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Projeto reforça alfabetização nos manguezais da Amazônia

A ação beneficia crianças do Ensino Fundamental com dificuldade de aprendizagem devido à pandemia

Turma do AlfaMangue - Projeto de Alfabetização do Mangues da Amazônia
Raquel Leite para Projeto Mangues da Amazônia

Um novo desafio se apresenta às comunidades extrativistas na zona costeira do Pará: o apoio à alfabetização escolar, com a inovação de um método que associa a aprendizagem a elementos da fauna e flora em região inserida na maior faixa contínua de manguezais do planeta, onde a educação é chave à conservação e uso sustentável dos recursos naturais, com qualidade de vida e renda para o sustento das famílias.

“Em função das limitações do ensino à distância na região, a pandemia aumentou a dificuldade de leitura e escrita entre crianças já no quinto ano no Ensino Fundamental”, afirma a professora Giselle Silva, coordenadora da iniciativa Alfa Mangue, no município de Bragança (PA). Segundo ela, “a forma mais rápida e eficiente de reverter esse déficit no processo de alfabetização tem sido utilizar elementos da realidade e identidade local”.

A ação educativa integra o projeto Mangues da Amazônia, realizado pelo Instituto Peabiru e Associação Sarambuí, com patrocínio da Petrobras e apoio do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA). No Brasil, o número de crianças de 6 e 7 anos afetadas pelo atraso da alfabetização atingiu 2,4 milhões em 2021 – 66,3% a mais que em 2019 – conforme dados da ONG Todos Pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) do IBGE. O impacto foi maior na faixa da população de nível socioeconômico mais baixo.

A alfabetização é necessária ao desenvolvimento sociocognitivo e à compreensão das disciplinas curriculares, com menor risco de evasão escolar, o que tem motivado as ações do Alfa Mangue. Destinadas a crianças de sete a nove anos que vivem em reservas extrativistas, as atividades acontecem aos sábados pela manhã, durante quatro meses por turma, com uso de diversos recursos pedagógicos: cartilhas, jogos, música, poesia e ações de campo nos manguezais. “Elas aprendem palavras, sílabas e letras a partir das plantas, peixes, caranguejos, aves e demais elementos da natureza observados em companhia de um cientista”, explica a coordenadora, com mestrado em Línguas e Saberes da Amazônia.

A iniciativa surgiu como apoio ao Clube de Ciências, projeto socioambiental do Mangues da Amazônia no qual crianças de 10 a 12 anos brincam de ser pesquisadores, tanto em atividades nos manguezais como em visitas a laboratórios de instituições de Bragança, despertando a curiosidade para a ciência. No entanto, em alguns casos, havia carência no domínio básico de leitura e escrita, necessário às atividades.

Após a primeira turma de 27 crianças do segundo ao quinto ano do Ensino Fundamental, na comunidade do Araí, em Bragança, as ações foram agora estendidas à comunidade Tamatateua, entre agosto e novembro, para mais 30 crianças. O método sociolinguístico inclui trabalhos de leitura e interpretação de texto em casa, com auxílio dos pais ou responsáveis, comprometidos com o projeto.

“Os resultados têm sido surpreendentes, com alto engajamento das famílias e apoio de voluntários”, atesta a professora. De acordo com ela, a maioria das comunidades tradicionais em áreas de reservas extrativistas, como as que são beneficiadas pelo projeto, já estão conectadas por internet e celular: “vídeos e outras postagens falando dos manguezais constituem uma ótima ferramenta para a alfabetização”.

Sobre o Projeto Mangues da Amazônia

O Mangues da Amazônia é um projeto socioambiental com foco na recuperação e conservação de manguezais em Reservas Extrativistas Marinhas do estado do Pará. É realizado pelo Instituto Peabiru e pela Associação Sarambuí, em parceria com o Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), e conta com patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental. Com início em 2021 e duração de dois anos, o projeto atua na recuperação de espécies-chave dos manguezais através da elaboração de estratégias de manejo da madeira e do caranguejo-uçá com a participação das comunidades.

Sobre a Associação Sarambuí

A Associação Sarambuí é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) com sede em Bragança – Pará, constituída em 2015, cuja missão é promover a geração de conhecimento de maneira participativa, em prol da conservação e sustentabilidade dos recursos estuarino-costeiros. Nossas ações são direcionadas ao ecossistema manguezal, ao longo da costa amazônica brasileira, em particular no litoral do Estado do Pará. É uma das organizações realizadoras do projeto Mangues da Amazônia.

 

Sobre o Instituto Peabiru

O Instituto Peabiru é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) brasileira, fundada em 1998, que tem por missão facilitar processos de fortalecimento da organização social e da valorização da sociobiodiversidade. Com sede em Belém, atua nacionalmente, especialmente no bioma Amazônia, com ênfase no Marajó, Nordeste Paraense e na Região Metropolitana de Belém (PA). É uma das organizações realizadoras do projeto Mangues da Amazônia.

Aula de Alfabetização Projeto Mangues da Amazônia
Divulgação Projeto Mangues da Amazônia 

Aula de Alfabetização Projeto Mangues da Amazônia
Raquel Leite para Projeto Mangues da Amazônia

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