Construa uma "antibiblioteca"
*Victor de Almeida Moreira
Divulgação |
Um dos
maiores analistas de riscos do mundo, Nassim Nicholas Taleb, em seu livro “A
Lógica do Cisne Negro”, conta que o escritor Umberto Eco possuía uma enorme
biblioteca com mais de trinta mil livros, porém, nem todos lidos. E a maioria
das pessoas que o visitavam costumava perguntar:
“Uau!
Signore professore dottore Eco, que biblioteca você tem! Quantos desses livros
você já leu?”
Neste ponto, Taleb argumenta que este é
o tipo de pergunta que leva a uma forma errada de enxergar o conhecimento.
Segundo ele, os livros não
lidos deveriam ser considerados bem mais valiosos do que os que foram lidos.
E ele tem toda razão.
Explico.
Suponha que você está montando uma
biblioteca pessoal. Qual das estratégias abaixo você adotaria?
- Biblioteca 01: você
a abastece com livros que vai lendo ao longo da vida, ou:
- Biblioteca 02: você
a abastece com todos os livros possíveis, mesmo sabendo que não conseguirá
ler todos eles.
Veja. A opção 1 torna sua biblioteca um
bom status
pessoal, pois, quando você a preencher com uma quantidade elevada de livros, as
estantes serão a evidência do grande volume de conhecimento que você possui. E,
no caso de alguém fazer a pergunta que faziam à Eco, você poderia responder “já
li todos eles!”.
A opção 2 seguramente lhe permitiria
construir uma biblioteca muito maior, já que nela você poderia inserir livros
que ainda não leu. Mas, exatamente por isso, ela tiraria de você a oportunidade
de se gabar, já que a quantidade de livros não lidos, certamente, seria bem
maior do que os que você dará conta de ler ao longo da sua vida (por mais
assíduo leitor que seja).
Repare a diferença ilustrada na figura
abaixo.
Divulgação/ Victor de Almeida |
Os inúmeros livros não lidos da
Biblioteca 02 é o que Taleb chama de antibiblioteca.
No primeiro momento, ela é vista como a evidência de tudo o que você não sabe
e, por isso, pode parecer ameaçadora.
A antibiblioteca expõe descaradamente o quanto seu
saber é
ínfimo diante da
imensidão de leituras que você ainda não fez.
A diferença, então, é que a biblioteca
da opção 1 proporciona conforto e status,
enquanto a 2 desnuda a pequenez de seu conhecimento.
Qual importância da antibiblioteca?
Embora te exponha à infinitude do que
ainda há para se conhecer – o que pode soar realmente intimidador – a antibiblioteca é o que de fato deveria
importar. Pois, é ela que
vai chacoalhar a sua zona de acomodação, despertando-lhe a real consciência do
quanto você ainda não sabe, do muito que ainda há para aprender
e, automaticamente, do quão largamente você pode (e deve) melhorar.
Evitar a antibiblioteca é
fechar-se em uma bolha, limitando as várias oportunidades de crescimento. Tê-la
significa manter-se aberto
ao desconhecido, exposto a uma abundância de caminhos possíveis
para o desenvolvimento.
O anticonhecimento
Entender o conceito da antibiblioteca te ajuda a extrapolar a ideia
para o campo do aprendizado e do crescimento pessoal. Pois seu foco não será
mais em se gabar pelo que já sabe. Mas em seguir na direção de seu
anticonhecimento, porque é lá onde os novos aprendizados estão.
Adentrar no anticonhecimento revela uma
parcela do mundo que você não entende, abrindo a incrível possibilidade de
reconstruir as estruturas nas quais você geralmente baseia suas interpretações
do mundo. Anticonhecimento é
reconstrução constante, um dos princípios da evolução, do desenvolvimento
contínuo e da antigfragilidade.
Quando se fala em desenvolvimento
pessoal, o que você não sabe diz bem mais sobre si do que aquilo que você já
conhece.
E aí, você possui uma antibiblioteca?
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*Victor
de Almeida Moreira é engenheiro de produção, com MBA em Engenharia de Custos,
gestor de projetos da Mineração Rio do Norte (MRN), a maior mineradora de
bauxita do país, e autor do livro (Auto)liderança Antifrágil, publicado pela
Editora Gente.
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