Política industrial baseada em missões
José Velloso*
É louvável que o
Governo Federal tenha reativado o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Industrial (CNDI), grupo vinculado à Presidência da República, que não se
reunia há 7 anos. O CNDI será responsável por debater e elaborar a nova
política industrial para o Brasil e, já na primeira reunião de seu Comitê
Executivo, definiu 7 missões para política industrial.
Também é louvável saber
que “a indústria será o fio condutor de uma política econômica voltada para a
geração de renda e de empregos mais intensivos em conhecimento” como dizem o
Presidente Lula e o Vice Presidente Alckmin, no artigo “Neoindustrialização
para o Brasil que queremos” recentemente publicado no jornal O Estado de São
Paulo, já que a situação da indústria brasileira há décadas preocupa.
Em 1985, a indústria de
transformação representava 35,9% do PIB e hoje apenas 12,9%. Por si só este
quadro seria motivo de preocupação, mas trouxe consigo a perda de importância
de bens de média-alta e alta intensidade tecnológica na sua estrutura e o
encolhimento do seu nível de produtividade. Dados da FGV mostram que entre 1995
e 2022 o desempenho da produtividade da indústria de transformação foi negativo
em 0,9%.
Os impactos deste
processo na economia brasileira foram duramente sentidos nas últimas crises
internacionais. A ausência de cadeias bem estruturadas para a produção de bens
estratégicos como medicamentos, equipamentos hospitalares, fertilizantes,
componentes eletroeletrônicos entre outros, aprofundaram a crise ao impedir o
pleno abastecimento do mercado produtor e consumidor.
Essa falha no mercado,
provocada pelo aumento da dependência de um único ou principal fornecedor
internacional, mostrou a fragilidade das cadeias de suprimentos. Ocorreu não só
no Brasil e provocou uma onda de reavaliação das estratégias nas principais
economias, trazendo novamente a importância da Política Industrial desta vez
focada em ações que pretendem mudar o futuro da indústria e o seu
desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Neste contexto,
o CNDI ao estabelecer as missões e desafios a serem enfrentados pela
neoindustrialização, colocou o Brasil em alinhamento com as nações que vêm
aderindo a essa tendência. É necessário priorizar o desenvolvimento de
instrumentos e políticas públicas que garantirão as oportunidades e desafios aos
investimentos e expansão de fronteiras tecnológicas.
Estas políticas
precisam de ação contínua, dispor de um sistema robusto de acompanhamento e de
avaliação de desempenho em horizontes de médio e longo prazo visando permitir,
sempre que necessário, adequações aos objetivos propostos. Precisam ter tempo
para começar e para terminar e metas quantificáveis para serem atingidas.
A Política Industrial,
se integrada à Política de Comércio Exterior, bem como à Política
Macroeconômica de forma estratégica e objetiva, contribuirá de forma mais
assertiva ao desenvolvimento da economia nacional, focado no processo de
mudança tecnológica, inclusão social, e nas preocupações relacionadas aos
efeitos da mudança climática.
Se focada
adicionalmente na eliminação das assimetrias que tiram a competitividade da
indústria nacional, que passa pela resolução dos problemas estruturais que
resultam no “Custo Brasil”, abrirá espaço para desarmar a armadilha da renda
média que prende o país na categoria de “em desenvolvimento” há décadas.
As missões estratégicas
definidas para serem percorridas tem o potencial de desenvolver e transbordar
conhecimento por toda a cadeia de valor a ela relacionada, na direção das
necessidades do país.
Também tem o potencial
de impulsionar, no país, a pesquisa, desenvolvimento e engenharia de produto e
processo, modernizando e ampliando a complexidade do parque industrial,
incluindo a integração com serviços sofisticados. Todas as missões precisam
caminhar para o domínio de rotas tecnológicas estratégicas e, adicionalmente,
ganhos de produtividade, contando com aumento do estoque de capital por
trabalhador, que é historicamente baixo, e de competitividade. Tudo isso
refletirá certamente em aumento na participação da indústria no PIB, mas,
principalmente, no crescimento econômico.
As 7 missões, tendo a
indústria como foco e abrangendo áreas onde temos vantagens comparativas, são
um bom caminho para juntos trilharmos, setor privado e público, num pacto pela
produtividade e pelo tão sonhado desenvolvimento com inovação, sustentabilidade
e inclusão social.
*José Velloso é engenheiro mecânico, administrador de empresas e presidente executivo da ABIMAQ
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