Seu político de estimação pode arruinar sua carreira
*David Braga
Você já reparou o quão complexo tem
sido, nos dias atuais, expressar nossa opinião? A sociedade está cada vez mais
polarizada e parece que as possibilidades estão ficando estreitas: ou é isso ou
aquilo – ou esse ou aquele. E a oportunidade de debate, de reflexão, discussão
e construção de um terceiro caminho tem ficado mais difícil. Nesse sentido, no
âmbito da política, tem sido algo vexatório em nosso país. As inflamadas
discussões chegam a ser desnecessárias. É preciso alertar sobre este tema, pois
não podemos ter “político de estimação”, mas, sim, lutarmos sempre por um país
melhor e não por partidos.
Você tem “políticos de estimação” e é
tão apegado a eles a ponto de findar suas amizades? Primeiramente, saiba que
são os governantes que devem nos servir e, não, o contrário. Quem está no poder
não deu certo? Nas próximas eleições, é só votar de forma consciente. Quantas
empresas contratam executivos e, depois, precisam demiti-los por não terem mais
aderência à filosofia corporativa da companhia? Então, por que criamos
discussões desnecessárias quando o assunto é política?
Com a proximidade das eleições 2022,
basta nos conectarmos às mídias sociais ou ler as notícias para perceber que os
embates neste âmbito estão ganhando cada vez mais força e, infelizmente, a
confusão entre as pessoas está aquecendo. No último pleito, quantos amigos
perdemos em função da incapacidade de diálogo sobre ideologia, pensamento ou
por termos visões diferentes dos rumos que queremos para nosso país?
Com as intensas discussões políticas,
temos vivenciado – entre amigos, colegas e familiares – conversas já bastante
acaloradas, em que cada um quer ter mais razão que o outro. No entanto, em
qualquer tipo de relação, praticar a empatia, ou seja, se colocar no lugar do
próximo, é sempre essencial, além de ter escuta ativa e respeito às diferenças.
Devemos, inclusive, pontuar a diversidade de pensamentos. Se lidamos com
pessoas com personalidades, culturas e propósitos distintos, a maturidade
emocional é fundamental para atuarmos com diplomacia e mantermos as relações já
estabelecidas.
Nas mídias sociais, se você se posiciona
sobre qualquer assunto, é bombardeado e pode até “virar meme”. Se não diz nada,
aí está “em cima do muro” e não tem opinião própria. Em resumo: estamos
vivenciando um momento delicado em que muitos buscam agradar as pessoas e não
se posicionam; enquanto outros querem partir para o confronto, doa a quem doer,
sem refletir sobre as relações pessoais e, muitas vezes, até colocando sua
credibilidade em risco.
As polarizações têm se tornado
frequentes dentro das organizações, o que, a meu ver, é péssimo. Em vez de
caminharmos para ampliar os ambientes com sinergia, empatia e espírito de
equipe, estamos, muitas vezes, criando espaços de embates e discussões
desnecessárias. Consequentemente, isso afeta também a entrega de resultados, em
meio a um cenário cada vez mais competitivo. É preciso ter jogo de cintura para
que as divergências não sejam levadas para o lado pessoal, pois isso impactará
diretamente o clima organizacional.
Evidentemente que você não tem que
concordar sempre com o que o outro diz ou acredita. O que não pode é achar que
apenas sua ideia, seu pensamento e sua defesa são coerentes e únicas. Nesse
sentido, é preciso ter cuidado para não se mostrar intolerante, porque, além de
ser desagradável, esse tipo de comportamento distancia as pessoas e ainda pode
denegrir sua imagem e afetar seu crescimento profissional. Constantemente, somos
observados, seja por amigos, seja por colegas de trabalho ou familiares. E esse
comportamento poderá acarretar reflexos diretos na sua credibilidade.
Com a diversidade sendo ampliada,
envolvendo pessoas com idades, personalidades e interesses distintos, todo esse
cenário se torna uma arena propícia para a geração de conflitos, que, quando
bem gerenciados, proporcionam a tão falada inovação. Se posicionar é essencial
para quem quer ter relevância dentro das empresas, mas expressar a sua opinião,
com maturidade emocional, é vital. E lembre-se sempre de que mais importante do
que aquilo que você vai expressar é o modo como vai fazer isso. Em outras
palavras, o “como” tem mais valor do que o “quê”. Consequentemente, isso
mostrará, de fato, quem é você: alguém que sabe transitar entre variados
públicos ou alguém que acredita que somente suas ideias são as mais relevantes?
No cenário pré-eleições, observar como
você se posiciona frente aos demais no ambiente organizacional é um exercício
diário de autocontrole e autoconhecimento. Busque não entrar em discussões
acaloradas ou radicais demais. Podemos e devemos nos posicionar, mas no
ambiente de trabalho, ter discrição é importante para não sairmos do controle,
ofender ou questionar um colega ou até o gestor. Expressar ideias com base nos
planos e propostas socioeconômicas e de desenvolvimento para o país - dos
próximos governantes e dos candidatos ao Legislativo - é saudável e um
exercício de cidadania da nossa parte. Isso sim gera debates frutíferos e uma
conversa mais proveitosa de ideias.
* David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search. É também Conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral (FDC). Ele é autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você” e atua, ainda, como conselheiro da ONG ChildFund, da ACMinas e da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH-MG). Instagram: @davidbraga | @prime.talent.
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