EXPOSIÇÃO ‘LINHAS QUE FALAM’ REÚNE PINTURAS DE PESSOAS IDOSAS E CRIANÇAS
Com incentivo da Lei
Rouanet, a mostra faz parte do amplo projeto ‘Arte não tem idade’ e tem como um
de seus principais objetivos o encontro entre gerações
Oficinas do projeto ‘Arte não
tem idade – Compartilhando histórias através das artes plásticas e do encontro
intergeracional’
A partir de 2 de agosto,
cerca 200 trabalhos de artes plásticas estarão na exposição ‘Linhas que
Falam’, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP. Com os
objetivos de unir gerações e enfatizar a importância da expressão e prática
artística em todas as idades, a mostra reúne pinturas de pessoas idosas, que
moram na Casa Ondina Lobo (entidade filantrópica), e de crianças e
adolescentes de escolas públicas e privadas.
A exposição faz parte de
um amplo projeto, que teve início em março de 2022, denominado ‘Arte não tem
idade – Compartilhando histórias através das artes plásticas e do encontro
intergeracional’. Com o apoio da Lei Rouanet de incentivo à cultura, o
projeto teve mais de 70 encontros, entre oficinas temáticas de artes plásticas
e ações educativas, totalizando aproximadamente 140 horas. Envolveu 200
participantes, entre pessoas idosas, crianças, adolescentes, jovens e adultos
voluntários da Casa Ondina Lobo e empresas. A pessoa mais idosa do projeto é
Catarina Vieira, de 89 anos; e a mais nova é Lorena Giacon, de 5 anos.
“Ao longo do projeto de
expressão, todos compartilharam experiências e aprendizados e criaram juntos
trabalhos artísticos. O projeto uniu ancestralidade e contemporaneidade e teve,
entre suas características, a valorização das histórias de todos os envolvidos,
por meio das artes plásticas”, afirma Silvia Trentin, artista plástica e
coordenadora do projeto. “O nome ‘Linhas que Falam’ traduz as experiências, hoje marcadas por linhas
na face, nas mãos e no corpo. Linhas que nos mostram os aprendizados adquiridos
ao longo de nossas vidas, que quando compartilhados com outras gerações ganham
novas formas, sentidos e significados”, completa.
Adriana Horvath, diretora
voluntária de captação de recursos da Casa Ondina, evidencia que a
intergeracionalidade promove o combate ao idadismo e é uma das ações da Década
do Envelhecimento Saudável 2020-2030, da Organização Mundial de Saúde. “A
pessoa idosa necessita de mais escuta, de ser visto e respeitado. Os moradores
da Casa Ondina pedem muito por visitas”, afirma Adriana.
A exposição deixa a ALESP
no dia 11 de agosto e nos dias 18 e 19 de agosto irá para a ILPI Expo Fórum, no
Centro
de Convenções Frei Caneca. Em seguida, ainda, a mostra estará na Casa
Ondina, onde permanecerá de 21 de agosto a 18 de outubro e, além das pinturas,
inclui poesias. A expectativa é que as mostras atinjam um público de mil
pessoas.
A acessibilidade é mais um
ponto alto: as imagens da mostra terão áudio descrições. Um QR Code permitirá
que as pessoas cegas e/ou de baixa visão tenham acesso via aplicativo, no
próprio celular, a vídeos explicativos sobre o projeto, além de possibilitar a
interação entre surdos usuários de Libras. Os locais da exposição estão aptos a
receber pessoas que usam cadeira de rodas para melhor mobilidade.
As
histórias
Catarina Vieira, de 89
anos, é a pessoa mais idosa do projeto. Ao longo do processo se recordou da
exclusão de um amigo de escola na infância,
que queria representar um anjo em atividades e sua mãe lhe dizia não ser
possível por ele ser afrodescendente. Catarina pintou vários quadros com esta
temática, enfatizando que “os anjos podem sim ser pretos, que não existe
diferença alguma”.
No processo, ela falou
sobre a relevância de pintar como uma forma de ajudá-la a sair da depressão
devido à morte precoce de seu único filho. Em suas palavras: “Eu recomendo a
pintura, que me ajudou com a autoestima. Quando eu cheguei na Casa Ondina me
sentia velha, caindo aos pedaços. Agora me sinto jovem, estou convencida e
ninguém me segura”. Catarina também pintou girassóis, que adora.
Arthur Mariano, de 10
anos, como fruto da interação com Catarina, pintou muitos girassóis e criou uma
cidade com elementos que ela mencionou, relacionados a seus sonhos. “Para mim
foi muito legal ter ouvido, enquanto a gente pintava, as histórias da vovó
Catarina, seus sonhos maravilhosos e interessantes. Me fez mergulhar em minha
imaginação. Eu amei ter ido no asilo e feito essa atividade com os idosos”,
conta Arthur Mariano.
Catarina Vieira, 89 anos e sua
pintura: anjo preto
Já Nelson Malvão, 74 anos, um
apreciador da espiritualidade, narra suas experiências de quase morte e
enfatiza a importância da fé. Diz que a arte é trabalhar a alma e o espírito.
Produziu vários quadros com o tema de Jesus. Nelson está entre os moradores que
compõem letras de música de samba. Uma delas, que fala sobre a importância dos
estudos, cantou durante o projeto para as crianças. “Com a pintura melhorei a
fadiga e a ansiedade. A pintura é uma oração e as crianças alegram o coração da
gente”.
Maria Eduarda Kurihara, 11
anos, se inspirou na música e nas pinturas de Nelson para fazer seu desenho. E
na memória dela ficou muito presente o conselho dele para as crianças ao que
ela repete: “estudem muito, não deixarem escapar oportunidades”. Ela explica,
“porque quando ele era jovem não fez isso e se arrependeu muito. Por isso agora
ele influencia as crianças a fazerem”.
Lorena Giacon, de 5 anos,
a criança mais nova do projeto, demonstra sua alegria: “Eu gostei muito de
participar das atividades com os vovôzinhos e as vovózinhas. Beijão”, diz
sorridente.
Pilares do projeto
O projeto teve três temas
que nortearam as oficinas e ações educativas:
Identidade - o objetivo foi
valorizar a identidade, as características de cada uma das pessoas envolvidas
no projeto, conhecendo suas preferências e histórias. Todos produziram imagens
que remetem ao significado de como eles se vêem, do que os inspira, das
sensações que sentiram e/ou das emoções e reflexões vividas nestes encontros.
Sonhos - a ideia foi valorizar
os sonhos e fantasias, além das experiências das pessoas idosas,
correlacionadas a metas pessoais, profissionais, relacionamentos, conquistas
e/ou desejos pintados por crianças e jovens. E assim, levar a imaginação por
meio de pinturas.
Ressignificação - os envolvidos
fizeram releituras dos trabalhos de algumas das pessoas idosas para
ressignificar, olhar novamente, atribuir um novo sentido que sirva no presente
para projeções no futuro, que moldaram as produções das crianças.
Um exemplo de uma das
dinâmicas iniciais do projeto, foi a apresentação aos participantes de um jogo
de cartas com imagens de artistas famosos como Van Gogh, Picasso, Monet, Dali,
para a reflexão sobre as criações dos artistas que começaram se inspirando em
elementos da natureza. A partir disso, tiveram início as produções. “As
inspirações foram os elementos comuns para o resgate da confiança e da
imaginação, muitas vezes perdida, provavelmente, na infância, devido ao
julgamento do outro ou de si próprio”, conta Silvia.
“Desenhar e pintar é
importante independentemente da idade, pois estimula a criatividade, promove o
desenvolvimento cognitivo, ajuda na expressão emocional, proporciona terapia e
bem-estar, promove a socialização e a conexão, e preserva a identidade e a
história pessoal. Ela é uma atividade enriquecedora que traz benefícios
físicos, emocionais, cognitivos e sociais para todas as faixas etárias”,
explica.
As crianças que
participaram do projeto são das escolas públicas e particulares: Rizzini,
Magister, Aquarela, Santa Maria, Anglo, Lorenço Castanho, Poly Master, Be.Byte.
O projeto tem patrocínio
do Banco Pan, com apoio do Ministério
da Cultura. Conta com parcerias das empresas Cisco, Pfizer, Bloomberg; e das
escolas Magister, Be.Byte e Contraste Artes, além da ALESP.
Sobre Silvia Trentin: professora Dra.
pesquisadora em processos cognitivos e ambientes digitais e arte educadora.
Formada em Artes Plásticas pela Universidade de Passo Fundo no RS, com
pós-graduação em processos criativos, no Senac – POA/RS, Mestrado e Doutorado
em Tecnologia da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP.
Casa Ondina Lobo – fundada em 1950, é uma instituição sem fins lucrativos de longa
permanência para pessoas idosas. Entidade filantrópica, criada por um grupo de
amigos e familiares por orientação de sua patrona, Ondina Lobo (1885-1942), que
indicava a necessidade de uma instituição para acolher idosos sem recursos. Sua
missão é atender gratuitamente e de
forma integral, pessoas idosas sem recursos, de ambos os sexos, sem distinção
de cor, raça ou religião, possibilitando que a terceira idade seja vivida com
dignidade, qualidade de vida e bem-estar, por meio de sua integração social.
Serviço Mostra:
ALESP – de 2 a 11 de
agosto
Palácio 9 de Julho -
Av. Pedro Álvares Cabral, 201 - Moema, São Paulo – SP
Abertura dia 2/8, das
17:00 às 20:00
Visitação
de segunda a sexta-feira --
das 10h00 às 18h00
ILPI Expo Fórum - dias 18 e 19/08
Centro de Convenções Frei Caneca
Rua
Frei Caneca, 569, Bela Vista, São Paulo
18/08
(8h às 19h) e 19/08 (das 9h às 18h)
Casa
Ondina Lobo – de 21/8 a 18/10
R. Regina Badra, 471
- Jardim dos Estados, São Paulo - SP, 04641-000
Horários
de ambos os locais:
de terça a sábado, das 10h00 às 12h00, e das 14h00 às
18h00
Os
grupos poderão agendar pelo telefone (11) 99411-5287 e mais informações pelo
site: https://www.ondinalobo.org.br/artenaotemidade
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