Precisamos cultivar a tolerância e acabar com os discursos de ódio
Por Francisco Gomes Junior, presidente da ADDP - Associação de Defesa de Dados Pessoais
A maioria dos cidadãos do nosso país
conhecem os direitos individuais e coletivos previstos na Constituição Federal,
já os operadores do Direito, principalmente por dever do ofício, têm a
obrigação de conhecê-los e observá-los com rigor.
O juízo comum da sociedade não necessita
de tecnicidades para saber que todos são iguais perante a lei, que o tratamento
a todos deve ser isonômico e que nenhum tipo de discriminação - seja em razão
de raça, indenidade de gênero, cor e religião - é permitido. E não deve ser
tolerado.
Nós, advogados, temos o Direito como
ferramenta de trabalho, somos guardiões auxiliares da sociedade em seus
direitos constitucionais e, por muitas vezes, denunciamos quando nossos
direitos ou prerrogativas profissionais não são respeitados.
Sabemos também que apesar de avanços nos
últimos anos, a mulher sofre ainda muita discriminação na sociedade, tendo que
lutar por igualdade de tratamento e isonomia salarial, dentre outras lutas,
algumas inclusive para preservação da própria vida (o número de feminicídio tem
apresentado crescimento).
Pois bem, o que dizer então quando uma
discriminação é proferida por uma mulher? E mais, por uma mulher que se diz
advogada? E se essa mesma mulher for advogada e vice-presidente representante
da Mulher Advogada na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Uberlândia
(MG)?
Um vídeo que circula nas redes sociais
mostra três mulheres em um bar e uma delas seria mencionada vice-presidente da
Mulher Advogada da OAB proferindo uma série de ofensas contra os nordestinos,
em função dos votos que teriam sido dados a um dos candidatos no primeiro turno
das eleições presidenciais naquela região.
Como advogado, obviamente repudio a fala
xenófoba e discriminatória de tal profissional e caso se confirme que a fala
tenha partido de tal profissional não entendo que tal postura seja compatível
com uma representante da OAB e nem mesmo como uma advogada.
Obviamente, cabe aos órgãos responsáveis
(a OAB no âmbito profissional e as demais autoridades em caso de outros
ilícitos) a apuração das eventuais responsabilidades, mas a repercussão nas
mídias sociais já é enorme. Cabe a reflexão se por uma preferência política
torna-se aceitável ofender o outro, que também é brasileiro, com os mesmos
direitos e obrigações. É hora de cultivarmos a tolerância, embora essa ideia
não seja aceita por muitos atualmente.
Francisco Gomes Júnior - Sócio da OGF Advogados. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor do livro Justiça Sem Limites. Instagram: https://www.instagram.com/franciscogomesadv/
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