado, até porque não existia nenhuma lei que amparasse e liberasse essa maneira inovadora de cuidar dos pacientes, hoje o cenário é totalmente diferente.

Em abril de 2020, quando o coronavírus começou a se alastrar entre os brasileiros, a Lei 13.989/2020 liberou a prática da telemedicina em caráter emergencial durante a crise sanitária. No começo de 2022, o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou a prática, o que contribuiu para continuar garantindo esse modelo de atendimento sem fronteiras, basta a pessoa ter um celular e acesso à internet. Hoje, o Brasil possui 747 healthtechs, segundo o levan­tamento da plataforma de inovação Distrito, e dados da Global Market Insights mostram que a tendência mundial aponta para uma movimentação em digital health de US$ 379 bilhões até 2024.

Antes de 2020, a telemedicina já era utilizada na comunidade médica entre os profissionais, como quando, por exemplo, um médico especialista ajudava um clínico geral  remotamente em alguma situação de alta complexidade . Curiosamente, quando começou a ser utilizada, por causa da pandemia para auxiliar as pessoas que estavam isoladas e doentes, muitos médicos tradicionais e experientes viram como algo desafiador sair da interação presencial e se adaptar à tecnologia. 

Essa mudança radical, nascida da necessidade, foi possibilitada por fatores como: 1) maior disposição do consumidor em usar a telessaúde, 2) maior disposição do provedor em usar a telessaúde, 3) mudanças regulatórias permitindo maior acesso e reembolso. Durante a pandemia, a telessaúde foi uma ponte para o atendimento, e agora oferece a chance de reinventar modelos de atendimento virtual e presencial com o objetivo de melhorar o acesso, os resultados e a acessibilidade dos serviços de saúde.

Desde então, as startups continuam evoluindo exponencialmente e com mais adaptabilidade às novas necessidades dos clientes, sejam eles B2C ou B2B. Podemos contar com cada vez mais tecnologia, com melhor fluxo centrado no paciente, com aplicações mais intuitivas e amigáveis que, inclusive, auxiliam os métodos tradicionais de atendimento.

A crescente aceitação do consumidor, o ambiente regulatório e o forte investimento neste espaço estão contribuindo para que a telessaúde seja cada vez mais uma opção robusta de atendimento. Estamos observando uma rápida evolução do espaço e inovação para além da conveniência do “atendimento virtual”. Inovações em torno de cuidados virtuais (tanto para pacientes crônicos como para questões agudas e de baixa complexidade), habilitação de cuidados em casa por meio de monitoramento remoto de pacientes e autodiagnóstico, investimento em ferramentas de diagnóstico remoto, trarão novos modelos de atendimento para os consumidores.

As healthtechs também estão ampliando o acesso ao cuidado da saúde mental, com consultas online de psiquiatras e psicólogos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os casos de ansiedade e depressão cresceram mais de 25% na pandemia, e os casos de burnout nas empresas se multiplicam cada vez mais, aumentando a demanda por serviços de apoio psicológico para os funcionários. 

O mercado ainda dispõe de espaço para muitas startups neste segmento, mas os desafios que já existiam permanecem: preocupações sobre a integração do fluxo de trabalho e a eficácia em comparação com visitas presenciais, além da falta de conscientização sobre as ofertas de telessaúde e de conhecimento sobre os tipos de necessidades de atendimento que podem ser realizados virtualmente. Por isso, só vão sobreviver as healthtechs que tiverem um produto bem validado no mercado, que de fato se enquadre e contribua para a resolução de problemas do nosso sistema de saúde público e privado, além, é claro, da captação de recursos financeiros para manter a operação. 

A hora de agir é agora. A crise atual demonstrou a relevância da telessaúde e criou uma abertura para modernizar o sistema de saúde. Essa modernização será alcançada incorporando a telessaúde nos cuidados em escala. Em um mercado que entre 2021 e 2022, entre investimentos e M&As, somou R$ 1,79 bilhão no Brasil, as healthtechs que sairão à frente serão aquelas que agirem de forma decisiva, investindo para desenvolver soluções em escala, trabalhando duro para reconectar o modelo de prestação de cuidados e fornecendo serviços diferenciados de alta qualidade aos consumidores.

 

Leandro Rubio é CEO da healthtech Starbem e cardiologista com títulos de especialista pelas Sociedade Brasileira de Cardiologia e Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. É um dos fundadores do projeto Missão Covid. Foi Coordenador do Núcleo de Cardiologia do Hospital Samaritano Higienópolis  Possui MBA na Fundação Getúlio Vargas e pós-graduação em Stanford.

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