O novo código da liderança: por que o comportamento se tornou o maior ativo das empresas de tecnologia?
Enquanto o mercado corre para treinar máquinas, algumas companhias perceberam que o verdadeiro diferencial competitivo está em desenvolver pessoas.
Em um momento em que a inteligência artificial avança sobre quase todas as funções humanas, um paradoxo começa a emergir: quanto mais as empresas automatizam, mais dependem de comportamentos que as máquinas não conseguem replicar: escuta, transparência, discernimento e empatia.
É nesse vácuo entre algoritmo e humanidade que algumas organizações estão reescrevendo seus códigos culturais. Uma delas é a Verity, consultoria brasileira especializada em tecnologia e transformação digital, que decidiu fazer um experimento inusitado: aplicar à gestão de pessoas a mesma lógica de desenvolvimento que aplica à engenharia: ciclos iterativos, aprendizado contínuo e feedback imediato.
Esse movimento faz parte de um novo momento estratégico da companhia, guiado por um conjunto de princípios que redefinem a forma de liderar e crescer: Growth, Ownership, Agility, Leadership e Stability. Esses cinco eixos formam a base de uma cultura que busca unir consistência, propósito e perenidade.
Na prática, significam crescimento sustentável, protagonismo, velocidade com excelência, liderança inspiradora e estabilidade organizacional. Ou, como resume a própria Verity: crescer com consistência, liderar com propósito e ser reconhecida pela confiança, performance e felicidade das pessoas que constroem e acreditam na empresa.
Durante o mês de setembro, a companhia promoveu uma imersão chamada Jornada de Líderes Verity, conduzida por Alexandro Barsi, fundador e CEO, com a participação de Daniela Santos, gerente de Gente e Cultura. O programa se dividiu em quatro capítulos: Atitude que Abre Caminhos, Confiança que Une Pessoas, Transparência que Gera Segurança e Orgulho de Ser Verity. E funcionou menos como um treinamento e mais como um laboratório de cultura.
A proposta era simples e radical: substituir discursos genéricos de liderança por rituais de comportamento observável.
O primeiro eixo, Atitude que Abre Caminhos, partiu de uma pergunta provocadora: o que realmente cria autoridade em um ambiente técnico? A resposta passa por algo menos tangível do que o domínio de ferramentas: a coerência entre fala, postura e entrega.
Em vez de ensinar liderança como uma hierarquia de controle, o programa tratou a atitude como infraestrutura da credibilidade, um sistema composto de quatro elementos que definem a confiabilidade de um profissional: comunicação clara, respeito, disciplina e proatividade.
Esses atributos foram traduzidos em práticas concretas, como a validação de entendimento ao final de cada reunião, a criação de checklists de acompanhamento e a antecipação de riscos com sugestões de solução. “É um código de conduta que transforma a cultura em linguagem operacional”, resume Daniela Santos, Gerente de Gente e Cultura da Verity.
O segundo capítulo, Confiança que Une Pessoas, trouxe uma discussão estrutural: em organizações distribuídas, como construir lealdade sem proximidade física?
A confiança é o sistema operacional invisível que conecta pares, liderados e líderes. Ela nasce de pequenas decisões diárias: não omitir informações, praticar escuta ativa, dividir vitórias coletivamente e delegar com segurança.
No lugar de palestras sobre motivação, o grupo participou de exercícios de alinhamento entre áreas, simulando situações de tensão, negociação e comunicação de risco. O objetivo era experimentar, na prática, a mecânica da confiança: previsibilidade + vulnerabilidade compartilhada = coesão.
“O futuro da liderança não é o carisma, é a coerência”, diz Alexandro Barsi, Fundador e CEO da Verity. “A confiança deixou de ser atributo emocional e se tornou infraestrutura estratégica. Sem ela, nenhuma tecnologia de colaboração funciona.”
O terceiro módulo, Transparência que Gera Segurança, atacou um ponto cego das organizações digitais: a ansiedade provocada pela falta de clareza.
Ao ensinar líderes a comunicar riscos com antecedência, admitir falhas e documentar aprendizados, o programa reposicionou o erro como dado, não como fracasso. Métricas, nesse contexto, foram redefinidas como instrumentos de proteção, não de punição. Uma visão que aproxima o RH da engenharia: medir não para vigiar, mas para garantir estabilidade de sistema.
Por trás da Jornada de Líderes há um raciocínio sistêmico: cultura é uma tecnologia social. Ela não está nas campanhas de endomarketing, mas na lógica invisível que orienta decisões, prioridades e conversas.
“Em empresas digitais, a liderança é a interface entre o humano e o sistema. Se essa interface falha, todo o resto degrada”, explica Barsi. “A cultura não é o oposto da tecnologia. Ela é o software que garante que o código técnico rode sem ruído.”
A experiência da Verity reforça uma tese emergente entre especialistas: o futuro da gestão será comportamental, ou não será. À medida que a automação avança, o diferencial não estará em quem sabe operar sistemas, mas em quem sabe construir relações de confiança em ambientes mediados por sistemas.
“O maior risco da automação não é a substituição de pessoas por máquinas, mas de comportamentos humanos por protocolos frios. E o antídoto para isso é a liderança que combina empatia com precisão, vulnerabilidade com clareza, tecnologia com propósito”, finaliza Barsi.
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