Em evento da CCIFB-SP, economista Pérsio Arida analisa as perspectivas para a economia brasileira no próximo governo
Um dos pais do Plano Real, Arida analisou
pontos da agenda econômica do país, como reforma tributária e acordo comercial
entre UE e Mercosul
São Paulo, 9 de novembro de 2022 - O economista Persio Arida, um dos
formuladores do Plano Real, foi o convidado do Canal Aberto/Observatório
Econômico, evento online realizado na manhã desta quarta-feira (09/11) pela
Câmara de Comércio França Brasil (CCIFB-SP). Integrante da equipe definida pelo
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para atuar na transição, Arida
comentou pontos importantes da agenda econômica do país para o curto e o médio
prazos, como a reforma tributária e o acordo entre União Europeia e Mercosul,
além de apresentar suas expectativas para o cenário econômico global em 2023.
O presidente da CCIFB-SP, Pedro Antonio
Gouvea Vieira Almeida e Silva, fez a abertura do webinar, lembrando que Arida
não costuma dar entrevistas e palestras, agradecendo a gentileza dispensada ao
evento da Câmara. Pedro Antonio destacou a relevância das relações comerciais
entre França e Brasil, ressaltando que o investimento direto francês no país é
o terceiro maior em estoque, superando o realizado pela China, por exemplo.
"Todas as empresas que compõem o
índice da Bolsa de Valores de Paris estão presentes no país, além de fintechs e
vários unicórnios", disse o presidente da CCIFB. Ele destacou também que
as empresas francesas são os maiores empregadores do Brasil, com
aproximadamente 600 mil colaboradores diretos, e os maiores pagadores de
impostos do país. Citou ainda o fato de a União Europeia ser o maior parceiro
comercial do Brasil.
Octavio de Barros, vice-presidente da
CCIFB-SP, destacou a reputação e a credibilidade que Arida conquistou ao longo
de sua trajetória profissional, citando a sua participação na formulação do
Plano Real e sua passagem pela presidência do Banco Central e do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Entre os pontos da agenda econômica
comentados, Arida afirmou que, negociado há muito tempo, o acordo com a União
Europeia "já nasceu velho, ficando aquém daquilo que o Brasil
precisaria". Em sua opinião, no entanto, é melhor fechar o acordo e, se
possível, garantir a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), iniciativa " que seria muito bem-vinda
para o país, inclusive do ponto de vista das restrições que a organização
coloca em relação a políticas protecionistas". Arida acrescentou que, como
ocorre com toda economia emergente, "o caminho do Brasil é a integração
com o mundo".
Sobre a reforma tributária, Arida
comentou que está amadurecida a vertente em que se busca o aumento da
produtividade na economia, que está embutida na criação do Imposto sobre o
Valor Agregado (IVA). “Deve ser prioridade no próximo governo, o que é ótima
notícia”, disse ele. Ele destacou que a medida será um enorme avanço,
considerando o longo prazo de implementação do IVA. “A ideia é criar o IVA e reduzir
outros impostos, calibrando para a arrecadação ficar mais ou menos constante”,
disse. Em sua opinião, a iniciativa facilitaria o ganho de produtividade e
resolveria muitos pontos da discussão envolvendo a reindustrialização no país.
Outro assunto que foi abordado por Arida
é a agenda ambiental. Segundo ele, a saída do governo Bolsonaro renovará a
expectativa de uma boa agenda ambiental no Brasil, "que tem tudo para se
transformar na vanguarda da preservação da natureza", lembrando que, além
da Amazônia, o país conta com grande diversidade de fontes renováveis de
energia. Em sua opinião, essa mudança contribuiria muito para a atração de
fluxos de capitais para o Brasil. "Temos investidores que dão peso muito
grande ao chamado ESG e que deixaram de considerar o Brasil como opção de
investimento", disse ele.
No front fiscal, o economista citou o
exemplo da Grã-Bretanha – em que, em sua opinião, houve uma
"barbeiragem" no anúncio da política econômica da
ex-primeira-ministra Elizabeth Truss –, como um alerta ao novo governo no
Brasil. "Não se pode queimar a largada, ou seja, começar com algo
percebido como desastroso", disse ele. "A Inglaterra nos faz um
alerta: não queimar a largada", acrescentou. Arida disse que o Brasil vem
de uma política fiscal longe de ser contracionista e tem um teto de gastos que
vem sendo furado. "A preocupação maior é o risco de o novo governo
enfrentar o que se passou na Grã-Bretanha".
Em relação à independência do Banco
Central, outro tema abordado, o economista destacou que não vê possibilidade de
reversão nessa iniciativa. "A iniciativa foi um enorme avanço. É algo que
veio para ficar", disse ele. Arida acrescentou que o Banco Central vem
fazendo ótimo trabalho para aumentar a competividade no setor financeiro.
Pedro Antonio agradeceu a participação de Arida no evento, destacando dois pontos abordados na palestra do economista que "estão na mesa e que farão enorme diferença no próximo governo". O primeiro é a reforma do IVA, "uma medida imperativa e que já está madura". Ele também afirmou que o "isolacionismo" em que o Brasil mergulhou nos últimos anos não foi positivo país", acrescentando que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul "insere o Brasil mais rapidamente no cenário internacional e contribuirá para aumentar nossa produtividade e atrair capitais".
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