FILOSOFIA É COISA DE MULHER: 7 FILÓSOFAS QUE DEIXARAM SEU LEGADO NA HISTÓRIA
Livro inédito joga luz sob as mulheres que
transformaram o pensamento mundial
Celebrado toda terceira
quinta-feira de novembro, o Dia
Internacional da Filosofia foi instituído pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2005 com o
objetivo de valorizar a filosofia para o desenvolvimento do pensamento humano
em cada cultura e indivíduo. Esse ano a comemoração acontece em 17 de novembro e é uma
maneira de evidenciar o pensamento crítico como auxílio no sentido à vida e nos
processos estabelecidos pela sociedade.
Ao longo de séculos,
mulheres se destacaram nessa área, mas, mesmo com suas pesquisas, estudos,
políticas e revoluções, muitas delas não são lembradas, conhecidas ou citadas
na história. “Desde tempos
antigos temos filósofas transitando por diversas questões, como metafísica,
epistemologia, ética, política e gênero... essas experiências das mulheres com
frequência trazem para a Filosofia novas perspectivas de pensamento”,
explica Fabiana Lessa que, ao lado da também professora Natasha Hennemann,
acaba de lançar o livro “Filósofas:
O Legado das Mulheres na História do Pensamento Mundial”, que
busca dar visibilidade as ideias e ações e fazer justiça a essas grandes
intelectuais.
Para Natasha Hennemann,
“o conhecimento é essencial,
valioso e deve ser incentivado” e por isso listamos 7 mulheres que
você deveria conhecer e que, através do seu trabalho, transformaram a sociedade
que viveram e deixaram seu legado na história mundial.
Ban Zhao (40-120): essa
filósofa chinesa da Antiguidade foi pensadora, historiadora, educadora e se
destacou nos campos da ética e da reflexão sobre as virtudes. Nascida em uma
família erudita, cujo pai e irmão (Ban Biao e Ban Gu) iniciaram a pesquisa e
escrita do Livro de Han,
foi convidada pelo próprio imperador para colaborar e finalizar o projeto de
cem volumes que contava a história da China e abordava várias áreas do
conhecimento, como literatura, ciência e direito. Escreveu 16 outras obras,
entre poemas, comentários, cartas, anotações e instruções que estão traduzidas,
em sua maioria, apenas para o inglês. Trabalhou como preceptora de crianças e
jovens, como conselheira da imperatriz-regente Dowager Deng Sui e influenciou
toda a sociedade chinesa com sua obra “Lições
para Mulheres”, onde deixou conselhos e recomendações morais para
suas filhas.
Christine de Pizan (1364 – 1431): a
italiana do período medieval frequentou a corte francesa e, depois da morte do
rei Carlos V, do pai, do marido e de um filho criança, arregaçou as mangas e
começou a escrever poesia, publicar e divulgar seus escritos, agindo muitas
vezes como editora. A filósofa de Veneza é considerada a primeira mulher que
conseguiu se sustentar exclusivamente por meio de seus escritos, ou seja, a
primeira escritora profissional do Ocidente. Autora de mais de 40 livros,
antecipou a Querelle des
femmes, debate literário que durou cerca de quatro séculos e que
discutia o papel das mulheres: natureza, virtudes e lugar na sociedade. Também
defendia a educação igualitária para homens e mulheres e seus escritos foram
pioneiros no debate público em defesa do sexo feminino.
Olympe de Gouges (1748 – 1793): a
revolucionária francesa de infância simples percebeu e expôs várias
contradições entre discurso e prática da Revolução Francesa e do Iluminismo.
Produziu peças de teatro, panfletos e artigos políticos, se interessou pelo
debate de causas sociais, como abolição da escravidão, pena de morte, sistemas
de governo e igualdade entre homens e mulheres, e se tornou influente no
contexto da época. Em 1791 escreveu a Declaração
dos Direitos da Mulher e da Cidadã, como complemento a famosa Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (da própria Revolução, de 1789) e em 1793 foi executada na
guilhotina por ser caracterizada como conspiradora, contrária ao governo e
mulher que teria se esquecido das virtudes do seu sexo.
Harriet Taylor Mill (1804-1858): a
pensadora inglesa da era vitoriana debateu sobre a defesa dos direitos das
mulheres, com críticas à religião e a necessidade de rever questões que as
desfavoreciam na sociedade. Também influenciou o pensamento de John Mill, seu
segundo marido e intelectual considerado um marco da teoria liberal, que
discutiu sobre sufrágio, divórcio e a condição feminina no sentido legal.
Buscava o acesso à educação e ao trabalho de forma igualitária aos homens e
mulheres, pois acreditava que se eles usufruíssem de direitos civis e políticos
também se responsabilizariam igualmente pelas questões publicas e do lar, como
os filhos.
Lélia Gonzalez (1935 – 1994): essa
intelectual brasileira foi esquecida por anos e vem sendo muito resgatada por
seu trabalho na filosofia e antropologia. Militante do movimento negro e
feminista do século XX, lutou contra o racismo estrutural, a desigualdade de
gênero articulada à questão racial e conseguiu transitar por diversos espaços,
do acadêmico ao popular. Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado,
fez parte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e uniu história,
geografia, antropologia e filosofia para tratar das questões raciais e de
gênero do Brasil e da América Latina.
Angela Davis (1944 – hoje): a
estadunidense já foi considerada uma das dez criminosas mais perigosas dos
Estados Unidos e inocentada de todas as acusações. A filósofa e ativista, que
viveu a época da segregação, se envolveu com as causas raciais e sua militância
em defesa dos direitos da população negra é um marco. Sua teoria crítica
compreende que gênero, raça e classe social se entrelaçam e devem ser levados
em consideração em uma análise sobre as desigualdades que estruturam uma
sociedade capitalista. Também dá espaço para o debate do feminismo negro, a
objetificação do corpo da mulher negra e o trabalho doméstico
Vandana Shiva (1952 – hoje): a indiana é reconhecida e premiada por seus estudos e práticas dentro da ecologia, principalmente por seus projetos sobre agricultura orgânica e preservação ambiental. A também doutora em Física colabora para a defesa do conhecimento indígena e da biodiversidade e critica a modificação genética dos alimentos, tanto pelos danos ambientais e à saúde quanto pelo crescimento de empresas e da averiguação de terras e agricultores, retirando o meio de vida e o sustento de uma população vulnerável, fomentando a sua exploração.
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