CROSP cria primeiro Grupo de Trabalho do Brasil para estudar o uso de canabinoides na Odontologia
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Já faz algum tempo que muitos setores da
Medicina têm feito uso de medicamentos à base da planta Cannabis sativa,
popularmente conhecida como maconha, pois já é constatado que suas propriedades
são adjuvantes ou coadjuvantes em tratamentos de doenças neurológicas e
transtornos psicológicos como epilepsia e ansiedade.
Na Odontologia, medicamentos
fitocanabinoides (medicamentos à base de Cannabis) são alternativas de
tratamentos para os Cirurgiões-Dentistas. Embora a substância tenha revelado
resultados promissores, sua aplicação, especialmente na Odontologia, é feita de
maneira cautelosa e sob a luz de muitos estudos.
Com base nisso, o Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo (CROSP) criou o primeiro Grupo de Trabalho do Brasil
para discutir o assunto. Liderado pelo Cirurgião-Dentista Dr. João Paulo
Tanganeli, PhD em Odontologia, especialista e membro da Câmara Técnica de DTM
Dor Orofacial, o grupo visa direcionar, por meio do embasamento científico, não
apenas seu uso, mas a formação de profissionais e divulgação de informações
acerca da Cannabis na Odontologia.
“Reuni alguns nomes interessados e
interessantes, que já têm estudado o assunto há bastante tempo e que possuem
formação tanto em especialização quanto em ensino, dentro das possíveis
utilizações dos canabinoides na Odontologia, com a ideia de montar um grupo de
trabalho permanente, que vá assessorando e representando o CROSP junto à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e também à Classe”, disse
Dr.Tanganeli.
A ideia, segundo o Cirurgião-Dentista, é
que se crie uma preocupação com a Ciência, com a formação e com as informações
que têm circulado, uma vez que o uso dos canabinoides têm despertado, de forma
geral, muito interesse.
No entanto, Dr.Tanganeli alerta que
muitas informações erradas e controversas são divulgadas, além de promessas que
partem inclusive de profissionais que não têm formação especializada para lidar
com o assunto. “O nosso objetivo é reforçar a seriedade, tanto na informação
quanto nos estudos científicos, e também criar uma regulamentação sobre quem
pode e quem deve ministrar os cursos de formação em relação aos interessados no
tema”.
O Cirurgião-Dentista destaca que a
criação do Grupo de Trabalho do CROSP tem a preocupação cientifica, legal e
também com a formação dos profissionais, para que não haja uso indiscriminado e
sem preparo.
Indicações na Odontologia
Atualmente, de acordo com o
especialista, há diversas indicações dos fitocanabioides, sendo que já existe
bastante evidência acerca do sistema endocanabinoide, que é um importante
aliado da regulação e equilíbrio de uma série de processos fisiológicos no
corpo humano, como ele funciona e como os Cirurgiões-Dentistas podem inserir os
canabinoides em suas especialidades.
“Temos obtido resultados bastante
interessantes nos pacientes com dor crônica. Muitas vezes, dores refratárias a
outros tratamentos, e essa é uma das principais indicações ou ressalvas que a
Anvisa faz: a utilização deve ser, preferencialmente, quando temos dores
refratárias, em que já foram tentados outros tratamentos consagrados, sem o
resultado esperado”.
Sendo assim, a indicação dos
canabinoides são para dores crônicas e disfunções temporomandibulares, casos em
que, de acordo com o Dr. Tanganeli, há relatos e publicações de alguns estudos
com qualidade. A mesma coisa em relação ao bruxismo, e em especial o bruxismo
do sono, com os possíveis benefícios que os fitocanabinoides trazem para a
qualidade do sono dos pacientes.
O especialista relata, ainda, estudos
acerca do uso da substância nos casos de ansiedade, nos quadros de ansiedade
crônica ou mesmo de depressão crônica. “Claro que o Cirurgião-Dentista não
trata depressão e os quadros de ansiedade crônica, mas eles podem influenciar
na saúde bucal. A depressão crônica também influencia na saúde bucal, pelas
alterações vasculares e pela negligência à higiene; então com atuação conjunta
do Cirurgião-Dentista e outros profissionais, podemos obter enormes
benefícios”.
Outros trabalhos fazem relação com os
problemas periodontais. Estudos recentes mostram a possibilidade da utilização
dos canabinoides como anti-inflamatório, cicatrizante ou acelerador de
cicatrização.
De maneira geral, portanto, na
Odontologia, os principais movimentos observados cientificamente, neste
momento, pelo Grupo de Trabalho criado, envolvem tratamentos relacionados à
disfunção temporomandibular, dores crônicas, bruxismo, anti-inflamatório e como
cicatrizante. “Isso não está acontecendo só na Odontologia. Temos observado
resultados surpreendentes com a utilização dos canabinoides na saúde de maneira
geral”.
Ressalvas importantes
Uma das maiores preocupações apontadas
por Dr. Tanganeli é o fato de se esperar mais ou prometer mais do que de fato a
Ciência tem mostrado no momento. Para o Cirurgião-Dentista, é muito importante
que se procure agir sempre baseado em evidências cientificas, as quais estão
começando a surgir. Até que elas se tornem de fato robustas, o caminho a ser
percorrido, segundo o especialista, é ainda um tanto longo, mas bastante
promissor. “Falta bastante coisa. Faltam protocolos, experimentos clínicos
controlados, randomizados e com todas as especificações e indicações para as
diferentes patologias. É preciso cautela ainda, apesar dos resultados
promissores”.
Quanto às ressalvas na utilização, o
especialista aponta algumas. A primeira delas é o diagnóstico. Ele está no
cerne das preocupações do grupo de trabalho do CROSP, pois é importante que o
profissional que se propõe a utilizar os canabinoides saiba, antes de tudo, o
diagnóstico. “Falamos, por exemplo, de disfunção temporomandibular. Nós temos
dezenas de diferentes diagnósticos. Então, não podemos ter um protocolo único,
como se tem preconizado; essa é uma das preocupações. Para DTM, eu utilizo x
gotas, mgs ou mls, e de que DTM estamos falando, por exemplo? Bruxismo é a
mesma coisa; estamos falando de bruxismo de vigília, de bruxismo do sono,
bruxismo primário ou secundário?”.
O cuidado, segundo alerta Dr. Tanganeli,
é que não haja uma receita de bolo que sirva para todas essas possibilidades de
diagnóstico; por isso, ter uma formação profissional suficiente para que se
tenha o diagnóstico antes de tudo deve ser a primeira preocupação apontada pelo
Cirurgião-Dentista. A partir do diagnóstico, o profissional vai pensar na
instituição das diferentes formas de tratamento, incluindo os fitocanabinoides.
Ele destaca que é muito comum pensar ser
natural que é o óleo extraído de uma planta, “se não faz bem, mal não faz”.
Porém, o especialista alerta que não é assim, pois há uma lista importante de
interações medicamentosas, por exemplo.
Os canabinoides agem nas citocromo P450,
que são as enzimas responsáveis pelo metabolismo de muitas drogas. Então, o
profissional deve ter, também, uma preocupação com a interação medicamentosa,
checando em que situações pode e se deve utilizar e, em que situações não pode
e não deve utilizar.
“Alguns pretensos cursos formadores têm
dito: você utiliza só o CBD (canabidiol) full
spectrum e isso vai resolver tudo. Isso também não é verdade. Há
situações em que haverá necessidade de se utilizar outras formas de canabinoides
que não o canabidiol, ou CBD. Então, é importante ter essas ressalvas e a
preocupação de qual canabinoide exatamente o paciente precisa, a partir de um
diagnóstico, se esse paciente apresenta outros problemas de saúde e se toma
outras medicações”, esclarece.
Prescrição e uso comprovado
Apesar da prescrição ser atualmente
regulamentada e autorizada para médicos e Cirurgiões-Dentistas, ainda é
necessário que os pacientes comprovem a necessidade do uso de fitocanabinoides.
Ele teoricamente fará essa importação a partir da prescrição. “Uma vez que o
paciente vai receber uma autorização de importação da Anvisa, fazemos a
prescrição pensando, por exemplo, em um ano de uso. É preciso que façamos um
cálculo inicial da possível dosagem, para que o paciente possa comprar a
quantidade de medicamento necessária pelo período proposto.”
Vale ressaltar que as importadoras podem
entrar em contato com o paciente a partir da prescrição e orientá-lo em como
agir junto à Anvisa. A partir daí, o paciente passa a ser autorizado a
importar, ou seja, o prescritor informa que o paciente será beneficiado pela
utilização do canabinoide. A Anvisa, por sua vez, checa todas as informações,
inclusive o CID, e libera a medicação.
Posteriormente, o paciente retorna ao
consultório e faz a titulação, ou seja, a individualização da dose. “Pode ser
que 1mg no almoço e 1mg à noite seja suficiente para determinado paciente,
enquanto para outro, 4 mg, por exemplo. Assim como o diagnóstico, essa é uma
etapa importante do tratamento”.
Por fim, Dr. Tanganeli enfatiza que
outro cuidado importante relacionado ao uso dos canabinoides na Odontologia é o
profissional não imaginar que vai fazer um curso de um ou dois dias, alguma
coisa rápida com soluções mágicas e mirabolantes, mas sim que se tenha o máximo
de informações e, se pretende ser um prescritor, que tenha formação prévia
dentro das especialidades.
Sobre o CROSP
O Conselho
Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma Autarquia
Federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade
de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São
Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo
prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. Hoje, o CROSP conta com cerca de
170 mil profissionais inscritos.
Além dos Cirurgiões-Dentistas, o CROSP
detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta
ética dos Auxiliares em Saúde Bucal (ASB), Técnicos em Saúde Bucal (TSB),
Auxiliares em Prótese Dentária (APD) e Técnicos em Prótese Dentária
(TPD).
Mais informações: www.crosp.org.br
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