Dados: enquanto a inclusão financeira cresce no Brasil, a representação de diferentes classes sociais fica estagnada
Segundo pesquisa da iStock, menos de 3% das
imagens e vídeos de serviços financeiros no Brasil representam a classe
trabalhadora. Mais de um terço é realizado por posições sociais privilegiadas.
A pandemia foi um ponto de virada na
forma como os latino-americanos interagem com os produtos financeiros da
região; milhões de pessoas de baixa renda foram forçadas a realizar transações
digitais pela primeira vez. Um dos principais efeitos colaterais da pandemia
foi o boom no uso de serviços financeiros digitais entre uma população que
costumava usar principalmente dinheiro e não era um cliente-alvo de bancos ou
outras empresas financeiras.
De acordo com a LAVCA, a Association for
Private Capital Investment in Latin America, as startups da região levantaram US $2,8 bilhões durante o
primeiro trimestre de 2022. As fintechs foram de longe as
maiores receptoras com 43% (1,2 bilhão) do investimento. Com o crescente
interesse dos consumidores e o apoio dos governos locais, empresas como Nubank,
Mercado Pago, Picpay e outras estão preparadas para dimensionar soluções
inovadoras que ampliem o acesso na região. No entanto, essa transformação ainda não afetou a
composição social das pessoas que parecem ser representadas pelas imagens e
vídeos dessa indústria.
De acordo com o VisualGPS, plataforma de
pesquisa criativa da iStock, um marketplace líder de conteúdo de estoque que
oferece imagens, vídeos e ilustrações premium a preços acessíveis para PMEs,
criativos e estudantes em todo o mundo; alinhada com a ascensão da adoção
digital, a busca e download de imagens e vídeos mostrando pessoas interagindo
com serviços financeiros por meio da tecnologia cresceu drasticamente. Além
disso, refletiram todos os acontecimentos no mundo do comércio digital entre 2020
e 2022: imagens e vídeos
de compras online cresceram 72%, os de entrega em domicílio cresceram 1073%, o
conteúdo dos envios cresceu 140% e o pagamento sem contato cresceu em 162%;
enquanto as imagens que refletem bancos tradicionais caíram -24%, e os pagamentos
em dinheiro, em -3%.
No entanto, menos de 3% das imagens e vídeos de
serviços financeiros no Brasil representam a classe trabalhador, a e mais de um
terço do conteúdo é protagonizado por personagens em posições sociais
privilegiadas, em ambientes corporativos e urbanos. Olhando
para a plataforma de tendências visuais da iStock, VisualGPS
Insights, que no estilo do Google Trends, captura mais de 2,5 bilhões de
resultados de pesquisa e downloads de seu site, é possível ver que nas imagens
mais populares relacionadas a termos de pesquisa associados a serviços
financeiros, como “pagamento”
ou “empréstimo”,
praticamente todas as pessoas e ambientes retratados parecem ser famílias de
classe média-alta e alta, representadas por meio de móveis e aspectos
decorativos, enquanto os ambientes domésticos que representam classe
média-baixa e baixa e/ou ambientes rurais são raramente vistos.
De acordo com Federico Roales, pesquisador criativo da
iStock, isso é um paradoxo. “Apesar de muitos membros da classe
média-baixa e baixa terem acessado os serviços financeiros pela primeira vez
graças à tecnologia, a representação visual continua focada em cenários de
classe média-alta e alta em países onde a renda média constitui quase a metade
da população", disse Roales.
Segundo a OCDE,
46% da população da América Latina pertence à classe média. No Brasil, esta
percentagem é de 45%. Na
verdade, 8 em cada 10 consumidores brasileiros em todos os estratos econômicos
reconhecem que agora usam seu telefone celular mais do que nunca como uma forma
de fazer transações e pagar por coisas, conforme a pesquisa VisualGPS.
Portanto, na opinião de especialistas em conteúdo visual, imagens e vídeos
restritos a ambientes corporativos ou de estratos sociais mais privilegiados
estão longe de representar o cotidiano de novos usuários de serviços
financeiros e digitais.
De acordo com pesquisa da iStock, isso
pode se tornar um fator crítico nas decisões de compra, já que os consumidores
da região dizem que se identificam mais com marcas que representam seus
ambientes de forma mais realista: dados
do VisualGPS indicaram que 73% dos consumidores brasileiros prefeririam comprar
marcas que representar com mais precisão seu estilo de vida. Em outras
palavras, especialistas ressaltam que as marcas precisam ser menos
aspiracionais e mais autênticas para representar em suas imagens diversas
origens sociais, considerando a realidade da composição das
classes sociais na sociedade latino-americana.
Concluindo, Federico afirma que
startups, fintechs e mais empresas que promovem inclusão financeira e
digitalização na região para estratos com acesso a essas tecnologias pela
primeira vez devem considerar narrativas visuais que possam ser relacionadas à
realidade vivida pelos latino-americanos. “Considere imagens que pareçam
sinceras e mostrem pessoas que você pode conhecer em sua vida diária, incluindo
pessoas de diferentes origens sociais. Mostre-os interagindo dentro de suas
comunidades e com outros grupos, retratando-os em várias interseções de
identidade, como idade, identidade de gênero, expressão de gênero, orientação
sexual, deficiência ou tipos de corpo. Inclui ambientes industriais e
trabalhadores, operários, pessoas que exercem ofícios ou trabalhos manuais e
artesanais. Se você estiver retratando famílias em ambientes domésticos,
considere os interiores das casas e tente fazê-los refletir mais autenticamente
as realidades da classe trabalhadora. Dessa forma, as imagens e vídeos que
protagonizam suas campanhas de marketing e publicidade serão mais atraentes
para novos clientes que passaram a interagir com produtos financeiros durante a
pandemia”, finalizou Roales.
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