O fomento e os desafios do uso do etanol no território brasileiro
J.A.Puppio*
Muito se fala em
sustentabilidade, na utilização de recursos limpos e renováveis, na preservação
do meio ambiente. Pouco se faz, ainda, para que essas e outras atitudes sejam,
de fato, aplicadas no cotidiano das pessoas. Aliás, o incentivo às práticas de
consumo consciente deve-se “começar do começo”, ou seja, com leis específicas
que visam implementar medidas para mudança de hábitos de consumo.
O carro à álcool surgiu
de uma crise, a chamada Crise do Petróleo de 1973. O Brasil foi impactado da
mesma forma que os grandes mercados internacionais, porém, para resolver esse
entrave, o país criou um combustível alternativo.
Em 1951, no ITA
(Instituto Tecnológico de Aeronáutica), o professor e engenheiro Urbano Ernesto
Stumpf deu início às pesquisas que culminaram no desenvolvimento do motor a
álcool. Posteriormente, apresentou ao governo a tecnologia que permitiu aos
automóveis rodarem com o álcool hidratado – o popular etanol.
Dessa forma, em
novembro de 1975, foi criado no Brasil o Programa Nacional do Álcool (Proálcool),
criado por decreto governamental. Tal programa contribuiu para impulsionar a
produção de bioenergia no país, conferindo uma das maiores realizações baseadas
em ciência e tecnologia com selo 100% brasileiro.
Encostando nos anos 80
– mais precisamente em julho de 1979 – uma indústria automobilística lançou no
mercado nacional o primeiro carro movido a álcool combustível. O Fiat 147 foi
fabricado comercialmente com motor preparado para receber o combustível à base
de cana-de-açúcar.
O Brasil é o segundo
maior produtor mundial de etanol do mundo, perdendo apenas para os Estados
Unidos. O país poderia ser protagonista do uso do etanol, a fim de diminuir as
emissões de gás carbônico (CO2). No entanto, essa cultura não vem sendo
adotada, mesmo com a oferta do produto nas bombas, em tempos que às ações em
prol da sustentabilidade deveriam ser palco das atenções em nível global.
Tanto o Brasil como os
Estados Unidos se diferenciam em relação a muitos países por suas extensas
áreas agricultáveis, facilitando o cultivo de cana-de-açúcar ou milho para a
produção de combustível. Eis o fato que justifica a disseminação do uso do
etanol no país. Porém, as estratégias das montadoras automobilísticas
estão mais voltadas à eletrificação das frotas – tática a qual atende os
principais mercados da Europa no quesito sustentabilidade.
No entanto, uma nova
gasolina também vem para competir. Feita de CO2 captado da atmosfera, o
resultado é um combustível limpo e renovável, e vem sendo a grande aposta de
algumas empresas, como a Porsche, que está construindo uma fábrica desse tipo
de combustível no Chile.
O questionamento,
contudo, fica em torno do porquê não usar o etanol? Além de exigir adaptações
nos motores, esse tipo de combustível é popular apenas no Brasil. Em tempos
atuais, a indústria automobilística já tem a sustentabilidade conceituada, com
projetos sólidos de renovação e substituição nas frotas por veículos menos
poluentes e de zero emissão. No entanto, às culturas regionais devem se
conscientizar em consumir uma energia limpa, pois tem a oferta, mas não se tem
consciência.
*J.A.Puppio é empresário, diretor-presidente da Air Safety e autor do livro “Impossível é o que não se tentou”.
Nenhum comentário