Está na hora da monarquia Britânica se modernizar, como fez há 65 anos?
Especialista em comunicação analisa as semelhanças entre períodos de baixa aprovação da Coroa
Rei Charles III
Foto: Victoria Jones/PA da Assessoria
Há 65 anos, em 1957, a Coroa Britânica
foi tomada por uma revolucionária mudança na maneira de se comunicar e
trabalhar as relações públicas com o povo inglês. Essa mudança foi inspirada
por críticas do jornalista Lorde Altrincham, que julgava a principalmente a
Rainha Elizabeth II como distante do cidadão comum e pouco acessível, o que
justificava sua queda em aprovação na época.
Apesar de muitas vezes se referir de
maneira ríspida à família real, as sugestões de Altrincham, como receber
pessoas comuns no Palácio de Buckingham e transmitir mensagens pela televisão,
foram adotadas e se tornaram um marco na trajetória de 70 anos da monarca,
ganhando até um episódio na série The Crown.
Fabiana Teixeira, Estrategista em Comunicação e Jornalista Foto: Acervo Pessoal |
“Hoje em dia pode parecer besteira que
algo como a televisão, por exemplo, inspire uma mudança drástica de aprovação,”
explica a jornalista e especialista em comunicação, Fabiana Teixeira. “Mas a
modernização dos meios e estratégias de comunicação são essenciais para a
popularidade de qualquer instituição. E a Coroa, no caso, tem tradição em
protelar nesse aspecto, o que pode ser prejudicial agora que há um novo Rei.”
Charles III assumiu seu posto como rei
do Reino Unido ainda este mês e desde então não tem passado uma imagem tão
querida quanto sua mãe. “Popularidade e carisma não são o forte do novo rei da
monarquia britânica. Uma pesquisa divulgada no primeiro semestre apontou que
75% dos britânicos avaliavam positivamente a rainha Elizabeth. A porcentagem
foi de 42% para Charles,” comenta Fabiana. Os dados são da YouGov, líder
internacional de pesquisa de mercado baseada na internet, também complementa
que ele tem uma aprovação mais baixa ainda que seu filho William, que apresenta
66%.
Apesar disso, a especialista pontua que
pelo seu discurso podemos perceber que ele parece determinado em manter a
imagem conquistada por Elizabeth, e de acordo com Fabiana, apresentou uma
mensagem confiante e ritmada, aparecendo notavelmente forte, mas acessível. “Ele
tinha uma suavidade em seus olhos e um tom bondoso. Sua cadência era calorosa,
sincera e apropriada, sem dúvida sua posse foi cuidadosamente planejada, com um
discurso estratégico para que as pessoas sentissem estabilidade e continuidade
durante os tempos de transição.”
Mesmo assim, devido às recentes
polêmicas e ‘memes’ que foram gerados logo nos primeiros dias de seu reinado,
como se irritar com os funcionários de seu gabinete, e ainda demitir 100 destas
pessoas que trabalhavam com ele, é discutível se o discurso criou um senso de
contentamento da população, principalmente por conta da crise de energia que a
Grã-Bretanha enfrenta.
“Curiosamente, o cenário de Charles não
é diferente do de sua mãe em 1957, que estava muito pressionada por causa da
guerra no canal de Suez, e suas consequências econômicas. A guerra da Ucrânica
fez com que o custo da energia tivesse um crescimento muito grande nos últimos
meses, principalmente para o aquecimento doméstico, causando muita insatisfação
pública,” comenta Fabiana.
Obviamente, a vida mudou muito desde
então, mas exatamente por isso, pode ser que seja novamente um momento para
mudanças na comunicação da Coroa para com seus súditos.
“Hoje estamos aprendendo que liderança
não é apenas uma questão de força, mas também de humanização do líder.
Percebemos uma tendência de que as pessoas mais adoradas, são aquelas que
demonstram seu lado humano e se apresentam como iguais, de peito aberto para
quem a vê, o que pode ser muito complicado para uma instituição tão regrada quanto
a Coroa Britânica.”
Porém, a especialista também complementa
que seu aprendizado como herdeiro, com duração de 70 anos, fez dele o novo
monarca mais bem preparado da história, testemunhando várias gerações de
líderes mundiais, incluindo 15 primeiros-ministros do Reino Unido e 14
presidentes dos Estados Unidos.
“Charles tem uma tarefa desafiadora pela frente, principalmente porque terá sua trajetória comparada com o notável e marcante reinado de Elizabeth II, mas acredito que ele saiba que seu estilo comunicativo terá que mudar. Neste momento, porém, podemos apenas esperar e observar que tipo de líder ele irá se tornar,” finaliza Fabiana.
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