Epilepsia refratária: quando o tratamento não controla a convulsão
Neurologista explica o que é a doença e o
porquê acontece
São Paulo, dezembro de 2022 - Movimentos involuntários e
estereotipados, salivação excessiva e olhos virando para cima: esses são os
sintomas mais conhecidos de uma convulsão. Quadro que é recorrente em pacientes
diagnosticados com epilepsia, o que representa 2% dos brasileiros segundo a
Organização Mundial da Saúde, ou seja, quase 3 milhões de pessoas.
Diferente das convulsões causadas por
alguma condição médica, como infecção, insuficiência renal ou abstinência de
álcool, por exemplo, as convulsões da epilepsia são recorrentes e não precisam
de gatilhos. Já que essa é uma doença crônica causada por desajustes na
atividade elétrica cerebral.
Segundo a médica neurologista pela Santa
Casa de São Paulo e neurofisiologista pelo HCFMUSP, Dra. Natália Longo, as
crises epilépticas podem variar para cada paciente de acordo com a região do
cérebro afetada, mesmo assim, é muito difícil a convivência com qualquer tipo
de convulsão.
“Além dos abalos e movimentos
involuntários, a realização de movimentos de forma automática e a perda de
consciência temporária são sintomas que tornam as crises ainda mais complicadas
para o paciente e sua família. Por isso, uma pessoa epiléptica precisa fazer o
uso contínuo de medicações anticonvulsivantes para, assim, poder conquistar uma
boa qualidade de vida. Sem o medo constante de ter crise”, explicou.
Já a epilepsia refratária acontece
quando o paciente faz o uso correto dos medicamentos anticonvulsivantes e,
mesmo assim, o organismo não responde à medicação. Outros fatores que temos que
observar para descartar e dizer que o paciente tem epilepsia refratária é
verificar se o medicamento é o adequado para aquele tipo específico de
convulsão, a dosagem está adequada e se o paciente está dormindo e se
alimentando bem.
“Antes de diagnosticar uma epilepsia
refratária é necessário levar em consideração alguns aspectos importantes,
como: quantos medicamentos anticonvulsivantes este paciente já fez, os
medicamentos são adequados para o tipo de crise, a dose do medicamento está
adequada para aquela pessoa, pois em alguns pacientes as doses precisam ser bem
mais altas do que em outros. Tudo isso precisa ser avaliado e, infelizmente,
pode levar um tempo até chegarmos ao tratamento ideal”, elucidou.
Outro ponto relevante para evitar
convulsões é fugir de algumas condições que podem estimular a recorrência como:
ingestão de bebida alcoólica ou qualquer tipo de droga, medicamentos não
autorizados pelo médico, mudança no padrão de sono, lugares com luzes piscando
e às vezes até a prática de alguns exercícios físicos que alteram a frequência
respiratória
Depois de avaliar todos esses pontos e
confirmar que o tratamento não conseguiu impedir o surgimento das convulsões,
pode-se concluir que a pessoa sofre com epilepsia refratária. Então, assim que
diagnosticada, o médico tem que ir ajustando os medicamentos anticonvulsivantes
de acordo com a resposta do paciente e verificar outras alternativas de
tratamentos como dieta cetogênica e cirurgias, dentre elas a estimulação do
Nervo Vago (VNS). Tudo com o objetivo de proporcionar uma melhor qualidade de
vida para o paciente, mais saudável e segura.
Dra. Natália Longo – médica neurologista e
neurofisiologista graduada em medicina pela Universidade Federal do Pará.
Residência médica de neurologia clínica na Santa Casa de São Paulo. Título
de especialista em Neurofisiologia pela Sociedade Brasileira de
Neurofisiologia Clínica (SBNC). Fellowship no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) em neurofisiologia
com ênfase em epilepsia, eletroencefalograma e videoeletroencefalograma.
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