Análise econômica e do mercado financeiro com as projeções das eleições presidenciais
*entrevista com Felipe Reymond Simões,
economista e diretor da WIT Asset
1. Qual o balanço do mercado
financeiro no mês de outubro em relação aos mercados de capitais e de
investimentos no Brasil?
Não terminamos o mês
ainda, mas foi extremamente volátil. Quando deu uma amostra de que o Bolsonaro
estava melhorando nas pesquisas, o mês estava indo bem. Depois do episódio do
Roberto Jefferson e agora, mais recentemente, essa questão das inserções em
rádio a mais para o Lula… É uma questão em aberto que o TSE precisa resolver e
que gerou um risco de eventualmente a gente ter uma prorrogação do 2º turno.
Então, todas essas incertezas acabaram afetando negativamente a bolsa nesses
últimos dias.
2. Levando em
consideração uma vitória do Bolsonaro no segundo turno das eleições, quais as
expectativas para o último bimestre de 2022 no mercado financeiro? E para 2023?
Com uma eventual
vitória do Bolsonaro, em primeiro momento realmente haverá um reajuste mais
forte nas estatais, principalmente Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobrás.
Depois, a gente volta a ficar mais à mercê do cenário externo, que é o que mais
está influenciando nesse momento todas as bolsas globais. A partir disso, o
mercado vai ficar meio que em modo de stand-by, aguardando as medidas do novo
governo, algo realmente mais concreto para que possa ter alguma repercussão um
pouco mais forte na bolsa brasileira.
3. E levando em
consideração uma vitória do Lula no segundo turno das eleições, quais as
expectativas para o último bimestre de 2022 no mercado financeiro? E para 2023?
Em um cenário de
vitória do Lula, provavelmente terá um reajuste mais forte também nesse
primeiro momento de queda para as estatais, talvez algo um pouco mais favorável
para as ações educacionais e algumas empresas no setor de varejo também irão se
beneficiar com a eleição do petista. Mas novamente, acho que o mercado vai voltar
as atenções para o que está acontecendo lá fora e vai se ajustando aqui no
Brasil conforme o novo governo vai adotando algumas medidas na economia de
forma mais concreta.
4. Falando sobre o
governo de SP, qual a sua análise sobre os impactos no mercado no caso de
eleição de Tarcísio? E no caso de eleição do Haddad?
Em uma eventual vitória
do Tarcísio, considero que o principal ajuste no primeiro momento na Sabesp já
foi feito, porque a vitória dele é praticamente certa, então já teve um ajuste
forte logo depois do 1º turno, mas é uma ação que o investidor vai ficar
bastante de olho de acordo com as medidas que o governo vá fazer, e tem uma
grande chance de ser uma ação de que se beneficie bastante com o Tarcísio como
governador.
Eventualmente, se o
Haddad for eleito, a ação vai sofrer bastante em um primeiro momento.
5. Como proteger a
carteira de investimentos a partir de agora e em 2023? Quando chegar 2023,
podemos indicar quais as primeiras decisões que os investidores devem tomar
diante do novo governo Lula ou Bolsonaro? Pensando no investidor brasileiro,
quais são as melhores oportunidades no momento?
Realmente,
precisaríamos ter algo mais concreto do que vai ser feito, principalmente do
candidato Lula que não anunciou nada em relação à economia. Precisamos esperar
quem vai ser o Ministro da Fazenda de um eventual governo Lula e isso vai ser
bastante importante.
Eu adoto uma linha de
manter uma carteira bem balanceada e de acordo com o perfil de risco de cada
investidor. Ela precisa estar ajustada para que não sofra com nenhuma
volatilidade que pode continuar tendo ano que vem, porque a situação
internacional ainda é bem complicada. Poderemos ver vários países entrando em
recessão, vários países com inflação alta tomando medidas mais austeras na
economia para conter essa inflação. É provável que iremos continuar com um
cenário desafiador ano que vem, então a gente pode esperar bastante
volatilidade. Principalmente para o investidor mais conservador, é importante
ter um ajuste bem feito em relação ao risco que se pode correr, e ter em mente
que a volatilidade dos investimentos pode continuar bastante alta, independentemente
de quem vença as eleições.
Eu sou muito da
filosofia de montar uma carteira, uma estratégia baseada no perfil de risco de
cada investidor e essa tática se manter por muito tempo, independente de
cenário externo.
O que deve ser feito é
uma eventual realocação, adequando mudanças que vão acontecendo em relação a
valorização e desvalorização dos ativos dentro de uma carteira, para sempre
manter o balanceamento inicial, que foi estabelecido para a carteira. Então,
não vejo necessidade de grandes mudanças independente de quem for eleito. O
importante é montar uma carteira que se adeque em relação principalmente a
risco para cada investidor, para que ela não surpreenda ninguém independente do
que possa acontecer no cenário e tenha possibilidades de entregar retornos que
sejam compatíveis com o que o investidor busca, bem como as necessidades
financeiras e particulares de cada um. Não faria nenhuma grande mudança
pensando em cenário eleitoral, se a carteira do investidor já estiver bem
estabelecida.
O momento é muito bom
para investir porque os ativos locais continuam bastante desvalorizados e os
internacionais também. Tivemos quedas muito fortes em bolsas americanas e
europeias. Apesar de o momento ser mais adverso e complexo no exterior, há boas
oportunidades de investimento fora do país. Para quem for investir offshore, é
importante ter bastante cautela e pensar no longo prazo mesmo porque os ciclos
de baixa podem durar bastante tempo. Então, um investimento feito agora pode
sofrer ao longo de anos para que se tenha um retorno que seja próximo do
esperado.
6. Visto que essa é a
primeira eleição pós-estabelecimento da autonomia do Banco Central, em
fevereiro de 2021, qual a expectativa para o futuro do BC com as eleições
presidenciais? Se houver uma mudança de governo, a autonomia do BC está em
risco?
Eu não acredito que a
autonomia do BC seja uma pauta que se, eventualmente, o Lula for eleito, vá
sofrer alterações. Inclusive, ele já fez elogios no passado ao Roberto Campos
Neto, presidente do Banco Central. Então, acredito que o Banco Central deve
seguir da forma que está, independente de quem seja eleito.
7. Os ativos
brasileiros têm performado bem em relação aos pares globais. A que se deve esse
fato? O Brasil tem sido visto como uma alternativa às incertezas globais
elevadas? Por quê? Podemos ver uma entrada de fluxo, a despeito da incerteza
relacionada ao aperto nos EUA?
A gente costuma ter
ciclos financeiros em mercados emergentes que acontecem em momentos opostos aos
ciclos de mercados desenvolvidos. Então, é necessário que o fluxo saia de
mercados desenvolvidos para que entre em mercados emergentes e,
consequentemente, puxe nossos ativos locais. Já observamos isso acontecendo
desde o ano passado. Esse fluxo tem migrado para países emergentes e o Brasil é
o país que mais se beneficia, pois o país é muito forte em commodities e
institucionalmente estável. Então, o Brasil se beneficia bastante deste
movimento.
Um aumento de juros nos
EUA gera pressão para empresas do S&P, já que o mercado exige retorno cada
vez maior para investir nelas, pois o investimento livre de risco está
remunerando mais. Então, esse fluxo de saída das bolsas americanas pode migrar
para países emergentes como o Brasil. O valor de mercado das bolsas americanas
é gigantesco e qualquer porcentagem vinda de lá pra cá pode gerar uma alta
bastante expressiva aqui nas ações brasileiras, principalmente as small caps. Por outro lado,
os juros mais altos nos EUA pressionam a nossa Selic ainda mais. Então, se a
gente tiver juros em um patamar mais elevado que o previsto, do que o mercado
já está precificando, e durante mais tempo, a renda variável pode se tornar
menos atrativa comparada à renda fixa.
8. O mercado financeiro
tem se preocupado a respeito de como o próximo governo vai tratar o teto de gastos
bem como a questão fiscal. De que forma esse tema impacta os investimentos?
A questão do teto de
gastos foi uma medida importante no governo Temer no passado porque traz maior
previsibilidade sobre quanto o estado vai gastar. Um estado sem previsibilidade
de gastos implica numa situação preocupante em relação ao fiscal. Então, a
situação fiscal fica em cheque se não há uma previsibilidade, se não tem
decretado quanto o estado pode gastar.
Então, se derrubar este
teto de gastos complica porque aumenta o prêmio de risco que os investidores
exigem para investir em ativos brasileiros. E isso implica em uma taxa de juros
mais alta para o país. Se os investidores estão menos propensos a investir, é
preciso remunerá-los melhor para que eles aceitem este risco. Então, acaba
refletindo em uma taxa de juros mais alta, fazendo com que o custo de
oportunidades seja alto. A derrubada do teto de gastos é negativa para
investimentos, trazendo incerteza que é refletida em uma taxa de juros mais
alta. E daí os mercados de bolsa sofrem com isso.
9. Há expectativa de
melhora da economia brasileira para 2023? Quando você acredita que deve se
iniciar o ciclo de queda de juros no Brasil? E quais os impactos previstos nos
investimentos?
A expectativa é muito
boa para o Brasil em 2023. Estamos com tudo para ter um crescimento relevante
para o PIB, provavelmente acima de 3% para 2023. E a inflação está bastante sob
controle. Comparando a inflação com pares mundiais, o Brasil teve o quarto
melhor número do G20 nesses últimos tempos, com 3 meses seguidos de deflação.
Estamos com cenário de
crescimento bem interessante para o Brasil, com inflação sob controle e,
provavelmente, início de ciclo de queda da taxa de juros que beneficia ativos
de risco, de renda variável.
Acredito que o ciclo de
queda da taxa de juros comece no primeiro semestre do ano que vem. Não dá pra
saber exatamente quando porque o presidente do Banco Central brasileiro, o
Roberto Campos Neto, tem se mostrado bastante preocupado com a inflação global.
E como isso reflete no Brasil, provavelmente, o BC comece a baixar quando ele
tiver uma certeza maior de que estes dados de inflação global estão sob
controle. Mas eu acredito que seja em algum momento do primeiro semestre de
2023.
Sobre Felipe Reymond
Simões | Diretor da WIT Asset
Graduado em Economia
pela McGill University (Montreal, Canadá) e Relações Internacionais pela FACAMP
(Campinas, Brasil). Possui também uma minor concentration em Psicologia da
Educação e é gestor credenciado pela ANBIMA com a certificação CGA. Experiência
em gestão de patrimônios, carteiras administradas, fundos exclusivos, clubes de
investimento e fundos abertos de classes como ações e fund of
funds. Gestor de recursos, com carreira exclusiva no mercado financeiro e
passagens por Banco Safra, Luminus Capital, Kapta Investimentos e Wit Asset
(atual).
Sobre a WIT Asset
A WIT Asset realiza a gestão de fundos de investimentos e carteiras administradas para pessoas, grupos familiares e empresas. A WIT Asset conta como principal serviço a gestão de fundo de investimentos, como um de altíssima liquidez (WIT Genesis voltado ao perfil de investidor conservador), um multimercado (WIT Atlantis indicado para perfis moderados) e um de ações com retorno mais expressivo (WIT Kapta voltado ao perfil de investidor mais arrojado). A WIT tem escritórios em Curitiba (PR), São Paulo e nos principais centros econômicos do interior paulista: Campinas, São João da Boa Vista, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba e Votuporanga.
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