Como o cabelo afeta a autoestima de quem está com câncer
* Psicóloga e neuropsicóloga Alessandra Augusto
Receber um diagnóstico de
câncer não é fácil nem para homens e muito menos para as mulheres. Quase
sempre, o tratamento mexe diretamente na autoestima da pessoa, pois a pessoa
pode ficar mais inchada, ganhar peso e, em muitos casos, perder os cabelos e
pêlos do corpo. Para a mulher a perda dos fios está diretamente ligada ao
universo da feminilidade.
O cabelo é um ponto muito
marcante para o público feminino. Ele tem sido tão importante quanto as
vestimentas que usamos para nos identificar. Essa identificação pode ser em
grupos ou dentro de uma cultura.
O paciente com o câncer deve
estar ciente que nem todas as quimioterapias ou tratamento vai levar a perda
dos fios. Mas as que sofrem com a queda, costumam relatar uma perda da
identidade. Sendo assim, é muito comum que ela não se reconheça no espelho.
O trabalho que se faz no
tratamento psicoterápico é fazer com que esse paciente consiga se enxergar além
desses cabelos. É importante deixar claro que essa parte do corpo não define o
que é o feminino, nem mesmo a identidade da pessoa. Isso é um trabalho de
desconstrução.
Ao contrário de algumas outras
doenças também incapacitantes ou debilitantes durante o tratamento, como, por
exemplo, casos de transplantes, a pessoa fica muito debilitada, mas não é tão
visível como no caso do câncer. Todo tratamento que envolve a queda dos pelos é
muito visível e mexe com a imagem daquele indivíduo.
Lembrando que não é só o
paciente que não se reconhece, como também quem está fora desse processo. Não
devemos esquecer que algumas estratégias para ajudar na autoestima dessa pessoa
são o uso de perucas, lenços e turbantes, no caso de mulheres e crianças. Os
homens, muitas vezes, sentem a queda dos cabelos, mas eles lidam melhor com a
falta de fios.
Infelizmente, os olhares que
essa pessoa vai receber são muito devastadores. É um olhar de pesar ao ver a
criança, a mulher ou até mesmo o homem sem os cabelos. Esse paciente está em
processo de tratamento e haverá altos e baixos em relação ao comportamento e
até mesmo o ânimo dele. Por isso, é fundamental que a família e amigos possam
dar o suporte emocional ao paciente.
Falas de pesar neste momento
não são adequadas. Evite frases como “que pena!” ou “Coitado!”. Devemos
entender que a pessoa está passando por um tratamento e que devemos ter
palavras positivas, incentivadoras, motivadoras e de conforto, como, por
exemplo, “Estou torcendo por você e se precisar estou aqui”; ou “Tudo vai dar
certo, fique tranquilo.”
Esse processo é doloroso. Por
esse motivo devemos conscientizar a sociedade, mostrando que o olhar machuca
muitas vezes até mais que a doença. Às vezes, o paciente é muito resolutivo e
assertivo e isso faz com que ele lide muito bem com a doença. Porém, é possível
que não consiga lidar bem com o olhar do outro e com a exclusão que o próprio
meio social faz.
Ainda existe um tabu muito
grande em relação ao câncer, mas não podemos ignorar os avanços da medicina em
relação aos diagnósticos e tratamentos. Infelizmente, a primeira palavra que
vem à mente de muitas pessoas é a morte. No entanto, a evolução na
identificação cada vez mais precoce e dos tratamentos estão permitindo mais
chances de cura, ou remissão da doença. Portanto, tenha fé e faça sempre
consultas com o seu médico que esse momento irá passar e você vai sair mais
forte dessa.
(*) Alessandra Augusto é formada em Psicologia, Palestrante, Pós-Graduada em Terapia Sistêmica e Pós-Graduanda em Terapia Cognitiva Comportamental e em Neuropsicopedagogia. É a autora do capítulo “Como um familiar ou amigo pode ajudar?” do livro “É possível sonhar. O Câncer não é maior que você”.
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