Setor de florestas elabora plano para impulsionar mercado brasileiro de remoções de carbono na COP 27
Regulamentação das transações envolvendo
certificados de remoções de CO2e é próximo desafio do encontro do clima
Empresas, pesquisadores e lideranças da
silvicultura brasileira estão se mobilizando para incluir o potencial de
remoção de carbono das florestas plantadas brasileiras nas discussões sobre
esse novo mercado na COP 27, previstas para novembro, no Egito. A conferência
terá como um de seus objetivos fundamentais a implementação dos artigos 6.2 e
6.4 do Acordo de Paris, que tratam das negociações de certificados de remoções
de CO2e entre países para o cumprimento de suas NDCs - em português,
Contribuição Nacionalmente Determinada, que reúne as metas do país para conter
o aquecimento global, bem como para as organizações compensarem suas
emissões.
Atualmente os créditos de remoção de
carbono das florestas plantadas são cada vez mais reconhecidos como grande
esperança contra o aquecimento global, pois a redução de emissões se mostrou
insuficiente para limitar o aumento das temperaturas em 1,5ºC neste século.
Novas tecnologias de remoção estão sendo desenvolvidas e certificadas, e o CO2e
comprovadamente removido por empresas ambientalmente engajadas começou a ser
negociado recentemente como crédito, a um preço a partir de 100 euros por
tonelada.
Em encontro recente intitulado “Diálogos
sobre Silvicultura de Carbono”, organizado pelo Instituto de IPEF - Pesquisa e
Estudos Florestais em Piracicaba (SP), a Aperam BioEnergia foi convidada a
apresentar seu case de sucesso no mercado de carbono. Localizada no Vale do
Jequitinhonha (MG), a unidade florestal da Aperam South America fez
recentemente a primeira venda de uma empresa brasileira no mercado de remoções
de CO2e.
O Engenheiro Florestal da Aperam
BioEnergia, Mario Melo, foi um dos palestrantes. Com o tema “Certificação de Carbono em Florestas
Plantadas", ele apresentou as ações inovadoras e inéditas da
unidade, uma parceira fundamental da Aperam South America em sua jornada de
sustentabilidade. "Graças às florestas da BioEnergia, a empresa se tornou
a primeira do mundo em seu segmento a atingir a neutralidade entre emissões e
remoções de carbono nos escopos 1 e 2”, lembrou o engenheiro.
Mario também ressaltou o pioneirismo da
BioEnergia com o contrato de comercialização de carbono celebrado com a
canadense Invert Inc., abrindo as portas desse novo negócio para o Brasil.
Devido às estratégias de sustentabilidade, tecnologias e processos, a Aperam
BioEnergia comprovou ter removido 1.100 toneladas de CO2e da atmosfera com a
aplicação de uma biomassa conhecida como Biochar no solo de suas florestas
plantadas, que retém o dióxido de carbono por centenas de anos. O Biochar é uma
parte do carvão vegetal produzido na unidade com a madeira das florestas
renováveis de eucalipto. Por sua granulometria, não é aproveitado na
siderúrgica, em Timóteo, como carvão vegetal para a produção do Aço Verde
Aperam. “Nossa experiência gerou muito interesse porque esse é um mercado ainda
pouco explorado, no qual o Brasil tem um potencial incrível”, disse Mario Melo.
Além de cases de sucesso e apresentação
de estudos de carbono, o encontro organizado pelo IPEF definiu um plano de
ação. Foi criado um grupo técnico permanente, com representantes das empresas
associadas ao IPEF e a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), além de
convidados especiais.
O grupo vai elaborar um documento
científico, no formato executivo, tendo como base os resultados de vários trabalhos
já promovidos no Brasil, no âmbito dos Programas Cooperativos do IPEF e
instituições parceiras. O objetivo da publicação é levar os números e estudos
relevantes sobre o setor para a COP 27.
Segundo Mario Melo, o IPEF possui um
banco de dados extenso de estudos realizados ao longo dos anos, porém não
estava sendo aplicado em inventários de carbono das empresas do setor. O
engenheiro explica que, hoje, para fatores chaves que influenciam diretamente
as remoções de carbono, são utilizados dados e padrões do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que na maioria dos casos não
retrata a realidade das florestas plantadas e nativas do Brasil.
"A ideia principal é reunir esses
dados e fazer um padrão Brasil vinculado ao IPCC, de acordo com região, clima,
relevo etc, para explorarmos nosso real potencial de remoções”.
Hoje no Brasil não temos políticas
claras para isso, a ideia é montar um documento técnico e levar para os órgãos
públicos, Ministério do Meio Ambiente, para ser discutido na COP 27. Colocar o
setor florestal brasileiro em pauta na COP 27.
Entenda a silvicultura de carbono
Diferentemente de outros setores, onde o
carbono faz uma viagem apenas de ida para a atmosfera, as florestas funcionam
como uma via de mão dupla, absorvendo carbono enquanto crescem ou se mantêm, e
soltando quando degradadas ou desmatadas.
Um estudo (https://www.nature.com/articles/s41558-020-00976-6)
publicado em 2021 pela Global Forest Watch em parceria com o World Research
Institute descobriu que as florestas do mundo emitem em média 8,1 bilhões de
toneladas de dióxido de carbono na atmosfera todos os anos por conta de
desmatamento e degradação, e absorvem 16 bilhões de toneladas de CO2e por
ano.
O estudo aponta que, ”em nenhum setor, a
natureza de duas dimensões do fluxo de carbono da floresta é tão aparente
quanto nas florestas manejadas, que são cortadas e replantadas para produzir
madeira".
Nessas áreas de manejo florestal,
algumas porções de árvores são colhidas em intervalos planejados, resultando em
emissões de carbono, enquanto outras são deixadas para crescer, absorvendo
carbono”, explicou o WRI, em artigo.
Segundo o instituto, o que define se
essas florestas serão fonte ou sumidouro de carbono é como elas são manejadas –
quanto tempo entre cada ciclo de colheita, quanto da floresta é cortada, a
idade das árvores e a área total a ser calculada. E é nesse quesito, o manejo,
que o Brasil tem construído uma história de sucesso.
No Brasil, o setor cultiva hoje para
fins industriais 9,55 milhões de hectares de florestas renováveis, boa parte em
áreas que já foram degradadas. Por outro lado, destina 6,05 milhões de hectares
para conservação de florestas nativas, segundo o Instituto Brasileiro de
Florestas.
Juntas, as duas áreas estocam 1,88 bilhão de CO2e. Portanto, além de evitar emissões, como ocorre no desmatamento, a indústria florestal remove e estoca carbono, tornando-se uma das principais esperanças do mundo contra o aquecimento global.
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