A Copa do Mundo em uma primavera atípica
*Beatriz
Breves
Desde a
minha mais tenra idade a Copa do Mundo sempre aconteceu nos meses de junho e
julho e esta é a primeira vez que ocorre no final do ano, em novembro e
dezembro. Não deixa de ser curioso pensar que também, há tanto tempo, muitos
meses antes do Mundial, praticamente todo brasileiro saberia dizer quando seria
o primeiro jogo, os nomes dos jogadores, quais as possibilidades de vitória ou
de derrota, os favoritos, enfim, o assunto dominava as conversas.
As ruas eram pintadas e o Brasil ficava
cada vez mais verde e amarelo. Hoje, no ano de 2022, o cenário da Copa
pós-pandemia, ou seja, após dois anos de muito sofrimento para todos que
habitam esse planeta, se modifica. Além das novas datas, a maioria das pessoas
não sabe mais os nomes dos jogadores e os assuntos que vem dominando as
conversas não são os jogos da Copa, mas sim, política.
Seria esta constatação uma coincidência
ou consequência do amadurecimento de um povo?
Não que falar e torcer pelo Brasil, ou o
país de origem, no futebol ocorra na ordem do imaturo, em absoluto. Não se
trata de pensar assim, apenas refletir que, antes, a Copa ocupava o lugar da
paixão cega, tudo seria excluído e nada mais interessaria. Era o futebol se
consagrando como o ópio do povo!
O Brasil, não diferente do resto do
mundo, experimentou um inverno atípico. Na verdade, foram dois anos de
estiagem, o frio dominou a alma, a saudade se fez solidão, as lágrimas banharam
tristezas, os medos dominaram esperanças e o sofrimento desaqueceu corações. E,
quando todos pensavam que o sol nasceria no horizonte, a guerra se precipitou
despontando a todos, ao topo da montanha. E, particularmente, a nossa pátria se
confirmou dividida politicamente.
Mas, Copa do Mundo é alegria! As pessoas
se reúnem para assistir aos jogos e torcerem. Enquanto algumas se encantam e se
sentem vitoriosas, outras estão desencantadas e derrotadas. Assim é o jogo da
vida: um mix de sentimentos!
Portanto, ao olhar os dois lados da
moeda chamada vida, o lado de um inverno extremamente frio obrigou o outro a
aquecer, logo, a amadurecer. Não se deixando, assim, ser dominado pela paixão
cega. Sem dúvida, uma mudança de olhar importante, pois implica na
transformação evolutiva de si mesmo enquanto povo, pátria e cidadãos. Cidadania
que, por sua vez, faz emergir o sentimento cívico, que se faz fundamental para
a formação da identidade, visto que é o registro do coletivo na personalidade
individual.
Fato é: aquele que perde a sua pátria,
tem ceifada as suas raízes, roubada a sua história e, talvez, pior, aniquilada
a sua própria cultura. Isso, consequentemente, leva a desconstrução, não só do
sentimento do “Eu” individual, mas, também, do “Eu” coletivo.
Nesse sentido, a Copa do Mundo, exerce
uma função ímpar na direção de unir, reunir e integrar, pois todo brasileiro se
unifica em prol da vitória do Brasil. Nada como uma primavera atípica!
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*Beatriz Breves é psicóloga, psicanalista, bacharel e licenciada em Física. É presidente, membro efetivo e fundador da Sociedade da Ciência do Sentir (SoCiS) e autora de 8 livros sobre o tema, entre os quais o lançamento Entre o mistério e a ignorância – o desvendar da psiquê humana.
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