O Brasil precisa de uma política industrial
José Velloso*
A indústria de
transformação no Brasil, que era de 34% do PIB na década de 1980, recuou para
11% em 2021. Essa queda foi acompanhada de menor participação da produção de
bens de alta intensidade tecnológica e da redução do nível de produtividade da
economia, colocou o País mais dependente do suprimento de matérias-primas e
produtos intermediários procedentes do exterior.
As últimas crises como
a Pandemia de COVID 19 e mais recentemente a Guerra na Ucrânia, mostraram a
importância da indústria nos aspectos econômico e social do País. Setores
estratégicos como saúde, máquinas e equipamentos, fertilizantes, componentes
eletroeletrônicos entre outros, foram os mais afetados.
A dependência de um
único ou principal fornecedor, mostrou a fragilidade das cadeias globais de
valor no suprimento de ítens críticos, quando submetidas às crises globais,
levando as principais
economias do mundo a reavaliarem suas estratégias, buscando
explorar setores econômicos onde detêm maiores vantagens competitivas ou onde
podem desenvolvê-la para sustentação do crescimento.
O Brasil não pode ficar
fora dessa tendência e, para isso, necessita implementar um conjunto de
instrumentos e políticas públicas tendo como objetivo estimular e
direcionar novos investimentos produtivos de forma a induzir o setor privado na
busca de novas oportunidades e na expansão de fronteiras tecnológicas.
Estas políticas
precisam ter objetivos permanentes e suas medidas e instrumentos, horizontes de
médio e longo prazo. Por outro lado, é indispensável dispor de um sistema de
acompanhamento e de avaliação de desempenho das medidas adotadas, ao longo do
tempo, para permitir, sempre que necessário, sua adequação aos objetivos
propostos. As políticas precisam ter tempo para começar e data para terminar,
com metas quantificáveis para serem atingidas.
Nesse sentido, o País
necessita de uma Política de Desenvolvimento Industrial integrada com as
Políticas de Inovação e de Comércio Exterior, bem como com a Política
Macroeconômica. Essas políticas devem coexistir, de forma estratégica e
objetiva, para que possam contribuir na transformação da estrutura industrial,
intensivas em tecnologia, para aumentar a produtividade, a competitividade e o
desenvolvimento de produtos diferenciados e de maior valor agregado, extensivo
a serviços junto a novos modelos de negócios.
Sabemos que as últimas
incursões do Brasil em agendas de política industrial foram desastrosas e
resultaram em má alocação de recursos, corrupção, entre outros aspectos,
principalmente por excesso de políticas setoriais compensatórias, ações não
integradas e falta de metas e de prazos definidos. Essas políticas foram
adotadas no intuito de compensar as assimetrias provocadas pelo “Custo Brasil”,
mas só as acentuou, reduzindo a competitividade das empresas e acelerando o
processo precoce de desindustrialização, que o país vem sofrendo desde o início
deste século.
A Política de
Desenvolvimento Industrial moderna e efetiva, deve promover um “catching up”,
permitindo atingir o índice de renda dos países da OCDE, tendo em consideração
que é preciso: a resolução dos problemas estruturais que resultam no
“Custo Brasil”; estabilidade macroeconômica e equilíbrio fiscal; melhoria da
produtividade em todos os setores econômicos; adoção de uma agenda de
desenvolvimento transversal, que priorize a inovação; e reorganização econômica
em setores estratégicos para o país.
A definição dessas
áreas estratégicas tem que ter uma visão holística, para transbordar
conhecimento por toda a cadeia de valor, principalmente considerando aquelas em
que o País tem evidentes vantagens comparativas.
O foco é o
desenvolvimento de pesquisa, desenvolvimento e engenharia de produto e
processo, no país, modernizando e ampliando a complexidade de nosso parque
industrial, incluindo a integração com serviços sofisticados. O objetivo é o
aumento da produtividade e da competitividade da produção brasileira, a partir
do aumento do estoque de capital por trabalhador, que é historicamente baixo e,
consequentemente, o aumento na participação da indústria no PIB, mas
principalmente o domínio de rotas tecnológicas estratégicas.
Dessa forma será
necessário a modernização e integração das instituições de apoio e das
políticas de ciência, tecnologia, inovação, educação e de desenvolvimento
industrial de forma a apoiar e possibilitar um sistema de produção sofisticado
e complexo, necessário para sustentar o desenvolvimento brasileiro. O recurso
público deve ser usado de forma a alavancar o investimento privado em P&D e
a melhorar a produtividade da economia.
*José Velloso é engenheiro mecânico, administrador de empresas e presidente executivo da ABIMAQ
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