Economia brasileira pode se igualar à Argentina ou Venezuela?
Inflação na terra dos 'hermanos' se aproxima de 90%,
enquanto na Venezuela os preços dispararam em 300%
Má gestão financeira e organizacional
tem sido um problema constante dos governos argentinos ao longo dos últimos
anos. Na Venezuela, a situação política de imposição, colocada por Nícolas
Maduro, levou o país a uma instabilidade social e econômica e ambas atingiram
patamares colapsáveis. A Argentina chegou ao maior nível de inflação dos últimos
30 anos, registrando 88% ao ano, no último mês de outubro; já a inflação na
Venezuela disparou para o patamar de 300% ao ano.
A situação econômica dos países vizinhos
tem alimentado medo e incertezas no mercado financeiro brasileiro. Essa
“angústia” é resultado da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o
país pela terceira vez a partir de 2023. O governo petista possui bases que se
aproximam dos ideais governamentais das atuais gestões de Argentina e
Venezuela, o que tem gerado dúvidas no panorama político econômico local.
No entanto, o Brasil possui diversos
pontos divergentes em relação às políticas econômicas adotadas por esses
países, até mesmo o modelo de gestão governamental segue uma linha
diferente.
Para Paulo Cunha, especialista em
mercado financeiro e CEO da iHUB Investimentos, a democracia brasileira cumpre
um papel de equilibrar os idealismos: “Apesar de todas as críticas que podemos
fazer da nossa jovem democracia, fato é que ela ainda assim possui um certo
equilíbrio de forças e arcabouço institucional”, explica.
Além de uma democracia abrangente e
equilibrada, fatores exclusivamente econômicos solidificam a diferenciação
entre Brasil, Argentina e Venezuela. Cunha comenta que o Brasil possui três
pontos divergentes e fundamentais para sustentar a tese de que o país não
seguirá caminhos semelhantes aos seus vizinhos:
- Boa reserva em dólares;
- Forte exportação de
commodities;
- Banco Central independente.
Brasil possui R$330 bilhões em reservas
Diferente das décadas de 80 e 90, quando
o país era um devedor líquido, atualmente o Brasil é um credor líquido
internacional, tendo mais reservas do que dívidas em dólares. Segundo
informações do Tesouro Nacional, o país possui aproximadamente US$330 bilhões
em reservas, contra US$30 bilhões em dívidas (majoritariamente dívidas internas
- em reais - representando apenas 3% da dívida total do Brasil).
Em uma eventual disparada do dólar, esse
“colchão” de proteção, criado através das reservas de moeda americana, se
valoriza em reais, evitando que o movimento de aumento perdure de forma muito
intensa e por um período prolongado.
Já nossos vizinhos sul-americanos, tanto
a Argentina, quanto a Venezuela, são devedores líquidos, possuindo mais dívidas
do que reservas internacionais. Quando existe alta do dólar na economia, a
dívida aumenta, o risco se potencializa, acarretando em mais fuga de moeda e
novamente em maior alta do dólar, causando uma espiral inflacionária e fuga de
capital.
“As reservas internacionais robustas
permitem que Banco Central do Brasil utilize-as para amortecer choques na moeda
brasileira e proteger também o real de posições especulativas, podendo liberar
ou enxugar a liquidez e normalizando o mercado de câmbio”, explica Cunha.
Balança comercial favorável
De janeiro a novembro de 2022, a
economia brasileira exportou 298 bilhões de dólares e importou 243 bilhões, resultando
em um saldo positivo de mais de 55 bilhões de dólares na balança comercial do
país. Essa movimentação acarreta no aumento de reservas em dólares
internacionais, e gera certa margem de segurança nas reservas locais.
O petróleo é responsável por um terço do
PIB e por cerca de 80% das receitas de exportação da Venezuela, tornando o país
extremamente dependente de preços favoráveis dessa matéria prima no mercado
internacional.
Já o Brasil possui um grande leque de
matérias primas, sendo a soja a principal, cuja representação é de “apenas” 14%
do volume total; a lista segue por várias outras commodities como minério de
ferro, petróleo bruto, açúcar e carne bovina. Um portfólio diversificado ajuda
a economia local a não ficar exposta a uma crise ocasionada pela queda nos
preços de uma determinada matéria-prima, assim como ocorre com a Venezuela.
Além disso, o Brasil está entre as 10
principais economias mundiais, tendo um imenso mercado interno com mais de 200
milhões de consumidores e detendo a principal metrópole e centro financeiro da
América Latina, São Paulo.
O PIB brasileiro também mostra a força
do consumo interno, principalmente no setor de serviços, que representa 60% do
produto interno bruto. O dado evidencia uma certa renda do brasileiro para consumir,
diferentemente da Argentina e Venezuela, em que a perda de renda nos últimos
anos é consideravelmente alta.
Autonomia do Banco Central
Recentemente, o Banco Central brasileiro
ganhou status de “independente”, isso significa que o seu presidente possui um
mandato fixo de quatro anos, não converge com o mandato presidencial e o líder
do executivo não pode demiti-lo durante o período. Essa estabilidade cria um
certo conforto para que a instituição possa aplicar políticas de ajuste
monetário, caso a inflação comece a dar sinais de aumento.
Na Turquia, em 2021, o presidente
Erdogan demitiu o líder do Banco Central, Naci Agbal, dois dias após Naci ter
aumentado a taxa de juros do país. A demissão não esperada custou ao país um
derretimento de 15% da moeda, apenas no dia do evento.
“A independência do Banco Central gera
segurança econômica e confiança de que nenhuma interferência política poderá
intervir no desenvolvimento da instituição financeira, criando um respaldo
técnico para o mercado financerio”, finaliza Paulo Cunha.
Sobre iHUB Investimentos
A iHUB Investimentos é uma empresa especializada em assessoria de investimentos credenciada pela XP Investimentos. Possui mais de 3,5 mil clientes, somando mais de R$1,5 bilhão em valores investidos sob custódia.
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