Romance original usa casa para narrar abuso sexual ao estilo do realismo mágico
A escritora Denise Emmer encontrou uma forma original de contar a história de Amiudinha, protagonista de O barulho do fim do mundo (Ed. Bertrand Brasil). A menina que vive com a mãe sanguessuga e o padrasto abusador cria um universo particular e poético para suportar a vivência. A moradia de 200 anos se torna uma aliada de Amiudinha e começa a ruir, o que se torna evidente a cada abertura de capítulo.
Denise
entrega aos leitores uma narrativa que mescla o imaginário e o real, uma trama
de fantasia e horror tecida com seu lirismo de poeta, sua musicalidade de
violoncelista e sua perspectiva cósmica de física. Na trama narrada por uma
casa com vida própria, conhecemos uma mãe cruel, um padrasto abusador e uma
menina vítima dos dois. Amiudinha, obrigada a trabalhar e servir, tratada como
uma escravizada para que lhe permitissem usufruir de teto e comida.
Abandonada
pelo pai ainda bebê — pelo simples fato de nascer mulher — cresceu sem saber o
que era o amor materno, não teve uma mãe, apenas uma sanguessuga que a
explorava nos trabalhos domésticos. A casa é tudo que ela conhece e sua grande
companheira e aliada. E, pela menina, a casa é capaz de tudo.
“Minhas
chaminés, quase mortas e encardidas, faziam-nos cansar e tossir. Tossir.
Tossir. E era nessa hora que os quartos sacudiam. As lâmpadas queimavam e as
cortinas ventavam como saias. Dos telhados, caíam telhas avermelhadas qual
hemoptises do tuberculoso que morou em mim. Não seria a sua bactéria ainda a
circular por meus ares, mas outra, nova, avassaladora, advinda dos hábitos
insalubres e repugnantes dos meus habitantes de agora. Sem a criada Miúda,
filha e escravizada, comiam o que se arrastasse nos chãos mais imundos”, relata
a casa-narradora.
Completamente
sozinha e desamparada, tendo sido vítima de uma violência sexual, não tinha a
quem recorrer, não tinha a quem pedir socorro. Da sensação de quase morte e
tentando fugir da dor que sentia, Amiudinha adormeceu e de seu sonho um cão
ganhou vida, um devoto animal surgirá da desesperança. Enorme e iluminado, o
cão Lanterna tornou-se real, destinado a proteger e guardar a integridade da
menina.
Foi
há quatro anos que a autora começou O barulho do fim do mundo e parte do
romance foi escrita durante a pandemia. A obra explora temas como solidão,
abandono e falta de ar e de socorro. “Para escrever O barulho do fim do mundo,
decerto, arrisquei-me, não só na solidão do vazio cósmico, como na escuridão
das moléstias, no submundo dos carrascos, e na desvalorização da vida”, Denise
Emmer.
Sobre a autora:
Denise
Emmer tem graduação em física e em música, é poeta e romancista reconhecida com
diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Alceu Amoroso Lima
Poesia e Liberdade, APCA, José Martí (Unesco), Pen Clube do Brasil, Prêmio ABL
de Poesia e Prêmio Olavo Bilac (ABL). Publicou 23 livros ao longo de sua
trajetória literária, e seus poemas estão em antologias dos Estados Unidos, da
Espanha, da Itália e da Turquia.
O BARULHO DO FIM DO MUNDO
Denise
Emmer
168
págs. | R$ 54,90
Ed. Bertrand Brasil| Grupo Editorial Record
Nenhum comentário