Retrato do transporte público brasileiro: O caos do dia a dia e as promessas para o futuro
Ônibus elétrico pode baratear o custo das
passagens além de melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades
Frota de ônibus é a mais antiga em 27 anos.
Adamo Bazini
Uma das grandes discussões no país,
sempre foi a falta de recursos e investimentos para transporte público,
resultando em frotas ultrapassadas, veículos poluentes e uma tarifa considerada
a mais alta da América Latina. O cenário tornou- se ainda mais agravante com a
pandemia Covid-19, onde mais de 10,8 milhões viagens realizadas por passageiros
pagantes deixaram de ser realizadas. Os dados são da NTU (Associação Nacional
das Empresas de Transportes Urbanos (2021/2022).
O Brasil nunca teve uma frota de ônibus
urbano tão velha quanto atualmente. O cenário foi dado pela crise histórica da
pandemia e a ausência de fontes de financiamento social que impactaram o setor.
A frota de coletivos urbanos que respondem por mais de 50% do transporte da
população nas cidades é a mais velha nos últimos 27 anos. As informações do
anuário 2021-2022 foram levantadas em nove capitais: Belo Horizonte, Curitiba,
Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Os ônibus estão, atualmente, com uma
idade média de seis anos, considerada a mais alta desde 2012, aponta o
levantamento realizado pela NTU.
Mas o que vemos nas ruas são veículos
desregulados e emitindo uma quantidade maior de dióxido de carbono (CO2),
óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado (MPP), ônibus com assentos
quebrados e até portas com problemas. Com a redução da frota de veículos e o
aumento de passageiros (Pós Pandemia), as filas quilométricas são as
protagonistas de quem precisa utilizar dos serviços.
Para Ricardo David, sócio-diretor da Elev, empresa que apresenta soluções para
o ecossistema de mobilidade elétrica, os eletrificados, por meio do transporte
público, podem ter impacto social e ambiental. “Quando falamos da sigla ESG, pensamos muito em questões
relacionadas ao meio ambiente e a sustentabilidade, algo que claramente o carro
elétrico está englobado, porém há muito mais que isso, como o impacto urbano e
social que esses automóveis podem ter”, declarou o executivo, que
explicou que em cidades onde os ônibus elétricos estão disponíveis, a população
da preferência a estes automóveis.
Atualmente a Junta Orçamentária da
Prefeitura de São Paulo, negou recursos para que a SPTrans coloque mais 220
ônibus em circulação na cidade em 2022, após pedido realizado em janeiro pela
Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito (SMT).
O transporte público coletivo do Brasil
chegou a ocupar em 2022 o segundo lugar no ranking de transporte mais caro da
América do Sul, perdendo apenas para o Chile, os dados são da Cuponation -
plataformas de cupons on-line. O país saltou em dois anos, da 55° posição
para 36ª entre os países que têm os ônibus e metrôs mais caros do mundo.
“O
Brasil também não pode perder a oportunidade. Estamos observando um movimento
mundial, onde empresas e governos estão se comprometendo com o fim dos
automóveis a combustão até 2035, na América Latina, observamos o avanço das
empresas chinesas em mercados que eram dominados por empresas brasileiras uma
década atrás”, afirma o executivo.
Os brasileiros que utilizam o transporte
público coletivo diariamente estão gastando, em média, R$214 mensalmente para
ir e vir. Aqueles que recebem em média um salário mínimo de R$1.212, por
exemplo, perdem 17,66% da renda com o transporte coletivo, sem retorno de investimento
do governo em tecnologia e melhoria no transporte público elétrico, ou seja,
além de pagar uma das tarifas mais altas da América Latina, o brasileiro tem de
se contentar com as estruturas precárias oferecidas pelas empresas ou
concessionárias. Em algumas cidades, porém, a situação é ainda pior. Em
Brasília, o ticket de ônibus custa R$ R$ 5,50. A segunda capital mais cara do
país é Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde a tarifa chega a R$ 4,80. Belo
Horizonte, Curitiba e Florianópolis, empatam em R$4,50 cada.
O Brasil enfrenta três tipos de desafios
para eletrificar suas frotas de ônibus, são eles: tecnológicos, financeiros e
institucionais. E traz exemplos de novos negócios desenvolvidos pelas cidades
para abandonar, ou reduzir ao máximo, a dependência de diesel no transporte
público.
Em São Paulo (SP), apenas 18 ônibus
elétricos dos 219 que compõem a frota da capital atualmente, são de modelos
modernos, alimentados por baterias recarregáveis, os demais são troleos, que se
utilizam de linhas aéreas para obter energia. Esse número representa somente
1,6% do total da frota, que possui cerca de 14 mil coletivos, número muito
abaixo das metas estabelecidas inicialmente pela gestão municipal.
Salvador (BA) inaugura na próxima
sexta-feira (23) os primeiros trechos de seu sistema BRT, que já nasce 30%
elétrico - ao menos oito veículos elétricos a bateria estão previstos para
entrar em operação. Curitiba (PR) estuda a eletrificação dos corredores Inter 2
e BRT Leste-Oeste, com previsão de 150 veículos com bateria operando até 2024,
enquanto o Rio de Janeiro (RJ) separou a operação da provisão de frota no novo
edital do BRT, para aquisição de 550 veículos, sendo 65 elétricos, a serem
entregues até 2023.
Gráfico gastos com transporte público no Mundo Numbeo, IBGE, Cuponation |
Uma das soluções previstas pelos
governantes para melhorar a qualidade de mobilidade e de vida dos brasileiros,
é o investimento em frotas elétricas. De acordo com a Associação Nacional das
Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o custo por quilômetro, na comparação
entre diesel e energia elétrica, cairia em 73%, de R$3,10 para R$0,84. O
combustível corresponde atualmente a um terço dos custos operacionais totais
das empresas de ônibus. Além disso, o custo da manutenção das frotas elétricas
apresenta um investimento 70% menor em comparação ao transporte convencional, o
que se torna um incentivo para empresas do setor e também, o que causaria a
diminuição do valor da passagem.
“Quando
falamos dos automóveis elétricos nós estamos falando em dois pontos de
economia. O primeiro é relacionado a tração, onde a energia elétrica pode ser
muito mais econômica que a gasolina e o diesel e outro ponto é na manutenção,
muito mais barata que a dos veículos movidos à combustão, principalmente pela
quantidade menor de componentes necessários em um veículo elétrico. Isso reflete
diretamente no preço das passagens para o consumidor final”,
explica Ricardo David.
O especialista explica que, no total, os
elétricos possuem cerca de 20% das peças de um carro à combustão e que a
manutenção mensal e a troca e reposição de peças é significativamente menor. Já
no quesito combustíveis, a economia é de 84% em um carro elétrico. A cobrança é
feita a partir do preço do kWh que, em São Paulo, por exemplo, o preço se
mantém em R$0,86, bem abaixo do nível nacional da gasolina ou do etanol.
Sobre a Elev
Fundada em 2021, a ELEV é uma empresa que oferece ao mercado soluções para o ecossistema de mobilidade elétrica, desde o aplicativo que indica os eletropostos pelo país, até a implantação de pontos de carregamento elétrico e atuação em Pesquisa e Desenvolvimento.
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