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Com sobrecarga nas rodovias e frota velha, Brasil desperdiça 30% de combustível

País precisa de investimentos nos próximos 15 anos para logística  não entrar em colapso; perdas são imensuráveis, diz especialista

Antonio Wrobleski, Presidente do Conselho de Administração da BBM Logística, Conselheiro da Pathfind, especialista em logística.
Divulgação

A logística no Brasil precisa de intervenções urgentes nos próximos 15 anos para não entrar em colapso. Mesmo com um território continental, 62% de toda carga é transportada por rodovias brasileiras, o que causa fortes impactos na economia e no meio ambiente. O País desperdiça hoje 30% de combustível com sobrecarga nas rodovias e uma frota velha de caminhões. O custo logístico nacional é de 12,5% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto nos Estados Unidos não chega a 8%. 

 

“Temos uma situação crucial para o setor de logística. As perdas hoje já são imensuráveis em todos os sentidos, para a natureza, para o valor do produto. Se não houver planejamento e investimentos nos próximo 15 anos, o segmento vai enfrentar sérias dificuldades”, afirma o especialista em logística e sócio da Pathfind, Antônio Wrobleski. Ele diz que a falta de investimentos em infraestrutura é um dos principais gargalos na logística brasileira e defende a intermodalidade como alternativa para mudar esse cenário. 

 

O especialista lembra que quase nenhum investimento foi feito no setor ferroviário no Brasil, que é praticamente o mesmo de 100 anos atrás. O Brasil tem três vezes o tamanho da Argentina, mas o País vizinho ostenta mais quilômetros de ferrovias. A linhas férreas brasileiras somam cerca de 31 mil quilômetros, enquanto as argentinas têm 34 mil quilômetros. “Veja o absurdo dessa comparação”, comenta Wrobleski. 

 

Neste ano, 62% da carga brasileira será transportada por caminhões, 20% por ferrovias, 14% por cabotagem (aquavias), 0,3% por aerovias e 3,6% por outros sistemas. Para ser mais competitivo em logística, segundo o especialista, o ideal seria que, em 15 anos, o País pudesse reduzir a carga rodoviária a 40%, aumentar a ferroviária para 30% e a de cabotagem para 25%. “Isso depende de um plano longo de investimentos, que precisa começar agora”, diz. 

 

Frota velha

 

Wrobleski afirma que o Brasil deixaria de jogar fora “minimamente, numa avaliação bem contida” 30% de combustível se tivesse uma melhor intermodalidade. De acordo com ele, contribui bastante para a piora no segmento de transporte rodoviário que a frota brasileira de caminhões é muito velha, tem em média 20 anos. “Conseguimos baixar essa média no passado, com financiamentos dedicados a caminhões, mas hoje esse número voltou a envelhecer, Já chegou a 12, 13 anos, está em 20 anos. A idade ideal para a frota de caminhões é 8 anos a no máximo 10 anos”, alega.

 

De acordo com o especialista, o investimento em infraestrutura no Brasil deveria girar em torno de 3% a 4% do PIB, mas não ultrapassa 1%. “A China, nos áureos tempos, fazia dois dígitos de investimento em infraestrutura. A falta de investimento em infraestrutura é um fator seríssimo, uma grande barreira a ser superada para que o Brasil possa alcançar a média dos países desenvolvidos no mundo”, garante. 

 

Avanço e retrocesso

 

A logística brasileira precisa acompanhar o desenvolvimento dos setores da economia. O País é líder mundial de produção agropecuária, que registrou crescimento de 400% entre os 1975 e 2020, com aumento de produtividade, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com a Embrapa, a produção agrícola brasileira alimenta 10% da população mundial, cerca de 800 milhões de pessoas.

 

“Ao mesmo tempo em que o Brasil avança no setor agropecuário, consolidando sua liderança, não há contrapartida no setor logístico nem planejamento quanto ao limite do crescimento. Melhorias dos modais, infraestrutura, acesso ao dinheiro e automação são pontos cruciais da logística nos próximos 15 anos. Entra e sai governo e nada muda. Falta planejamento para o Brasil”, diz Wrobleski. 

 

O mapa “Logística dos Transportes no Brasil”, do IBGE, mostra que o Estado de São Paulo se destaca pela distribuição espacial da logística de transportes no território brasileiro, com predominância do modal de rodovias. É o único Estado com uma infraestrutura de transportes na qual o interior está conectado à capital por uma vasta rede, incluindo rodovias duplicadas, ferrovias e a hidrovia do Tietê. Também estão em São Paulo o maior aeroporto do país, em Guarulhos, e o porto com maior movimentação de carga, em Santos.

 

Armazéns logísticos e automação

 

Mas o transporte não é o único ponto que merece atenção no setor logístico. A armazenagem e a automação precisam acompanhar a demanda. O comércio eletrônico cresceu na pandemia em torno de 26% no Brasil, segundo estudos, e continua em alta mesmo após a retomada das compras presenciais. Esse incremento, que ocorreu no mundo todo, exigiu o aperfeiçoamento dos sistemas de armazenagem.

 

A automação no armazenamento reduz custos gerais do negócio e erros nas entregas de produtos. De acordo com levantamento da empresa DHL, no entanto, apenas 5% dos armazéns são automáticos no Brasil, 80% ainda operam manualmente sem automação de suporte e os outros 15% utilizam transportadores, classificadores e soluções pick and place, entre outros equipamentos não necessariamente automatizados. 

 

A estimativa é de que o mercado global de automação de armazém registre taxa de crescimento anual composto (CAGR) de 12,5% entre 2021-2026. Wrobleski aponta que cada vez mais a automação deverá fazer parte dos armazéns logísticos. “Internet das coisas, machine learning e inteligência artificial terminam ou começam dentro de armazém. A tendência de armazém logístico automatizado é muito forte para buscar a previsibilidade e a assertividade. A automação é a grande ligação entre o interno e o externo, entre o mercado e aquilo que está saindo do armazém”, afirma.  

 

O especialista lembra que o investimento em robotização é grande, o nível de retorno é longo, portanto, quanto mais bem treinadas as pessoas estiverem, mais rápido é o retorno. “Há os sorters, como os sorters falam com o TMS, como o TMS joga para o SAP, como vai para as ruas. Quanto melhor isso for compreendido, melhores os resultados”, alega. Segundo ele, com as eleições, é hora de repensar o País. “Hora de menos política e mais economia, ou mais política com foco, direcionamento, pensando num Brasil melhor para as próximas décadas”, aponta. 

 

Sobre Antonio Wrobleski

 

Especialista em logística, presidente do Conselho Administrativo da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e também sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008, em 2009 montou a AWRO Logística e Participações, com foco em M&A e consolidação de plataformas no Brasil. Foi Country Manager na DHL e Diretor Executivo na Hertz. O trabalho de Antonio Wrobleski tem exposição muito grande no mercado Internacional, com trabalhos em mais de 15 países tanto no trade de importação como de exportação. Além disso, ele é faixa preta em Jiu-jítsu, há 13 anos, e pratica o esporte há 30 anos.

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