Fórum Brasil África 2022: Parceria entre Brasil e África é fundamental para conseguirem um futuro sustentável
Durante o primeiro dia de fórum temas ligados à
infraestrutura, agricultura e gestão sustentável de resíduos foram destaque nas
apresentações.
Durante a abertura da 10ª edição do
Fórum Brasil África, ocorrida nesta manhã (29), João Bosco Monte, Presidente do
Instituto Brasil África (IBRAF) afirmou que o Brasil está de volta ao mapa
mundial, especialmente em relação às parcerias ligadas ao meio ambiente. "O Brazil Africa Forum 2022 é
nossa chance de enfatizar que Brasil e África precisam encontrar parcerias,
olhar para o futuro", explica. Segundo ele, é importante
ressaltar que reforçar esses laços é o ponto crucial para um crescimento tanto
brasileiro como africano.
"O Brasil ficou distante do continente africano nos últimos anos, mas a
partir de 2023 espera-se que tenha um novo ânimo, especialmente para
reaproximar os dois lados", diz ele sobre a expectativa.
Como forma de aproximar - e reaproximar
- cada vez mais a África e o Brasil, João Bosco Monte citou um famoso ditado
africano para ilustrar a importância dessa união: "se quiser ir rápido, vá
sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado".
O primeiro dia contou as presenças de
Patrick Dlamini (CEO do DBSA), Natália Dias (CEO do Standard Bank Brasil),
Braima Luis Cassama (Vice Presidente do BOAD) e Guillaume Bonnard, (Vice
Presidente da Global Sales and Services – Thomson France) foi apresentada no
Brazil Africa Fórum 2022 a plenária “Promovendo soluções em Infraestrutura para
espaços densamente povoados”.
Partindo-se do fato que, até 2050, dois
terços da população mundial deverá viver em áreas urbanas, o que indica a
necessidade de desenvolver infraestrutura nas cidades para enfrentar os grandes
desafios (habitação, transporte público, resíduos, energia, etc.), que
definirão a qualidade de vida das pessoas. Sendo assim, uma das demandas mais
urgentes para as cidades é como fornecer soluções de infraestrutura que possam
lidar com o estresse causado por essa expansão massiva de populações em espaços
concentrados.
Questões como os projetos de
infraestrutura para construir cidades mais sustentáveis, para financiamento
privado e um saneamento básico que promova o bem-estar com menor impacto
ambiental foram os principais tópicos no painel.
"O Brasil é bom exemplo de como o
setor agrícola tem contribuído para a economia e, à medida que o continente
africano vai se desenvolvendo, temos muito a fazer em termos de agricultura não
só em nosso continente, mas no mundo todo. Também queremos integrar agricultura
com tecnologia e isso vai garantir nossa infraestrutura, vai garantir as
demandas. Existem várias coisas que precisamos levar em conta em nossa
infraestrutura e a gente precisa reconectar Brasil e continente africano", disse Patrick Dlamini, que frisou a
importância da tecnologia.
"A vantagem da tecnologia está em
nos dar essa solução, lidando com o que podemos fazer, como economias
emergentes, e que parece impossível. Pensar em áreas que precisam de muita
infraestrutura, de prevenção, digitalizar nossas infraestruturas para
solucionar nossos problemas atuais", completou.
"Queremos garantir que haja esse
suporte, de aspectos técnicos, que o setor privado possa participar, e também
temos focado na estabilidade financeira dos projetos, tentando ver as
principais origens, e tudo isso é um grande desafio. Existem muitas restrições
nesse sentido, então olhamos para as fontes de financiamento e trazemos um
modelo de desenvolvimento",
avalia Natália Dias.
Para ela, falta de dinheiro não é o
problema, mas como ele é aplicado. "Acho que estamos apenas no meio de um
processo. Para a ONU só estamos usando 1% do necessário para alcançarmos o alvo
do esperado. E os países nunca foram tão ricos. A questão não é dinheiro, mas
como tomamos as decisões", analisa Natália, que vê com bons olhos a trilha
que está sendo seguida.
"Acho que é uma curva de
aprendizado para nós, e o setor privado agora está aprendendo isso. Temos
comprometimento de financiar pelos próximos quatro anos e também temos as
soluções para ajudar a medir os impactos e avançar em tecnologia em áreas
cruciais daqui para frente."
Sustentabilidade, tecnologia e
desenvolvimento
Guillaume Bonnard falou dos benefícios
gerados às nações quando sustentabilidade, tecnologia e desenvolvimento
caminham juntos. "Nós
enfrentamos diariamente essa mesma luta para alinhar todos os parâmetros da
equação: manter progresso, ter desenvolvimento dos países, não danificar o
ambiente e encontrar o financiamento para isso. É uma equação muito difícil de
ser resolvida. O desenvolvimento de um país aumenta de 1 a 2% o seu PIB e isso
cria valor, com financiamento do que pode ser feito. A pergunta é: quando
podemos fazer a ponte com bancos privados? Os banqueiros têm que entrar nos
projetos e aí vamos para o setor público novamente, porque qualquer banco
privado tem que fazer algo para ter lucro."
E isso sem deixar de lado o fator
humano, claro. "Mais
importante é tentar perceber os elementos que vão motivar essa atratividade de
investimentos. É preciso reforçar a capacidade para os investidores privados, o
reforço da capacidade, a identificação do projeto, estudos prévios, e outro
elemento é ter instituições de financiamento. É preciso uma supervisão e que
investidores privados também tenham percepção dos riscos ambientais e sociais,
por exemplo, com a construção de uma ponte sobre uma área habitada",
fala Braima Luis Cassama.
Patrick Dlamini usou o Brasil como
referência ao falar de como a experiência por aqui pode ser uma referência para
o continente africano.
"O Brasil é bom exemplo de como o
setor agrícola tem contribuído para a economia e, à medida que continente
africano for se desenvolvendo, temos muito a fazer em termos de agricultura não
só em nosso continente, mas no mundo todo. Também queremos integrar agricultura
com tecnologia e isso vai garantir nossa infraestrutura, vai garantir as
demandas. Existem várias coisas que precisamos levar em conta em nossa
infraestrutura e a gente precisa reconectar Brasil e continente africano"
E como reforça Natália Dias, que almeja
que o Brasil e África se unam ainda mais para fortalecimento de ambos.
"Espero que o Brasil realmente
esteja de volta nas parcerias com o continente africano. Somos o principal
produtor agrícola e temos buscado maior interação com o continente africano.
Temos também muito a fazer no Brasil quando se trata de infraestrutura, mas
acho que podemos identificar as áreas que temos mais sinergia e potencializar a
tecnologia nos continentes africanos".
Gestão sustentável de resíduos
Ao serem questionados sobre como
transformar resíduos em oportunidades de geração de emprego e renda para os
cidadãos desprivilegiados nas cidades,
Jean Pierre Elong Mbassi avaliou a realidade da gestão de resíduos na África.
"A gestão de resíduos é o
principal problema que enfrentamos, porque a imagem das cidades é refletida na
própria cidade. Isso é visto na limpeza ou na sujeira dessa cidade.
Infelizmente, no caso da África, apenas 40% dos resíduos são coletados e 60%
são deixados. E como eles são geridos? Ou jogados em lugares abertos, queimados
ou são colocados em rios. E isso tudo causa muitos danos à saúde, no
funcionamento da infraestrutura, na percepção que amanhã será pior do que hoje",
disse ele, que vê como o problema dos resíduos nas cidades tem sido postergado.
"Isso não é levado em
conta na administração de uma cidade. Quanto mais resíduos, dia após dia, o
engajamento das cidades vem da percepção de deixar o hoje sem pensar no amanhã.
Como planejar se você achar que amanhã será pior que hoje? É algo crítico, que
reflitamos, então, sobre a gestão de resíduos", completou
ele, que diz que a grande maioria dos resíduos são fortemente
reaproveitáveis.
"80% do resíduos
produzido na África é orgânico e ele pode ser reutilizado. Muitos catadores
fazem isso de modo informal e como podemos fazer isso nas cidades? É integrar
os 60% que não fazem parte dos planos de gestão."
Jean Pierre Elong Mbassi discorda que são necessários rios de dinheiro
para ajudar a resolver o problema. "Acho que não faz sentido do ponto de
vista financeiro. As pessoas acham que pra manter uma cidade limpa precisa de
bilhões de dólares, mas a primeira alternativa é diminuir a produção de lixo.
Primeiro é a questão de pensamento, porque educação é a chave. Você começa
educando as crianças, porque elas educam os adultos."
"Em segundo lugar, você tem obstáculos, como lixões, aterros sanitários, e
isso sim vai requerer investimento. E você consegue transformar o lixo em
riqueza. Se a gente leva a economia circular a sério, devemos levar a sério
também a conexão entre resíduos e energia, resíduos e agricultura, resíduos e
saúde... É lidar com a questão de resíduos de forma sistemática. É uma
obrigação crítica da comunidade humana lidar com a questão de resíduos, porque
as consequências disso nos atingirão diretamente", finaliza Mbassi.
O Fórum Brasil África é uma realização do Instituto Brasil África, presidido
por João Bosco Monte, e acontece até 30 de novembro, no WTC Sheraton Events São
Paulo.
Informações: https://forumbrazilafrica.com/pt/principal/
Nenhum comentário