Ativista pelo fim da apatridia, Maha Mamo receberá Ordem de Rio Branco em Brasília
Maha foi a primeira pessoa reconhecida como
apátrida pelo Brasil, tornou-se cidadã brasileira e, amanhã, será congratulada
pelo Governo Brasileiro em razão de seus esforços pelos direitos das pessoas
apátridas
Brasília, 5 de dezembro de 2022 – Primeira pessoa reconhecida como apátrida pelo Brasil, em 2018, Maha
Mamo receberá do governo brasileiro a Ordem de Rio Branco, no grau de
Cavaleiro, por seu ativismo pelo fim da apatridia no mundo.
A Ordem de Rio Branco, criada pelo
Decreto nº 51.697, de 5 de fevereiro de 1963, reconhece pessoas físicas ou
jurídicas nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos
excepcionais, tenham se tornado merecedoras da distinção. Maha receberá a
insígnia da Ordem na próxima quarta-feira (7), a partir das 11h00, em uma
cerimônia no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF).
“É uma grande honra receber este tão
importante reconhecimento da diplomacia brasileira. Assim como diz a Insígnia
do Barão do Rio Branco, ‘em qualquer lugar, terei sempre a Pátria em minha
lembrança’. É com muito orgulho que continuarei a levar o nome e o bom exemplo
do Brasil para todos os países onde eu estiver”, diz Maha.
A organização parceira do ACNUR,
Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), também receberá a insígnia da
Ordem de Rio Branco no grau de Grão-Mestre. Dentre as autoridades públicas
agraciadas, estão também o General de Divisão Sérgio Schwingel, comandante da
Operação Acolhida, no grau de Grande Oficial; e o ex-Coordenador-Geral do
Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Bernardo Laferté, no grau de
Oficial.
Pelo fim da apatridia
Maha Mamo, hoje cidadã brasileira, foi apátrida por 30 anos. É assim que são chamadas as
pessoas sem pátria, impedidas de ter uma nacionalidade e que, por consequência,
têm uma vida sem os direitos básicos de qualquer outro cidadão, pois não detém
um documento nacional.
Maha nasceu em Beirute, capital do
Líbano, mas não pôde ser registrada como libanesa porque o país, como a maioria
das nações, concede a nacionalidade pelo vínculo da identidade de seus pais, e
não pelo território onde se nasce. Maha teria, então, que assumir a origem dos
pais, sírios. Ocorre que o pai, Jean Mamo, é cristão, a mãe, Kifah Nachar, é
muçulmana, e as leis da Síria não permitem o casamento inter-religioso. O
resultado dessa perversa combinação jurídico-religiosa foi a apatridia — e
todas as dificuldades que dela derivam.
Maha e seus irmãos não pertenciam a
lugar algum, não eram sírios nem libaneses. Ficaram sem pátria, sem registro,
sem documentos e sem direitos. Tiveram que confrontar algumas das questões mais
elementares de cidadania, como frequentar uma escola, ter acesso a hospitais ou
desfrutar da liberdade de ir e vir.
Em 2018, após decisão do Ministério da
Justiça, Maha e sua irmã Souad se tornaram as primeiras pessoas reconhecidas
pelo Governo Brasileiro como apátridas. O procedimento de reconhecimento da
apatridia passou a existir no Brasil com a lei 13.445, aprovada em 2017 e mais
conhecida como a “Lei de Migração”.
Nessa trajetória pela cidadania, Maha
contou com o apoio irrestrito da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Hoje,
ela é uma das ativistas mais atuantes da campanha I Belong, que pretende acabar com a apatridia no
mundo até 2024.
O tema da apatridia foi destaque de um episódio do Podcast Refúgio em Pauta do ACNUR, em que Maha contou sua trajetória e a realidade ao ser reconhecida como cidadã brasileira.
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