Como a evolução digital transformou o mercado da Cannabis Medicinal
Por Fabrizio Postiglione
A evolução digital vem fortalecendo o
segmento da Cannabis Medicinal e, por consequência, contribuindo de forma
importante no desenvolvimento do setor. Afinal, até hoje o preconceito e a
desinformação ainda estão presentes acerca do uso da planta como medicamento.
Porém, isso vem se transformando com a qualidade e a quantidade de dados atuais
sobre o tema, revolucionando boa parte dos segmentos envolvidos nos processos
de produção, comercialização e informação.
A demanda de referências científicas foi
intensificada durante a pandemia, onde as comunicações digitais eram a única
maneira de se manter conectado com o mundo exterior, considerando que tudo
passou a ser distribuído por canais como Youtube, Instagram, TikTok. Além
disso, plataformas de cursos, escolas e universidades captaram a necessidade de
adaptarem seus conteúdos para o digital. Esse é um processo que continua e, por
isso, acredito que tenha acelerado as trocas de informações em diversos setores
como o da saúde.
Há poucos anos, boa parte da população,
tanto pacientes como médicos, não conhecia os tratamentos à base de cannabis.
Hoje a situação mudou com informação e educação dos envolvidos, tenho observado
um movimento de quebra de paradigmas com o conhecimento científico. Com base
nisso, o profissional esclarece pacientes e familiares sobre as possibilidades
de tratamentos para doenças e condições, que por algumas vezes não tinham
solução, ou possuíam efeitos colaterais fortes com medicamentos
alopáticos.
Além disso, a evolução da telemedicina
conectou médicos e pacientes e ajudou milhares de pessoas, tanto nas capitais
como nas zonas mais distantes e remotas. Esse mecanismo ajudou a educar mais
profissionais da saúde a identificarem possíveis pacientes com condições para
utilizar cannabis. Os cursos on-line, grupos de estudos, webinários, congressos
on-line e inúmeros outros meios permitiram acelerar as trocas de informações e
nivelar o conhecimento sobre o uso.
E esse movimento é observado nos números
de médicos prescritores. No Brasil, o número de médicos prescritores vem
se multiplicando a cada ano. Nos últimos seis anos, com um crescimento médio de
124% ao ano, de acordo com dados da Anvisa. Houve impacto positivo também no
tempo de recebimento de produtos. Antigamente, todo o processo para utilizar o
medicamento depois da receita médica demorava cerca de 4 meses, hoje
conseguimos em poucos dias.
Outro grande benefício foi no comércio
digital, que passou por diversos estágios como, por exemplo, na comunicação e
na jornada do paciente. Anteriormente, nós não tínhamos a oportunidade de ter
uma aproximação com o cliente final, hoje temos e isso nos permite uma
personalização muito grande para o desenvolvimento de produtos e para prestar
um atendimento humanizado, que por muitas vezes é o que a pessoa
precisa.
Além de aprimorar os processos de
comunicação e informação, a transformação digital foi fundamental para
aperfeiçoar o processo de cultivo, que cada vez mais é surpreendido por
técnicas digitais que revolucionam e trazem maior eficiência nas produções.
Afinal, garantir a qualidade dos produtos é fundamental para garantir
resultados promissores e naturalizar na sociedade os benefícios dos
medicamentos à base de cannabis medicinal.
Na produção, em módulos controladores,
por exemplo, é possível controlar o ambiente, acompanhar e intervir, em tempo
real e remotamente, na temperatura, umidade, circulação de ar e quantidade de
fertilizantes do local. Além disso, existem inúmeros outros controles que, com
inteligência artificial, podem identificar se uma planta está doente ou se
necessita de um nutriente específico. Essa evolução trouxe mais eficiência na
produção, elevando não só a colheita, mas também as concentrações de
canabinóides nas flores, que antigamente eram de 100 a 200 gramas por planta,
hoje, podem chegar a 1kg.
O Brasil é um dos países que mais
pesquisa e produz artigos científicos. Por isso, reitero que a informação gera
conexão. Com base nela, estamos nos abrindo para novas possibilidades.
O mundo digital acelerou os nossos
passos, deixou a evolução linear para trás e trouxe uma evolução exponencial.
Forçou a nossa criatividade e o nosso pensamento para usufruir das
possibilidades tecnológicas para melhorar a eficácia da planta como forma de
tratamento. Conheci o caso de uma menina de 10 anos com epilepsia que tinha
cerca de 30 convulsões por dia, isso significa mais de um ataque por hora.
Neste caso, medicamentos à base de cannabis reduziram para uma vez a cada três
meses, depois seis e hoje zero.
Descrevo a transformação digital no
setor da cannabis medicinal hoje como viabilidade e agilidade. Entendo que a
informação foi um dos pontos que mais o transformou. A mesma informação que
quebra paradigmas é a que trás esperança, novas oportunidades de tratamento e,
logo, qualidade de vida.
Fabrizio Postiglione é fundador e CEO da Remederi, farmacêutica brasileira que promove o acesso a produtos, serviços e educação sobre a cannabis medicinal. O executivo estuda a planta há mais de 10 anos e ao longo de sua trajetória profissional, atuou em todo o processo para produção e comercialização de medicamentos à base de cannabis.
Nenhum comentário