Web 3.0 - Conceitos e perspectivas
*Por André Zogbi
Você já deve
ter eventualmente se deparado com os termos “metaverso” e “NFT”. Enquanto
metaverso se refere a espaços de realidade aumentada e virtual que entregam uma
experiência totalmente imersiva, NFT se trata de um ativo digital único, com
propriedade intelectual e contratos programáveis que melhoram os processos de
negociação de conteúdos como arte, jogos, música e vídeos, entre outros. Ambos
os termos têm se tornado cada vez mais populares em nosso vocabulário, mas sua
criação foi possível apenas devido a um terceiro fator, cujo conceito ainda
permanece obscuro para muitos de nós: a Web3.
O que é Web3?
A internet concebida na década de 90
(Web 1.0), consistia basicamente em sites do tipo “read-only”, sem qualquer
interação entre usuários. Com o decorrer de sua evolução até 2004, a internet
se tornou parcialmente editável com a criação das mídias sociais (Web 2.0),
ainda sendo amplamente adotada até hoje. Anos depois, em 2008, uma pessoa ou
grupo de pessoas conhecido como “Satoshi Nakamoto”, cuja identidade nunca foi
revelada, criou o Bitcoin como forma de permitir que retomássemos ao controle
sobre nossas transações financeiras sem necessidade de intermediários e, ainda assim,
de forma segura, através do que conhecemos hoje como blockchain.
A criação do Bitcoin e do blockchain
foram os dois principais responsáveis pela concepção da Web3, podendo ser
descrita como a mais nova versão da internet, a qual busca nos devolver a
propriedade da informação, opondo a centralização das informações nas mãos das
empresas e permitindo que mantenhamos controle sobre nossos dados.
Quão longe a Web3 já chegou?
A Web3 traz avanços importantes com
relação à Web 2.0, entre eles o fato de que não mais são requeridas informações
pessoais para a execução de determinadas transações e a maior segurança das
informações. Aparentemente, tudo indica que os investidores se convenceram de
que a Web3 seja o futuro da internet. Até hoje, cerca de 16 mil empresas
baseadas na nova atualização já captaram mais de US$ 88 milhões, de acordo com
o Web3 Tracker do Crunchbase. Além disso, a receita gerada com o blockchain
alcançou US$ 2,9 bilhões em 2021 e deve atingir $23,3 bilhões em 2028, de
acordo com o Vantage Market Research.
No entanto, apesar da rápida evolução, a
Web3 também apresenta riscos. A Footprint Analytics indicou que, no segundo
trimestre de 2022, foram detectados 48 ataques de grande impacto na Web3,
gerando perdas de aproximadamente US$ 718 milhões, após o prejuízo de cerca de
US$ 1,2 bilhão registrado no primeiro trimestre do ano. A regulação para a Web3
também se encontra em desenvolvimento, apresentando uma grande zona cinzenta
que tem constantemente gerado processos e multas. Neste ano, por exemplo, a
BlockFi foi multada em quase US$ 1 milhão pelos reguladores de Iowa, nos EUA,
por oferecer títulos não registrados.
O desenvolvimento da Web3 ainda não
atingiu seu completo potencial e, neste momento, ainda vivemos em um mundo
dominado pela Web2. No entanto, mudanças já começaram a ser observadas — apenas
em 2021, mais de 34 mil desenvolvedores contribuíram com códigos para projetos
da Web3 do tipo “open-source.”
Para o que ela é usada?
A Web3 foi criada principalmente com o
intuito de descentralizar a internet e promover aos usuários uma forma mais
rápida e fácil de se navegar, devolvendo propriedade sobre suas informações e
permitindo navegar de forma mais personalizada.
A quantidade de empresas e startups
desenvolvidas sobre ela tem aumentado substancialmente mês após mês. Como, por
exemplo, a Braintrust, uma rede descentralizada que conecta talentos a
empresas, com a diferença de que os mais de 700 mil talentos são os próprios
criadores e donos da empresa, e a Alchemy, a qual permite que empresas criem
aplicações descentralizadas sem precisarem gerir infraestrutura blockchain
in-house.
Apesar de corretoras de criptoativos
ainda serem extremamente populares no novo universo, outras aplicações baseadas
nela têm sido constantemente criadas, na medida em que ela vem aos poucos sendo
adotada como o novo padrão da internet.
A Web3 obviamente não está livre de
falhas e se depara com alguns desafios. Discussões envolvendo interações
sociais têm surgido, dado que existe a possibilidade de passarmos mais tempo
online em função de sua experiência mais imersiva. Além disso, ataques
cibernéticos podem se tornar uma preocupação relevante quanto mais aspectos de
nossas vidas se tornarem digitais.
Ainda assim, a atualização apresenta
avanços essenciais e já começou a mostrar seu potencial ao trazer mudanças
estruturais à nossa interação através da internet, abrindo portas à exploração
de oportunidades de negócio que não poderiam ser criadas com base em outro
mecanismo.
Ao longo dos próximos anos, a Web3 deve
gradualmente substituir as versões anteriores na medida em que suas aplicações
se tornarem mais populares. E, no final, apesar de ainda ser vulnerável a
certos riscos e estar sujeita a certas limitações, os ganhos obtidos com os
avanços tecnológicos trazidos por ela devem compensar em muito seus lados
negativos, abrindo portas a possibilidades que ainda descobriremos no futuro
próximo.
*André Zogbi é responsável pela atividade de relações com investidores da Mindset Ventures. Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Zogbi possui experiência em empreendedorismo e nos mercados financeiro e de investimentos alternativos, tendo passado por instituições como Banco Plural, Pátria Investimentos e XP Investimentos.
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